São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


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TOSTÃO
Decisão

O Cruzeiro tinha a melhor equipe, campanha, jogadores, mas na hora de decidir, o Galo cantou mais alto.
O time de Levir Culpi não pode reclamar do juiz nem do regulamento. O clube concordou e agora não adianta chorar. Se quiser ter mais chances no próximo ano, precisa apoiar o campeonato de pontos corridos, melhorar sua defesa e deixar a prepotência de lado.
A diretoria menosprezou o Atlético-MG e mesmo assim não perdeu a soberba. O presidente Perrella disse que somente quatro técnicos, além do Levir Culpi, têm condições de dirigir o Cruzeiro: Paulo Autuori, Luxemburgo, Candinho e Luiz Felipe.
O Galo brilhou, jogou com humildade e no contra-ataque, reconhecendo a superioridade individual do rival. A massa atleticana está eufórica, e o time passa a ser candidato ao título, mesmo sem a vantagem nos próximos jogos.
O Corinthians está praticamente classificado e continua sendo o principal favorito ao título. No entanto, se bobear dança. Oswaldo de Oliveira, ao contrário de Levir Culpi, reconheceu os pontos fracos de sua defesa e não corre riscos. O time não tomou nenhum gol nos dois últimos jogos, enquanto o Cruzeiro levou sete do Galo.
O Vasco percebeu que não ganha em São Januário quando quer. Terá que jogar muito contra o jovem e talentoso Vitória. Se o time tivesse perdido, com o Viola desperdiçando gols e pênalti, Eurico Miranda não seria mais unanimidade na torcida, por causa da suspensão de Edmundo. Será que a provável contratação do Romário não perturbou Viola?
A Macaca está com tudo e não está prosa, depois de vencer domingo. O time de Campinas é bom, merece elogios pela campanha, mas não se pode jogar partidas decisivas num péssimo gramado.
Vasco, Ponte Preta e Corinthians são, hoje, os mais cotados nas apostas para fazer companhia ao Galo, nas semifinais. Na verdade, só o Corinthians é o grande favorito.
Além disto, estatisticamente em três jogos, a chance de acontecer pelo menos uma surpresa é grande. O imprevisível também faz parte de um raciocínio lógico. Ele é tão forte e frequente quanto a razão.

Erro e acerto

Nestes dois jogos entre Cruzeiro e Atlético-MG, merecidamente ganhos pelo Galo, constataram-se erros e acertos comuns em todas as equipes.
Quando um time atua ofensivamente, fazendo marcação por pressão no campo do adversário, é necessário ter sempre três defensores (um na sobra) para marcar dois atacantes. Podem ser dois zagueiros e um lateral (fixo ou alternado), um volante mais recuado e dois zagueiros ou três verdadeiros zagueiros. O Cruzeiro jogou no ataque, liberou seus laterais e armadores para o apoio e deixou, erradamente, sua frágil zaga sem cobertura contra os dois atacantes.
Quando uma equipe atua mais recuada e usando o contra-ataque, é melhor jogar no tradicional sistema com quatro defensores (dois zagueiros e dois laterais). Não há necessidade de ter um jogador na cobertura, já que os defensores estão próximos do goleiro. Se houver um lançamento nas costas dos zagueiros, o goleiro chega primeiro que o atacante. Foi o que o Galo fez, acertadamente, contra o Cruzeiro.
Sei que depois do jogo é mais fácil explicar as derrotas e vitórias. É uma das vantagens que o comentarista tem sobre o técnico. A outra, é ver o jogo de cima, ou acompanhando os detalhes pela tevê, ao contrário do treinador, que somente enxerga pernas e ouve os gritos da torcida. A maior vantagem é a de não ser chamado de burro. A grande desvantagem é ganhar muito menos.

Indignação

Os telefones em Minas Gerais, como em todo Brasil, não param de dar problemas depois da privatização do setor. Meu telefone ficou estragado de sexta à noite até a segunda-feira. Imediatamente, comuniquei o fato à operadora Telemar, mas o problema só foi solucionado na segunda-feira.
Talvez, se dissesse que era o Tostão, aquele que foi campeão do mundo ao lado do Pelé, o telefone teria sido consertado mais rápido. No Brasil, infelizmente, tudo funciona desta maneira.
Se o problema acontecesse durante a semana eu estaria perdido, pois não teria condições de enviar minha coluna para os jornais. Pior é que nenhum celular funcionava. Fiquei ilhado, imaginando qual seria a relação entre o celular e o telefone fixo. Acabei aceitando (desconfiado) as explicações de que era coincidência.
Passei um fim-de-semana tenso e indignado. Aliás, estou indignado com tudo de ruim que acontece nos bastidores do futebol e na vida brasileira.
Mudei para os arredores da cidade, para uma casa colonial, com muito verde, flores na janela e sonhei que estava na Suíça. Acordei no Brasil, onde os cidadãos não são respeitados, as coisas públicas não funcionam, a violência e a corrupção não param de aumentar e não diminui a endêmica miséria.


Tostão escreve às quartas-feiras e aos domingos

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