São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2000

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Competição reduz em 51% o dinheiro gerado por partida do Brasileiro

A terra arrasada da JH

Monstrengo do Clube dos 13 derruba média de público em 31% e faz TV diminuir drasticamente o dinheiro pago aos times participantes

Caio Guatelli - 6.ago.00/Folha Imagem
Torcedor do Santa Cruz comemora ataque de seu time no Morumbi


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A aventura da Copa João Havelange custou muito caro para os principais clubes brasileiros.
Ao optar pela realização do mostrengo com mais de uma centena de equipes, o Clube dos 13 viu os jogos envolvendo seus associados sofrerem uma desvalorização média de 51%.
No ano passado, revitalizada por uma sequência de edições com respeito às regras, cada jogo da primeira divisão do Brasileiro "rendeu" R$ 648 mil.
Nesse cálculo, entram o valor médio de cada jogo obtido com a venda dos direitos para a televisão e o dinheiro da bilheteria.
Agora, considerando apenas as disputas do Módulo Azul e as finais, a Copa João Havelange "gera" R$ 316 mil por partida.
O torneio organizado pelo Clube dos 13 para resolver o imbróglio que envolvia o Gama derrubou o interesse tanto da televisão quanto dos torcedores.
Da Globo, que detém os direitos do Nacional, a entidade que reúne os principais clubes do país recebeu menos por um número muito maior de jogos, além de não poder vetar a transmissão das partidas para as mesmas cidades em que elas acontecem.
Pelo câmbio do final do ano passado, o Clube dos 13 recebeu R$ 131 milhões pelo Campeonato Brasileiro-99. Como a edição passada do Nacional teve 250 partidas, cada encontro foi comprado pela emissora por um valor médio de R$ 524 mil.
Na Copa João Havelange, o dinheiro da televisão despencou. Por um produto teoricamente de menor qualidade, a Globo pagou, pelo câmbio atual, R$ 78 milhões.
Sem contar os encontros realizados nos Módulos Amarelo, Verde e Branco, que reuniram os times mais fracos, a JH terá 330 jogos, o que significa que cada partida foi comprada pela principal emissora do país por R$ 236 mil.
O abatimento que a Globo conseguiu na Copa João Havelange realmente teve razão de existir.
Em São Paulo, a audiência média dos jogos do Brasileiro caiu de 24,6 para 20,6 pontos em São Paulo, o que significa uma perda de 240 mil telespectadores.
Perdendo muito dinheiro com a televisão, sua principal fonte de receita, a elite dos clubes ainda viu a bilheteria sofrer forte retração.
Descontentes com mais uma virada de mesa no Brasileiro -a terceira da década-, os torcedores de praticamente todo o país se afastaram da João Havelange.
Sem contar a partida de ontem entre Cruzeiro e Vasco, a média de público da competição está em 11.490 torcedores por jogo.
Isso sem contar os jogos dos módulos menos importantes, que caso considerados, derrubariam essa média pela metade.
No ano passado, quando o torneio ainda era organizado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o Brasileiro teve a sua segunda maior bilheteria da década -16.612 por jogo.
Assim, a Copa João Havelange fez a média de público despencar 31% em relação ao Nacional do ano passado, a maior retração dos últimos seis anos.
Com menos gente nos estádios, os clubes, obviamente, arrecadaram menos com a bilheteira -fonte de receita que ainda está entre as principais nos "grandes" clubes do futebol europeu.
O fenômeno foi acentuado pela qualidade do espetáculo.
Com um campeonato feito de improviso e com muitos clubes em péssima fase, incluindo Corinthians e Flamengo, os dois mais populares do país, os organizadores tiveram de cobrar menos pelos ingressos.
No ano passado, o preço médio de uma entrada para uma partida do Brasileiro ficou em R$ 7,50. Agora, caiu para R$ 6,97.
Dessa forma, com menos público e ingressos mais baratos, a renda média dos jogos do Brasileiro foi de R$ 80 mil por encontro disputado, queda de 36% em relação ao ano passado.
Em alguns jogos da João Havelange, o público presente nas arquibancadas beirou o ridículo.
O clássico entre Corinthians e Palmeiras, o mais tradicional do futebol paulista, atraiu apenas 2.000 torcedores ao Morumbi.
Foi o pior público da história do jogo em Brasileiros. Antes, a média de público no clássico em partidas da competição superava os 30 mil pagantes.
O Bahia, time com mais público na Copa João Havelange, faria feio no ranking das maiores bilheterias do ano passado.
Com os pouco mais de 20 mil pagantes que teve em cada jogo, o clube nordestino seria apenas o sexto time no ranking de público do Brasileiro-99, que teve o Atlético-MG na liderança, com uma média de 38.668 torcedores por partida disputada.


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