São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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FUTEBOL

Discussões táticas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Sei que poucos gostam e procuram entender, mas como comentarista preciso falar também de detalhes táticos.
Além do equilíbrio na disputa pelo título, outra característica do Brasileiro é ter muitos times jogando com três autênticos zagueiros. Enquanto isso, a seleção brasileira, as principais seleções e times da Europa e a Argentina jogam hoje com dois zagueiros.
Muitos anos atrás, quase todos os times brasileiros atuavam com dois zagueiros, e os da Europa, com três. Trocaram de esquema tático.
Antes, no esquema com três zagueiros, como os alas europeus eram marcadores e não tinham habilidade ofensiva, havia cinco defensores, além de dois volantes. As equipes mudaram para o 4-4-2 e continuaram defensivas, pois são quatro zagueiros. Os laterais apóiam pouco.
Em compensação, não há na Europa o volante mais recuado, que atua à frente ou entre os zagueiros, quase como um terceiro zagueiro. Esse volante foi uma invenção brasileira para liberar os laterais quando os times jogavam com dois zagueiros.
A seleção brasileira, a da Argentina e algumas equipes atuais do Brasil, além de dois zagueiros, dois laterais que apóiam e dois volantes que marcam no meio-campo, jogam com dois meias e dois atacantes. São bastante ofensivas. Com essa formação, um dos volantes não deveria marcar muito atrás, como gostam alguns técnicos, pois o outro fica sozinho no meio-campo.
Pelo fato de a seleção ter dois zagueiros, não se pode exigir que Cafu e Roberto Carlos cheguem com muita freqüência ao ataque. Os dois são laterais.
Contra a Argentina, Cicinho não tinha a quem marcar e contava com um enorme espaço para avançar. Ele deitou e rolou. Porém, contra o México, foram os mexicanos que fizeram a festa nas suas costas. Cicinho tem de saber o momento certo de atacar como ala e o de marcar mais atrás, como lateral.
Em partidas como a contra a Argentina, Cicinho poderá ser mais eficiente do que Cafu. O lateral do São Paulo é mais jovem e tem mais habilidade para avançar pelo lado, pelo meio e fazer gols.
Volto aos times brasileiros. Gosto mais do esquema com dois zagueiros e dois laterais, mas os técnicos aprenderam a jogar com três zagueiros e no ataque.
Alguns alas têm feito muitos gols. Eles têm a mesma função e jogam na mesma posição dos meias no esquema 4-4-2. Por isso, estão sempre próximos da outra área e precisam também fazer gols. Surpresa seria se um lateral fosse artilheiro.
Na média, os técnicos brasileiros são mais criativos e melhores do que os da Europa, apesar dos gritos, das reclamações e da violência verbal na lateral do campo. Isso tem de acabar. Além de não ser permitido, é um comportamento chato e improdutivo.

Opções táticas
Uma das opções para o Abel aproveitar bem o Felipe e o Petkovic é tirar o terceiro zagueiro. O time jogaria com dois zagueiros, dois laterais, três no meio-campo (um volante mais recuado pelo meio, um armador pela direita e o Felipe pela esquerda) e mais o Petkovic na ligação com os dois atacantes.
Se o Abel mantiver os três zagueiros, o que é mais provável, Felipe terá de jogar no ataque ou de segundo volante. Prefiro essa opção. No ataque, ele segura demais a bola de costas para o gol e tira a velocidade da equipe. Com os três zagueiros e outro volante marcador, Felipe, de volante, poderá avançar mais e ser até mais brilhante, pois será menos marcado.
Como volante, Felipe poderá utilizar mais uma de suas principais qualidades, que é o passe para frente e entre os zagueiros. Raros volantes, em todo o mundo, fazem isso.

Corintianismo
Dizer que o Tevez é estrela solitária do futebol brasileiro após a saída do Robinho é uma mistura de bairrismo, de corintianismo e de desconhecimento. Tevez é um excelente jogador, mas há outros do mesmo nível, como Fred, Ricardinho, Giovanni, Roger, Mascherano, Rogério Ceni, Marcos, Cicinho e Felipe.
Na Argentina, que não tem um único craque no ataque, Tevez nem tem sido convocado para a reserva, o que também não acho correto. Já Mascherano é titular da seleção. Fred tem mais chance de se tornar um craque mundial do que Tevez.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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