São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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Inferno astral do treinador contagia jogadores

DO ENVIADO A BRISBANE


Por mais que Wanderley Luxemburgo tenha tentado isolar a seleção olímpica de seus problemas pessoais e evitado comparar o time sub-23 com o principal, é impossível analisar o fracasso brasileiro no futebol sem associá-lo a esses dois fatores.
Até chegar à Austrália, a equipe olímpica era um sucesso. Havia jogado 16 vezes, vencendo 12 e empatando 4. Tinha a ótima média de 3,75 gols marcados por partida. Bem diferente da seleção principal nas eliminatórias, cuja campanha desenha a trajetória de uma montanha-russa, a derrocada do time olímpico só começou em solo australiano.
Quando Luxemburgo chegou a Gold Coast, o consultor técnico Candinho já estava no local com a maior parte dos jogadores havia uma semana. O treinador titular trouxe consigo na bagagem autuações por sonegação de imposto de renda, suspeitas sobre falsificação de documentos para alterar sua idade e a hostilidade popular pela exclusão do atacante Romário da Olimpíada.
Atraiu, assim, a atenção da mídia internacional mais para suas encrencas do que para seu time.
Por mais que se esforçasse para disfarçar, era nítido o desconforto de Luxemburgo. Por mais jovens que fossem, os atletas perceberam. E esse estado de nervos do técnico, contido enquanto o Brasil venceu, atingiu-os quando as coisas começaram a desandar.
Dessa forma, Luxemburgo culpou o "relaxamento" do time pela derrota para a África do Sul e, fugindo à sua característica de não comentar individualmente o desempenho de seus jogadores, desancou publicamente a atuação do atacante Ronaldinho, 20.
O atleta do Grêmio retrucou, dizendo que vinha jogando mal porque estava preso ao esquema tático de Luxemburgo, que colocava os dois atacantes, Geovanni e ele, muito abertos pelas pontas.
Dos vários erros que cometeu, o vaidoso Luxemburgo reconheceu poucos. Chegou a admitir, dois dias após a derrota para a África do Sul, que substituiu o atacante Geovanni pelo volante Mozart, aos 16min do segundo tempo, quando o jogo estava 1 a 1, para garantir o empate. Só ontem resolveu assumir "inteira responsabilidade" pelo fracasso olímpico.
Luxemburgo também se negou a fazer qualquer comparação entre as duas seleções que comanda, a principal e a olímpica.
Ocorre que, se a primeira não tivesse perdido para o Chile por 3 a 0, depois de já ter sido batida pelo Paraguai, a decisão de não levar para a Austrália os três jogadores acima de 23 anos a que cada seleção tinha direito não teria surgido. Ela foi imposta pela CBF à comissão técnica após esse fiasco.
Se a inclusão dos três acima de 23 mudaria o rumo das coisas na Austrália, é uma incógnita, mas é improvável que Romário perdesse os gols que os garotos brasileiros desperdiçaram. (FV)



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