São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Xodó da torcida e líder em venda de camisas, uruguaio gaba-se de nunca ter sido expulso

Porrada canoniza Lugano no Morumbi

DA REPORTAGEM LOCAL

"Time sem vergonha", "pipoqueiro". Aos berros de torcedores revoltados, os atletas são-paulinos, de cabeça baixa, caminhavam em direção ao vestiário do Pacaembu. O São Paulo acabara de empatar com o Cruzeiro na estréia do técnico Leão.
Pouco depois, as ofensas cessaram. Assim como seus colegas, ele também descia de cabeça baixa. Mas, ao contrário deles, era ovacionado pela torcida.
"Lugano, Lugano", gritavam para o zagueiro uruguaio de 24 anos que se transformou no maior símbolo "antipipoca".
Com seus chutões, estilo viril, duro, tipicamente uruguaio, Diego Alfredo Lugano Morena coleciona cartões no mesmo ritmo em que ganha fãs. Atualmente, no Brasileiro, ninguém recebe mais amarelos do que ele.
Já foram 13, um a mais do que Grafite, que vinha sendo o campeão de cartões do time.
Mas quem se importa?
Os rivais dizem que ele é desleal e violento. O treinador do Atlético-MG, Mário Sérgio, referiu-se ao uruguaio como "o atleta mais sujo que já vi".
Os são-paulinos dão de ombros para a fama negativa . O importante é não pipocar. E Lugano foi endeusado. "É o deus da raça", diz o homem-forte do futebol do clube, Juvenal Juvêncio.
"A torcida sofria com isso [o rótulo de bambi] e agora não sofre mais. O Lugano representa cada torcedor do São Paulo", afirma o superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha.
O "fenômeno" Lugano se reflete na venda de camisas. Depois que o ídolo Luis Fabiano deixou o clube, a camisa 5 de Lugano tem sido a mais popular entre os torcedores.
O zagueirão "caipira" da pequena Canelones aprendeu a "descer a bota" logo cedo.
Jogava descalço nos terrões uruguaios. Pouco tempo mais tarde estava no Nacional, um dos grandes do Uruguai.
Por indicação do empresário Juan Figer, chegou ao São Paulo no ano passado. Ninguém jamais o tinha visto jogar.
Ao desembarcar no clube, disse: "É a chance da minha vida, não posso desperdiçá-la. Estou no melhor futebol do mundo."
Ficou boa parte do ano passado na reserva. Neste ano, oscilou entre o céu e o inferno.
Com a chegada de Cuca, perdeu espaço. Chegou a ser preso no aeroporto de Cumbica antes da viagem do time ao Equador na Taça Libertadores por ofender um policial federal.
Aos poucos, porém, foi se firmando. Hoje é titular absoluto, homem de confiança de Leão, que chegou até a rir da "engrossada" de Lugano num treino.
A posição é usada para justificar a onda de cartões. "Sou o último homem. Se o atacante passar por mim, é gol ou quase gol. Se eu faço falta, é amarelo ou advertência. Não dá para mudar muito", diz ele, que faz 2,6 faltas, em média, por jogo e se gaba de jamais ter sido expulso.
O estilo o fez respeitado entre os companheiros. Exerce liderança e é visto no clube como seguidor da linhagem uruguaia que fez sucesso no Morumbi com Forlán, Pedro Rocha e Dario Pereyra. "Não me vejo como ídolo, mas apenas um profissional que busca o melhor", diz o novo xodó são-paulino, que saboreia o momento de celebridade nos restaurantes uruguaios de São Paulo. (EAR)


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