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São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

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DOPING

Laboratórios lutam para criar teste que detecte o hGH sintético, que dura cerca de 20 minutos no corpo, antes de Atenas

Hormônio de crescimento desafia ciência

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A droga não é desconhecida como o THG, nem tão nova como a EPO, mas promete ser o grande quebra-cabeça dos controles antidoping para os Jogos de Atenas-2004. Cientistas correm contra o tempo para desenvolver um teste confiável para flagrar o hormônio de crescimento humano (hGH).
E o protagonista do feito pode ser o laboratório da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), o mesmo que surpreendeu o mundo esportivo ao anunciar a descoberta do THG (tetraidrogestrinona), um novo esteróide anabólico, há dois meses.
A equipe de Don Catlin, diretor do instituto de pesquisa, luta para responder a três questões. "Você tem que encontrar um teste correto, tem que prová-lo no exterior e é necessário que não haja margem para dúvidas", explica Catlin.
Para que um teste possa ser validado, é preciso que ele seja publicado por uma revista especializada e tenha sido comprovado por um laboratório independente.
Essa dificuldade faz com que haja dúvidas em relação à possibilidade de o hGH entrar na lista de controles já em 2004. "Acho difícil que isso ocorra", admite o brasileiro Eduardo de Rose, membro do conselho principal da Wada (Agência Mundial Antidoping).
O hGH representa um desafio aos cientistas por ser produzido pelo organismo. Com efeito anabólico, o hormônio é usado na medicina para tratar crianças com problemas de crescimento.
Desde 1989 é também utilizado em adultos com deficiência na produção desse hormônio. Neles, a droga normaliza a composição corporal, ajuda na queima de gordura e melhora o bem-estar.
O problema é conseguir diferenciar a substância natural da sintética. "O hGH fica pouco tempo na circulação, cerca de 20 minutos. Por isso, é difícil traçar o perfil da droga", explica De Rose.
Em Sydney-00, diversos laboratórios tentaram desenvolver essa tecnologia, mas não conseguiram. Apesar do escasso tempo, a esperança foi renovada agora.
"Estou certo de que estamos muito próximos de ter alguma coisa sobre isso [teste para o hGH]", conta Arne Ljungqvist, chefe da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional.
Por não fazer parte dos exames, muitos especialistas acreditam que a droga esteja largamente disseminada entre os atletas, apesar de sua distribuição ser fiscalizada.
No esporte, o hGH teria aparecido no final dos anos 80. Mas, naquele tempo, o hormônio era caro e difícil de ser obtido. Atualmente, é possível encontrá-lo relativamente barato no mercado negro.
Há suspeita de que o hGH foi usado pelas atletas da China no Mundial de atletismo de Stuttgart-93. De forma surpreendente, elas ganharam três ouros, duas pratas e um bronze em provas de fundo e meio-fundo. Nunca haviam tido desempenho semelhante antes. Nunca mais tiveram.
Como herança daqueles tempos, as chinesas detêm os recordes mundiais dos 1.500 m, 3.000 m, 10.000 m e 5.000 m. Com exceção dessa última prova, todas as outras marcas apareceram em 93. Nos últimos dez anos, ninguém chegou perto de superá-las.
Outra ação contra o hGH ocorreu há um mês, quando a Wada e o COI reuniram cientistas de seis projetos diferentes sobre o hormônio. "Era importante que eles se reunissem para que o esforço fosse coordenado", diz David Howman, diretor-geral da Wada.


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