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FUTEBOL
Luxemburgo pede desculpas e pede para ficar até a Copa
Técnico assume a culpa pelo fracasso na busca do inédito ouro olímpico e vê o fato como uma falha no projeto que prevê o título do Mundial-2002
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BRISBANE
Enquanto os seus jogadores desabavam chorando no gramado
do Brisbane Cricket Ground após
a derrota para Camarões, Wanderley Luxemburgo saiu sozinho
do campo. Não falou com ninguém, não consolou ninguém.
Tinha os olhos vermelhos quando chegou à sala de entrevistas do
estádio. Como de costume, antes
das perguntas, pegou o microfone
para falar. Sua voz estava rouca.
"Quero dizer que 180 milhões
de brasileiros e eu estamos tristes.
Como comandante da comissão
técnica, assumo as responsabilidades pelo que aconteceu no jogo.
Queria pedir desculpas ao povo
brasileiro por não ter dado a medalha que ele tanto esperava. É a
vida que continua."
A última frase do treinador da
seleção antes de ser aberta a sessão de perguntas soaria irônica, se
não fosse, ao menos para o próprio Luxemburgo, trágica.
Autuado por sonegação de impostos, suspeito de falsificar documentos e comandando uma seleção principal com atuações irregulares, o técnico viu ruir ontem a
única possibilidade de se manter
no cargo -a conquista da medalha de ouro com o time olímpico,
um primor de eficiência até chegar à Austrália para os Jogos.
Mas, ainda assim, Luxemburgo
falou após o fiasco como se estivesse garantido no emprego.
"A minha função como técnico
da seleção brasileira tem um projeto. E o próximo passo dele é a
Copa do Mundo de 2002. A Olimpíada era uma das etapas. Tenho
que continuar trabalhando e esperar o dia 3, quando vamos nos
apresentar para o jogo contra a
Venezuela (pelas eliminatórias).
A informação que posso passar é
essa. Não tenho mais nenhuma
outra. A análise do trabalho fica a
cargo de doutor Ricardo."
Sendo que "doutor Ricardo", o
presidente da CBF, Ricardo Teixeira, não apareceu para fazer a
tal análise. Não cumpriu a promessa que fizera ao chegar à Austrália, de conceder entrevistas só
ao final da participação olímpica
da seleção brasileira. Mas Teixeira, que viu o jogo das tribunas do
Brisbane Cricket Ground, sumiu
logo em seguida.
O funcionário que, pela hierarquia, poderia dizer alguma coisa,
também não disse.
Marcos Moura Teixeira, coordenador técnico da seleção e primo de Ricardo Teixeira, o homem
da CBF na comissão técnica da
equipe, foi outro a se esquivar.
"Não vou falar nada do Ricardo.
Só falo de administração, planejamento de viagens, o que me diz
respeito", afirmou ele.
Ricardo Teixeira não está hospedado no mesmo hotel da seleção em Gold Coast, onde o Brasil
se preparou para a Olimpíada.
Optou por outro, ainda mais luxuoso e de onde pouco saiu.
Por mais que goste de Luxemburgo e tenha tentado ao máximo
preservar o treinador, é bastante
improvável que Teixeira aguente
a pressão popular pela demissão.
Caso se confirme a queda de Luxemburgo, toda a comissão técnica, formada por profissionais de
confiança dele, deverá sair.
O mais cotado para o posto é o
técnico do Atlético-MG, Carlos
Alberto Parreira, que comandou a
seleção campeã na Copa-94.
Parreira disse ontem que a seleção brasileira passa por um ""momento delicado", mas negou ser
candidato ao cargo de Luxemburgo. ""Lamento a derrota, ela leva a
uma reflexão sobre os resultados
fracos, mas não cabe a mim analisar o que aconteceu."
Parreira negou ter sido sondado
pela CBF para reassumir a seleção. ""O cargo é de confiança do
presidente da CBF. Hoje, o técnico é o Luxemburgo. Não fui procurado por ninguém sobre o assunto", declarou, em Recife, onde
o Atlético-MG pega hoje o Santa
Cruz pela Copa JH.
E completou: ""Não faz parte do
meu projeto voltar para a seleção.
Não sou candidato a técnico, estou feliz no Atlético".
Colaborou Fábio Guibu, da Agência
Folha, em Recife
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