São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Império dos pequenos

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo final de ano, em meio ao espírito natalino, os menos favorecidos costumam ganhar um pouco mais de atenção. Neste final de ano e de milênio, especialmente, os mais humildes no futebol roubaram a cena.
O Brasil vivencia feliz o fenômeno São Caetano. Mas a rica Europa também celebra à sua maneira os menos abastados.
Enquanto ganhava oficialmente o rótulo de ""clube do século", o Real Madrid era eliminado da Copa do Rei pelo pobre Toledo, da terceira divisão da Espanha.
O vexame do Real foi realmente dentro de campo, mas, fora dele, o Toledo, assim como quase todos os times de pouca expressão na Europa, jogaram protegidos pelas regras da disputa.
Para dar mais equilíbrio às copas nacionais européias, competições que opõem equipes de várias divisões, os confrontos entre os times grandes e os pequenos foram reduzidos a um jogo, na casa do mais humilde.
Foi o caso do Toledo contra o Real Madrid, mas dezenas de outros casos semelhantes aconteceram nos últimos anos (nem lembro o nome do time que eliminou o Bayern de Munique da última Copa da Alemanha).
Não é à toa que os campeões das copas nacionais são, quase sempre, clubes menos dotados e cotados do que os vencedores dos campeonatos nacionais.
A Europa parou no primeiro semestre para ver o desconhecido Calais decidir a Copa da França. O ""Saint-Caetano" perdeu na final, mas ergueu firme a bandeira dos pequenos. O exemplo animou vários times simples, como o Sedan, que chegou à liderança do Campeonato Francês nesta temporada (curiosamente, Sedan e Calais duelam na rodada inicial da Copa da França).
A cúpula do futebol europeu vem lutando pela sobrevivência dos pequenos. Veta a todo momento a formação de superligas com os clubes mais poderosos.
Nos últimos dias, uma liga supranacional, com os principais times de Holanda, Portugal, Bélgica, Dinamarca, Suécia e Escócia, foi rejeitada pela Uefa em nome dos times ""menores".
A entidade que rege o futebol europeu defende a volta de um rígido limite de jogadores estrangeiros nos times, a proibição de transferências de menores de 18 anos e o pagamento pela rescisão contratual dos atletas de até 24 anos, medidas que favorecem os clubes mais fracos.
A Fifa tem dado o maior amparo possível às federações mais modestas com o projeto ""Goal".
Neste ano, a máxima entidade do futebol celebrou a entrada de Butão em sua ""família" -a Fifa soma 204 federações filiadas e tem mais sócios que a ONU.
O Mundial de Clubes da Fifa abriu portas para times de fora do eixo América do Sul-Europa.
Porém a bola da vez no futebol mundial é mesmo o São Caetano, que já está na Libertadores -a Confederação Sul-Americana, que antes repudiava times de segunda divisão, já espera feliz pelo heróico time do ABC.
O São Caetano já ganhou destaque na mídia européia e até na CNN (além de supostos contatos com o Real Madrid, que estaria interessado no lateral César). Mesmo que não ganhe a Copa JH, ele já ganhou o ano.

Baixinho
Com os três gols que marcou na decisão da Copa Mercosul na última quarta-feira, Romário chegou a 21 gols em jogos internacionais em 2000, segundo os cálculos da Federação Internacional de História e Estatística do Futebol. A entidade, que faz rankings até mais confusos que a Fifa, já estava dando ao brasileiro Rivaldo o título solitário de artilheiro do ano no futebol internacional. O jogador do Barcelona conseguiu 21 gols em 2000 e só poderia ser alcançado mesmo por Romário. Neste ano, Romário teve sua temporada mais rica em gols, chegando a superar Zico em números na seleção. Em títulos, já havia conquistado os mais importantes com a equipe nacional, exceção feita à medalha de ouro olímpica. Campeão na Espanha e na Holanda, o ""Baixinho" deve encerrar a carreira como o brasileiro mais vitorioso internacionalmente desde Pelé.


E-mail rbueno@folhasp.com.br


Texto Anterior: Garotos-propaganda
Próximo Texto: Automobilismo: Chancela da Globo permite realização de GP Brasil-2001
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.