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JOSÉ GERALDO COUTO
O "conteúdo paixão"
Há uma contradição entre
a natureza popular do Corinthians e a idéia de construir estádio para a elite
"O CONTEÚDO paixão que
existe no relacionamento do Corinthians com
seu torcedor é diferente de qualquer
outro clube, e vamos poder trabalhar isso muito bem." A frase é do vice-presidente de marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosenberg, e
suscitou em mim uma série de dúvidas, talvez por falta de familiaridade
com a linguagem publicitária.
O que é o "conteúdo paixão"? Como se mede esse conteúdo?
No jogo de anteontem do Bahia,
contra o ABC, 60 mil torcedores foram à Fonte Nova para incentivar o
tricolor baiano na sua luta para voltar à Série B. Não foi fato isolado. O
Bahia tem a melhor média de público em casa (mais de 40 mil espectadores) das três divisões do Brasileiro, superando até mesmo o Flamengo. Bota "conteúdo paixão" nisso.
Se é nesse tipo de coisa que o dirigente corintiano está pensando
quando menciona o tema, ótimo.
Mas há contradição entre essa idéia
e a proposta aventada pela cartolagem alvinegra de construir estádio
"de elite" para o clube, com ingresso
a até R$ 200 e só uma pequena parte
da arquibancada destinada ao torcedor pobre, que sempre sustentou o
Corinthians e moldou o seu perfil.
Essa história de erguer um estádio
próprio reaparece em momentos de
crise no Parque São Jorge desde que
eu me conheço por gente. Vicente
Matheus, Wadih Helu, Alberto Dualib, cada um em seu tempo, prometeram à nação corintiana um grande
estádio, que nunca saiu do papel.
Agora, o presidente-tampão, Andrés
Sanches, retoma a mesma ladainha.
"Nunca achei que ter estádio era
importante. Hoje vejo que é impossível um clube grande não ter estádio", disse ele, rebaixando automaticamente à condição de "pequenos"
times como o Flamengo, a Juventus
de Turim, o Cruzeiro, o Milan, o
Atlético-MG e, claro, o Corinthians.
Numa hora em que a Fiel só pensa
em ajudar o clube a se salvar do rebaixamento, essa ênfase no marketing e na construção de um superestádio me parece totalmente deslocada. Em vez de reforços para os jogos
de 2008, o Corinthians contratou o
publicitário Nizan Guanaes. Ou seja:
a aparência, a marca, a grife é mais
importante do que o conteúdo, mesmo que seja o "conteúdo paixão".
Fora de casa
Em vez de se preocupar com as
flagrantes falhas apresentadas pela
seleção, Dunga preferiu atacar a
torcida que presenciou a medíocre
atuação do Brasil contra o Uruguai.
Segundo o treinador, parecia que o
jogo era em outro país. Talvez o
torcedor brasileiro seja exigente
além da conta, mas tem motivos.
Cinco vezes campeão mundial, o
brasileiro se acostumou a ver sua
seleção dar espetáculo, sobretudo
contra equipes mais fracas, como o
Uruguai. Quem pagou caro um ingresso no Morumbi esperava mais
do que viu. Todos esperávamos.
O time de Dunga está devendo
futebol nas eliminatórias, mas isso
talvez seja reflexo da natureza do
torneio. Como bem observou Soninha, Brasil e Argentina têm praticamente vaga garantida na Copa,
sempre. No atual sistema, o dia que
um dos dois não se classificar será
um escândalo. Para o bem do futebol sul-americano, seria preferível
que houvesse menos vagas para o
continente no Mundial.
jgcouto@uol.com.br
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