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FUTEBOL
Deuses do futebol: Sifo
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Além dos deuses e das deusas
do monte sagrado, a antiguidade produziu ainda um extenso rol de personagens, uma espécie de divindades da série B.
São semideuses, heróis e até mesmo interessantes seres de carne e
osso, como Sísifo.
Filho de Éolo, Sísifo reinou em
Corinto. Entre os feitos de sua administração, um chama a atenção em especial: o fato de ter acorrentado a Morte para que a paz e
a concórdia predominassem no
espírito de seus súditos.
Certa vez, precisando de água
para abastecer o reino, Sísifo denunciou Júpiter, que tinha raptado Egina, filha do rio Asopo. Como castigo, foi condenado a rolar
eternamente uma pedra até o alto de um monte, sendo que, quando estivesse a um passo de colocá-la no topo, a pedra rolaria montanha abaixo, obrigando-o a começar tudo de novo.
Sísifo cumpriu a tarefa por séculos. Mas um dia, cansado, pediu ao sobrinho Sifo (que alguns
estudiosos grafam "Sifu") que fizesse o trabalho no seu lugar.
Sem saber o que o esperava, Sifo, filho de Aziago e Funesta, aceitou a proposta. Aí, porém, aconteceu algo curioso: ele levava a pedra até o topo do monte, mas, no
último instante, esta não só rolava para baixo como passava por
cima dele, deixando-o achatado
como um personagem de desenho
depois de ser atropelado por um
rolo compressor.
Após de várias tentativas, Sifo
disse para si mesmo:
- Meu tio sacaneou comigo,
pois também vou sacanear com
os outros (mas falou isto em grego, o que deixa tudo com mais
classe).
Sifo resolveu então distribuir
seu tipo específico de azar entre os
humanos: o azar de quem, a um
passo da glória, sofre um revés e
tem que começar tudo de novo.
Os efeitos da maldição de Sifo
podem ser sentidos por qualquer
um de nós. Quando o leitor e a leitora, por exemplo, perdem o ônibus por alguns milésimos de segundo, é obra de Sifo. Quando
numa festa alguém pega o último
brigadeiro antes de você, é obra
de Sifo. Quando Hélio Castro Neves lidera quase todo o campeonato da IRL, mas perde o título
na última prova, é obra de Sifo.
Obviamente o futebol não escapou da maldição. Sifo ronda os
centros de treinamento de alguns
clubes, como o América-MG, o
Vila Nova, o Goiás e o Fluminense de Feira de Santana. Mas foi
em dois clubes paulistas que ele
resolveu fixar sua morada.
De que outra maneira poderíamos explicar os infortúnios que a
Lusa vem sofrendo há décadas?
Quantas vezes o time do Canindé
não esteve a ponto de conquistar
um título e, no derradeiro instante, viu suas esperanças virarem
pó, tendo que começar tudo outra
vez do zero? Quem quiser justificar tal fenômeno com a ciência fique à vontade. Eu, por mim, tenho certeza de que isso se deve às
agourentas mãos de Sifo.
Outro clube que o tem como
hóspede permanente é o São Caetano, um já célebre acumulador
de vices: só nos últimos dois anos
foram um da Série B, dois da A e
um da Taça Libertadores.
Esses dois clubes chegam até o
alto do monte e, no fim, vêem a
pedra rolar sobre si.
Lusa e São Caetano precisam
procurar imediatamente um oráculo e tentar conter a ira desse ser.
Se ficarem de braços cruzados, se
continuarem tentando buscar o
sentido das coisas na inútil razão,
eles sabem muito bem o que vai
acontecer: Sifo (ou Sifu, segundo
alguns acadêmicos).
Sifo 2
Dois clubes paranaenses sofreram com Sifo no fim de semana. O Paraná quase saiu
do Pacaembu com três pontos, mas voltou sem nenhum.
E o Atlético-PR esteve perto
de vencer o São Paulo, mas
cedeu o empate no finzinho.
Urucubaco
Há pouco tempo, o Palmeiras
lutava por uma vitória; passou a lutar por um empate e
há dois jogos luta por um gol.
Vulcânio
O deus da recuperação vem
ajudando o Paysandu, que há
uma semana é dirigido por
Hélio dos Anjos. Nos últimos
dois jogos, fez quatro pontos.
Vulcânio 2
O Gama é outro que trocou
de técnico e foi bem: Giba estreou batendo o Atlético-PR.
Quinta, contra o Santos, veremos se o time está em erupção ou se a vitória sobre o atual campeão foi só fumaça.
E-mail torero@uol.com.br
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