São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Atleta contradiz versão de técnico, que deve voltar a depor na comissão
Versão sobre "mal-estar" opõe Edmundo a Zagallo

Alan Marques/Folha Imagem
O atacante do Santos Edmundo aguarda em sala do Congresso sua vez de depor à CPI da CBF/Nike


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O jogador Edmundo contradisse ontem o técnico Mário Jorge Lobo Zagallo durante seu depoimento na CPI da CBF/Nike ao ser questionado sobre o mal-estar de Ronaldo no dia da final da Copa da França, em 1998.
Isso levou o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), relator da CPI, a dizer que, com o depoimento de Edmundo, "ficou quase inevitável" reconvocar o ex-técnico da seleção para depor novamente.
Na terça-feira, Zagallo disse aos deputados da CPI que só foi avisado do problema de Ronaldo cerca de três horas depois do episódio.
No mesmo dia, os médicos da seleção Lídio Toledo e Joaquim da Matta afirmaram aos deputados que Zagallo foi informado quase que de forma imediata, menos de 40 minutos depois do mal-estar do atacante, hoje na Itália.
Anteontem, Zagallo voltou a repetir sua versão à imprensa, dizendo que somente por volta das 17h do dia da final da Copa foi avisado sobre o problema, que havia ocorrido pouco depois das 14h.
Questionado ontem novamente sobre o assunto, Edmundo disse que o aviso a Zagallo não ocorreu mais do que dez ou 15 minutos depois do fato. "Mais que isso, impossível", declarou.
O jogador disse não lembrar quem avisou o técnico, mas afirmou que pessoalmente bateu à janela de muitos quartos do hotel onde Zagallo e outros dirigentes da equipe técnica da seleção estavam hospedados na França.
Se for provado que o técnico não disse a verdade aos deputados da comissão, a CPI poderá entrar com uma ação contra ele na Justiça acusando-o de perjúrio.
Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da CPI, disse que a comissão "agirá com muito rigor" se ficar comprovado que Zagallo mentiu aos deputados.
Apesar de reforçar suspeitas de deputados sobre as relações entre a Nike e a CBF, Edmundo negou ter dito logo depois da final da Copa da França que a empresa foi responsável pela escalação de Ronaldo para o jogo.
Em 1998, logo após a derrota brasileira na final da Copa da França para a seleção anfitriã, o jornal "Notícias Populares" revelou o conteúdo de uma fita em que Edmundo afirmava que a escalação do atacante Ronaldo na final da Copa era exigência de um acordo entre a CBF e a Nike, patrocinadora da entidade.
À época, o atacante, então na Fiorentina, negou que tenha dado as declarações e disse que a fita era fruto de uma montagem.
Ontem, também deveriam ter prestado depoimento o lateral-esquerdo Roberto Carlos e o atacante Ronaldo.
Roberto Carlos foi convocado por ser o companheiro de quarto de Ronaldo e ter sido a primeira pessoa a presenciar o problema sofrido pelo atacante.
Os dois jogadores alegaram não poder comparecer na data marcada inicialmente por terem outros compromissos fora do Brasil. O novo depoimento dos jogadores ainda não foi marcado.
Tanto Ronaldo como Zagallo eram patrocinados pela Nike durante a Copa. Se Ronaldo, que ainda é patrocinado pela empresa, não jogasse, seria substituído por Edmundo na partida em que a França venceu a Copa.
O depoimento de Edmundo à comissão foi considerado pelos parlamentares um dos melhores colhidos até agora.
Nos anteriores, os deputados ligados aos clubes de futebol e à CBF haviam dominado a cena, praticamente esvaziando o conteúdo dos relatos.
O próximo depoimento "concorrido" na CPI da CBF/Nike, instalada na Câmara, deve ser o do ex-jogador e ex-ministro Pelé. Ainda não há data confirmada, mas a previsão é que seja no próximo dia 5 de dezembro.
No mesmo dia deverá depor Hélio Vianna, empresário que trabalha com Pelé.
Antes deles, vão prestar depoimento na CPI na próxima terça-feira jornalistas e dirigentes esportivos que têm informações sobre a transferência de atletas adolescentes para clubes do exterior.
Fábio Koff, presidente do Clube dos 13 (associação dos 20 maiores times do Brasil), e Américo Farias, diretor do Palmeiras, que também integravam a comissão técnica da seleção em 1998, irão depor na quinta-feira.
Os dois últimos depoimentos deverão ser o do ex-técnico da seleção Wanderley Luxemburgo (previsto para o dia 12) e de dirigentes da Nike (no dia 14).
Dirigentes das federações de futebol de São Paulo e do Paraná poderão depor no dia 13, mas isso só ocorrerá se documentos sobre a quebra de sigilos fiscal e bancário das duas entidades chegarem à CPI antes disso.
Hoje, a CPI da CBF/Nike deve receber da CBF documentos sobre a transferência de jogadores nos últimos anos. (SOLANO NASCIMENTO)
Colaborou a Reportagem Local

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