São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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FUTEBOL

Meninas vencem e PT amarela

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Sinceramente, não vai aqui nenhum machismo, mas confesso que não me incluo entre os fãs do futebol feminino. É que a "linguagem" futebolística alcançou tais culminâncias nos pés masculinos, os criadores do esporte, que tenho a sensação de que nos femininos o jogo está quase sempre abaixo do que poderia ser. Mesmo assim, não há como deixar de comemorar o desempenho das moças brasileiras nesta Olimpíada.
A vitória de ontem na partida contra a Suécia foi sem dúvida nenhuma um grande feito. No mesmo dia em que Daiane dos Santos não confirmou seu favoritismo e o vôlei masculino perdeu para os EUA, a conquista do futebol feminino brasileiro, que já assegurou uma medalha de prata, foi o que de melhor aconteceu.
Para tornar o feito ainda mais significativo, diga-se que a modalidade no Brasil vive ao abandono. Foi, portanto, no sentido mais profundo, uma verdadeira vitória olímpica, que se deve aos esforços do time e a seu treinador, Renê Simões, que parece estar conseguindo extrair do elenco uma dose extra de determinação.
 
Eu também fiquei comovido com a festa haitiana para a seleção brasileira. Foi mesmo muito bacana e emocionante. E é aí que mora o perigo, ou seja, a razão pela qual o esporte é extremamente útil para a política. Ele dissipa tudo em favor da emoção, que se instala soberana. Não que o objetivo político do governo brasileiro com esse jogo tenha sido sórdido -mas poderia ser. A propósito, é sintomático que o presidente norte-americano, George W. Bush, tenha usado a boa campanha do ""soccer" iraquiano na Olimpíada em sua propaganda eleitoral.
 
Já se sabe muito bem o que o futebol pode fazer pela política. Seria bom saber agora o que a política do governo Lula pode fazer pelo futebol. Até aqui, tivemos a aprovação da chamada Lei de Moralização e do Estatuto do Torcedor que, convenhamos, foram produzidos ao apagar das luzes da gestão anterior.
Além disso, apesar de sancionadas com pompa e circunstância logo no início da administração petista, as referidas leis não parecem despertar entusiasmo do representante do governo no setor, o ministro Agnelo Queiroz. Agora já se noticia que a partida da seleção brasileira em São Paulo poderia ter alguma utilidade política na campanha municipal.
O que se esperava do novo governo era uma verdadeira cruzada contra a corrupção e a gestão temerária (para dizer o mínimo) que imperam no futebol brasileiro. Infelizmente, até aqui, o PT, que sempre encheu a bola da ética e da moralização, está amarelando. Ao que tudo indica, já afinou para a CBF e vai entrando no velho joguinho que conhecemos: faz média com a cartolagem e não entra em dividida. Por que o governo não propõe um conselho de verdade para fiscalizar o futebol em vez da imprensa?

Palmeiras
Não há nada demais nesse time do Palmeiras, como não há na maioria dos times brasileiros. Mas está se mostrando o mais competitivo depois do Santos, inegavelmente o melhor do campeonato. Errou muito na defesa contra o Vitória, mas arrumou uma maneira de sair com um empate que ninguém mais esperava ser possível.

Fla-Flu
Parece piada o troca-troca de técnicos entre Flamengo e Fluminense. Os clubes do Rio, em especial Fluminense, Flamengo e Vasco, bem que poderiam estar melhor nesse campeonato tão nivelado em termos técnicos. Parece faltar o que os jogadores, técnicos e comentaristas chamam de "estrutura" -um mínimo a mais de profissionalismo, seriedade e exigência.

E-mail mag@folhasp.com.br


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