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Inferno astral do treinador contagia jogadores
DO ENVIADO A BRISBANE
Por mais que Wanderley Luxemburgo tenha tentado isolar a
seleção olímpica de seus problemas pessoais e evitado comparar
o time sub-23 com o principal, é
impossível analisar o fracasso
brasileiro no futebol sem associá-lo a esses dois fatores.
Até chegar à Austrália, a equipe
olímpica era um sucesso. Havia
jogado 16 vezes, vencendo 12 e
empatando 4. Tinha a ótima média de 3,75 gols marcados por partida. Bem diferente da seleção
principal nas eliminatórias, cuja
campanha desenha a trajetória de
uma montanha-russa, a derrocada do time olímpico só começou
em solo australiano.
Quando Luxemburgo chegou a
Gold Coast, o consultor técnico
Candinho já estava no local com a
maior parte dos jogadores havia
uma semana. O treinador titular
trouxe consigo na bagagem autuações por sonegação de imposto de renda, suspeitas sobre falsificação de documentos para alterar sua idade e a hostilidade popular pela exclusão do atacante
Romário da Olimpíada.
Atraiu, assim, a atenção da mídia internacional mais para suas
encrencas do que para seu time.
Por mais que se esforçasse para
disfarçar, era nítido o desconforto
de Luxemburgo. Por mais jovens
que fossem, os atletas perceberam. E esse estado de nervos do
técnico, contido enquanto o Brasil venceu, atingiu-os quando as
coisas começaram a desandar.
Dessa forma, Luxemburgo culpou o "relaxamento" do time pela
derrota para a África do Sul e, fugindo à sua característica de não
comentar individualmente o desempenho de seus jogadores, desancou publicamente a atuação
do atacante Ronaldinho, 20.
O atleta do Grêmio retrucou, dizendo que vinha jogando mal
porque estava preso ao esquema
tático de Luxemburgo, que colocava os dois atacantes, Geovanni e
ele, muito abertos pelas pontas.
Dos vários erros que cometeu, o
vaidoso Luxemburgo reconheceu
poucos. Chegou a admitir, dois
dias após a derrota para a África
do Sul, que substituiu o atacante
Geovanni pelo volante Mozart,
aos 16min do segundo tempo,
quando o jogo estava 1 a 1, para
garantir o empate. Só ontem resolveu assumir "inteira responsabilidade" pelo fracasso olímpico.
Luxemburgo também se negou
a fazer qualquer comparação entre as duas seleções que comanda,
a principal e a olímpica.
Ocorre que, se a primeira não tivesse perdido para o Chile por 3 a
0, depois de já ter sido batida pelo
Paraguai, a decisão de não levar
para a Austrália os três jogadores
acima de 23 anos a que cada seleção tinha direito não teria surgido. Ela foi imposta pela CBF à comissão técnica após esse fiasco.
Se a inclusão dos três acima de
23 mudaria o rumo das coisas na
Austrália, é uma incógnita, mas é
improvável que Romário perdesse os gols que os garotos brasileiros desperdiçaram.
(FV)
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