São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Luxemburgo pede desculpas e pede para ficar até a Copa

Técnico assume a culpa pelo fracasso na busca do inédito ouro olímpico e vê o fato como uma falha no projeto que prevê o título do Mundial-2002
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BRISBANE

Enquanto os seus jogadores desabavam chorando no gramado do Brisbane Cricket Ground após a derrota para Camarões, Wanderley Luxemburgo saiu sozinho do campo. Não falou com ninguém, não consolou ninguém.
Tinha os olhos vermelhos quando chegou à sala de entrevistas do estádio. Como de costume, antes das perguntas, pegou o microfone para falar. Sua voz estava rouca.
"Quero dizer que 180 milhões de brasileiros e eu estamos tristes. Como comandante da comissão técnica, assumo as responsabilidades pelo que aconteceu no jogo. Queria pedir desculpas ao povo brasileiro por não ter dado a medalha que ele tanto esperava. É a vida que continua."
A última frase do treinador da seleção antes de ser aberta a sessão de perguntas soaria irônica, se não fosse, ao menos para o próprio Luxemburgo, trágica.
Autuado por sonegação de impostos, suspeito de falsificar documentos e comandando uma seleção principal com atuações irregulares, o técnico viu ruir ontem a única possibilidade de se manter no cargo -a conquista da medalha de ouro com o time olímpico, um primor de eficiência até chegar à Austrália para os Jogos.
Mas, ainda assim, Luxemburgo falou após o fiasco como se estivesse garantido no emprego.
"A minha função como técnico da seleção brasileira tem um projeto. E o próximo passo dele é a Copa do Mundo de 2002. A Olimpíada era uma das etapas. Tenho que continuar trabalhando e esperar o dia 3, quando vamos nos apresentar para o jogo contra a Venezuela (pelas eliminatórias). A informação que posso passar é essa. Não tenho mais nenhuma outra. A análise do trabalho fica a cargo de doutor Ricardo."
Sendo que "doutor Ricardo", o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, não apareceu para fazer a tal análise. Não cumpriu a promessa que fizera ao chegar à Austrália, de conceder entrevistas só ao final da participação olímpica da seleção brasileira. Mas Teixeira, que viu o jogo das tribunas do Brisbane Cricket Ground, sumiu logo em seguida.
O funcionário que, pela hierarquia, poderia dizer alguma coisa, também não disse.
Marcos Moura Teixeira, coordenador técnico da seleção e primo de Ricardo Teixeira, o homem da CBF na comissão técnica da equipe, foi outro a se esquivar.
"Não vou falar nada do Ricardo. Só falo de administração, planejamento de viagens, o que me diz respeito", afirmou ele.
Ricardo Teixeira não está hospedado no mesmo hotel da seleção em Gold Coast, onde o Brasil se preparou para a Olimpíada. Optou por outro, ainda mais luxuoso e de onde pouco saiu.
Por mais que goste de Luxemburgo e tenha tentado ao máximo preservar o treinador, é bastante improvável que Teixeira aguente a pressão popular pela demissão.
Caso se confirme a queda de Luxemburgo, toda a comissão técnica, formada por profissionais de confiança dele, deverá sair.
O mais cotado para o posto é o técnico do Atlético-MG, Carlos Alberto Parreira, que comandou a seleção campeã na Copa-94.
Parreira disse ontem que a seleção brasileira passa por um ""momento delicado", mas negou ser candidato ao cargo de Luxemburgo. ""Lamento a derrota, ela leva a uma reflexão sobre os resultados fracos, mas não cabe a mim analisar o que aconteceu."
Parreira negou ter sido sondado pela CBF para reassumir a seleção. ""O cargo é de confiança do presidente da CBF. Hoje, o técnico é o Luxemburgo. Não fui procurado por ninguém sobre o assunto", declarou, em Recife, onde o Atlético-MG pega hoje o Santa Cruz pela Copa JH.
E completou: ""Não faz parte do meu projeto voltar para a seleção. Não sou candidato a técnico, estou feliz no Atlético".


Colaborou Fábio Guibu, da Agência Folha, em Recife



Texto Anterior: Futebol: Tchau!
Próximo Texto: Técnico lamenta vitória anulada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.