São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO

O "conteúdo paixão"

Há uma contradição entre a natureza popular do Corinthians e a idéia de construir estádio para a elite

"O CONTEÚDO paixão que existe no relacionamento do Corinthians com seu torcedor é diferente de qualquer outro clube, e vamos poder trabalhar isso muito bem." A frase é do vice-presidente de marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosenberg, e suscitou em mim uma série de dúvidas, talvez por falta de familiaridade com a linguagem publicitária.
O que é o "conteúdo paixão"? Como se mede esse conteúdo? No jogo de anteontem do Bahia,
contra o ABC, 60 mil torcedores foram à Fonte Nova para incentivar o tricolor baiano na sua luta para voltar à Série B. Não foi fato isolado. O Bahia tem a melhor média de público em casa (mais de 40 mil espectadores) das três divisões do Brasileiro, superando até mesmo o Flamengo. Bota "conteúdo paixão" nisso.
Se é nesse tipo de coisa que o dirigente corintiano está pensando quando menciona o tema, ótimo.
Mas há contradição entre essa idéia e a proposta aventada pela cartolagem alvinegra de construir estádio "de elite" para o clube, com ingresso a até R$ 200 e só uma pequena parte da arquibancada destinada ao torcedor pobre, que sempre sustentou o Corinthians e moldou o seu perfil.
Essa história de erguer um estádio próprio reaparece em momentos de crise no Parque São Jorge desde que eu me conheço por gente. Vicente Matheus, Wadih Helu, Alberto Dualib, cada um em seu tempo, prometeram à nação corintiana um grande estádio, que nunca saiu do papel.
Agora, o presidente-tampão, Andrés Sanches, retoma a mesma ladainha.
"Nunca achei que ter estádio era importante. Hoje vejo que é impossível um clube grande não ter estádio", disse ele, rebaixando automaticamente à condição de "pequenos" times como o Flamengo, a Juventus de Turim, o Cruzeiro, o Milan, o Atlético-MG e, claro, o Corinthians.
Numa hora em que a Fiel só pensa em ajudar o clube a se salvar do rebaixamento, essa ênfase no marketing e na construção de um superestádio me parece totalmente deslocada. Em vez de reforços para os jogos de 2008, o Corinthians contratou o publicitário Nizan Guanaes. Ou seja: a aparência, a marca, a grife é mais importante do que o conteúdo, mesmo que seja o "conteúdo paixão".

Fora de casa
Em vez de se preocupar com as flagrantes falhas apresentadas pela seleção, Dunga preferiu atacar a torcida que presenciou a medíocre atuação do Brasil contra o Uruguai.
Segundo o treinador, parecia que o jogo era em outro país. Talvez o torcedor brasileiro seja exigente além da conta, mas tem motivos.
Cinco vezes campeão mundial, o brasileiro se acostumou a ver sua seleção dar espetáculo, sobretudo contra equipes mais fracas, como o Uruguai. Quem pagou caro um ingresso no Morumbi esperava mais do que viu. Todos esperávamos.
O time de Dunga está devendo futebol nas eliminatórias, mas isso talvez seja reflexo da natureza do torneio. Como bem observou Soninha, Brasil e Argentina têm praticamente vaga garantida na Copa, sempre. No atual sistema, o dia que um dos dois não se classificar será um escândalo. Para o bem do futebol sul-americano, seria preferível que houvesse menos vagas para o continente no Mundial.


jgcouto@uol.com.br

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