São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

Próximo Texto | Índice

Atacante afirma que homem da empresa escoltava delegação na França
E Edmundo "dedou" a Nike


Jogador, reserva na Copa-98, contradiz técnico Zagallo ao declarar que executivo de multinacional acompanhava seleção brasileira e até negociava contrato com atletas


SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O jogador Edmundo reforçou ontem em seu testemunho à CPI da CBF/Nike, instalada na Câmara, as suspeitas de ingerência da Nike na seleção brasileira durante a Copa da França, em 1998.
Ele afirmou que um funcionário da empresa, identificado no depoimento como Luiz Alexandre, acompanhava a seleção durante a concentração e em atividades relacionadas aos jogos.
O acompanhamento não é irregular, mas chamou a atenção dos deputados porque na última terça-feira tanto Mário Jorge Lobo Zagallo, que era técnico da seleção na Copa, quanto Lídio Toledo, chefe do departamento médico da delegação brasileira, negaram que um funcionário da Nike acompanhasse a equipe.
A Nike é patrocinadora da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). As relações entre a empresa e a entidade foram a principal razão da instalação da CPI da Câmara.
Segundo Edmundo, o funcionário da Nike era a única pessoa de fora da comissão técnica e do departamento médico com permissão para ficar com os jogadores.
O atacante, atualmente no Santos, afirmou que o representante da Nike ficava com os atletas "em tempo integral", dava auxílio quando faltavam acessórios esportivos e também conversava com jogadores sobre a assinatura de contratos com a empresa.
Ontem, a assessoria de comunicação da Nike do Brasil confirmou a presença de Luiz Alexandre Rodrigues, à época gerente da empresa, com jogadores da seleção na França. Segundo a assessoria, foi um "trabalho normal de acompanhamento", e não havia segredo sobre o assunto.
Em 1998, porém, no auge da crise pós-eliminação, a empresa disse que Rodrigues só tinha feito uma única visita à concentração do time, em Ozoir La-Ferrière.
Ontem, a assessoria também afirmou que não detinha credencias da Fifa, o que impediria o representante da empresa de ter acesso aos vestiários e ao ônibus da delegação em jogos oficiais.
Rodrigues não trabalha mais na Nike. Passou pelo Cruzeiro no primeiro semestre deste ano. Não foi localizado pela reportagem.
Edmundo disse ainda que um treino da seleção foi suspenso para que os jogadores participassem de uma festa promovida pela Nike em Paris. Mais uma vez, contradisse o ex-técnico da seleção.
Em 1998, o jogador Dunga afirmou à imprensa que a festa havia prejudicado os treinamentos. Questionado sobre isso pelos deputados, Zagallo foi taxativo ao dizer que não houve prejuízo.
Edmundo disse ontem que o treinamento normalmente era feito pela manhã e à tarde.
No dia da festa, porém, os jogadores só puderam treinar pela manhã. À tarde, foram ao evento.
Edmundo disse que os atletas não foram avisados de que se tratava de uma festa da Nike. "O que falaram para a gente era que íamos receber a torcida brasileira."
Durante a disputa do Mundial, Zagallo tinha um contrato pessoal com a Nike, que durou um ano.


Próximo Texto: Versão sobre "mal-estar" opõe Edmundo a Zagallo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.