São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Deuses do futebol: Sifo

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Além dos deuses e das deusas do monte sagrado, a antiguidade produziu ainda um extenso rol de personagens, uma espécie de divindades da série B. São semideuses, heróis e até mesmo interessantes seres de carne e osso, como Sísifo.
Filho de Éolo, Sísifo reinou em Corinto. Entre os feitos de sua administração, um chama a atenção em especial: o fato de ter acorrentado a Morte para que a paz e a concórdia predominassem no espírito de seus súditos.
Certa vez, precisando de água para abastecer o reino, Sísifo denunciou Júpiter, que tinha raptado Egina, filha do rio Asopo. Como castigo, foi condenado a rolar eternamente uma pedra até o alto de um monte, sendo que, quando estivesse a um passo de colocá-la no topo, a pedra rolaria montanha abaixo, obrigando-o a começar tudo de novo.
Sísifo cumpriu a tarefa por séculos. Mas um dia, cansado, pediu ao sobrinho Sifo (que alguns estudiosos grafam "Sifu") que fizesse o trabalho no seu lugar.
Sem saber o que o esperava, Sifo, filho de Aziago e Funesta, aceitou a proposta. Aí, porém, aconteceu algo curioso: ele levava a pedra até o topo do monte, mas, no último instante, esta não só rolava para baixo como passava por cima dele, deixando-o achatado como um personagem de desenho depois de ser atropelado por um rolo compressor.
Após de várias tentativas, Sifo disse para si mesmo:
- Meu tio sacaneou comigo, pois também vou sacanear com os outros (mas falou isto em grego, o que deixa tudo com mais classe).
Sifo resolveu então distribuir seu tipo específico de azar entre os humanos: o azar de quem, a um passo da glória, sofre um revés e tem que começar tudo de novo.
Os efeitos da maldição de Sifo podem ser sentidos por qualquer um de nós. Quando o leitor e a leitora, por exemplo, perdem o ônibus por alguns milésimos de segundo, é obra de Sifo. Quando numa festa alguém pega o último brigadeiro antes de você, é obra de Sifo. Quando Hélio Castro Neves lidera quase todo o campeonato da IRL, mas perde o título na última prova, é obra de Sifo.
Obviamente o futebol não escapou da maldição. Sifo ronda os centros de treinamento de alguns clubes, como o América-MG, o Vila Nova, o Goiás e o Fluminense de Feira de Santana. Mas foi em dois clubes paulistas que ele resolveu fixar sua morada.
De que outra maneira poderíamos explicar os infortúnios que a Lusa vem sofrendo há décadas? Quantas vezes o time do Canindé não esteve a ponto de conquistar um título e, no derradeiro instante, viu suas esperanças virarem pó, tendo que começar tudo outra vez do zero? Quem quiser justificar tal fenômeno com a ciência fique à vontade. Eu, por mim, tenho certeza de que isso se deve às agourentas mãos de Sifo.
Outro clube que o tem como hóspede permanente é o São Caetano, um já célebre acumulador de vices: só nos últimos dois anos foram um da Série B, dois da A e um da Taça Libertadores.
Esses dois clubes chegam até o alto do monte e, no fim, vêem a pedra rolar sobre si.
Lusa e São Caetano precisam procurar imediatamente um oráculo e tentar conter a ira desse ser. Se ficarem de braços cruzados, se continuarem tentando buscar o sentido das coisas na inútil razão, eles sabem muito bem o que vai acontecer: Sifo (ou Sifu, segundo alguns acadêmicos).

Sifo 2
Dois clubes paranaenses sofreram com Sifo no fim de semana. O Paraná quase saiu do Pacaembu com três pontos, mas voltou sem nenhum. E o Atlético-PR esteve perto de vencer o São Paulo, mas cedeu o empate no finzinho.

Urucubaco
Há pouco tempo, o Palmeiras lutava por uma vitória; passou a lutar por um empate e há dois jogos luta por um gol.

Vulcânio
O deus da recuperação vem ajudando o Paysandu, que há uma semana é dirigido por Hélio dos Anjos. Nos últimos dois jogos, fez quatro pontos.

Vulcânio 2
O Gama é outro que trocou de técnico e foi bem: Giba estreou batendo o Atlético-PR. Quinta, contra o Santos, veremos se o time está em erupção ou se a vitória sobre o atual campeão foi só fumaça.

E-mail torero@uol.com.br



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