|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DOPING
Laboratórios lutam para criar teste que detecte o hGH sintético, que dura cerca de 20 minutos no corpo, antes de Atenas
Hormônio de crescimento desafia ciência
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A droga não é desconhecida como o THG, nem tão nova como a
EPO, mas promete ser o grande
quebra-cabeça dos controles antidoping para os Jogos de Atenas-2004. Cientistas correm contra o
tempo para desenvolver um teste
confiável para flagrar o hormônio
de crescimento humano (hGH).
E o protagonista do feito pode
ser o laboratório da UCLA (Universidade da Califórnia em Los
Angeles), o mesmo que surpreendeu o mundo esportivo ao anunciar a descoberta do THG (tetraidrogestrinona), um novo esteróide anabólico, há dois meses.
A equipe de Don Catlin, diretor
do instituto de pesquisa, luta para
responder a três questões. "Você
tem que encontrar um teste correto, tem que prová-lo no exterior e
é necessário que não haja margem para dúvidas", explica Catlin.
Para que um teste possa ser validado, é preciso que ele seja publicado por uma revista especializada e tenha sido comprovado por
um laboratório independente.
Essa dificuldade faz com que
haja dúvidas em relação à possibilidade de o hGH entrar na lista de
controles já em 2004. "Acho difícil
que isso ocorra", admite o brasileiro Eduardo de Rose, membro
do conselho principal da Wada
(Agência Mundial Antidoping).
O hGH representa um desafio
aos cientistas por ser produzido
pelo organismo. Com efeito anabólico, o hormônio é usado na
medicina para tratar crianças
com problemas de crescimento.
Desde 1989 é também utilizado
em adultos com deficiência na
produção desse hormônio. Neles,
a droga normaliza a composição
corporal, ajuda na queima de gordura e melhora o bem-estar.
O problema é conseguir diferenciar a substância natural da
sintética. "O hGH fica pouco tempo na circulação, cerca de 20 minutos. Por isso, é difícil traçar o
perfil da droga", explica De Rose.
Em Sydney-00, diversos laboratórios tentaram desenvolver essa
tecnologia, mas não conseguiram. Apesar do escasso tempo, a
esperança foi renovada agora.
"Estou certo de que estamos
muito próximos de ter alguma
coisa sobre isso [teste para o
hGH]", conta Arne Ljungqvist,
chefe da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional.
Por não fazer parte dos exames,
muitos especialistas acreditam
que a droga esteja largamente disseminada entre os atletas, apesar
de sua distribuição ser fiscalizada.
No esporte, o hGH teria aparecido no final dos anos 80. Mas, naquele tempo, o hormônio era caro
e difícil de ser obtido. Atualmente,
é possível encontrá-lo relativamente barato no mercado negro.
Há suspeita de que o hGH foi
usado pelas atletas da China no
Mundial de atletismo de Stuttgart-93. De forma surpreendente,
elas ganharam três ouros, duas
pratas e um bronze em provas de
fundo e meio-fundo. Nunca haviam tido desempenho semelhante antes. Nunca mais tiveram.
Como herança daqueles tempos, as chinesas detêm os recordes mundiais dos 1.500 m, 3.000
m, 10.000 m e 5.000 m. Com exceção dessa última prova, todas as
outras marcas apareceram em 93.
Nos últimos dez anos, ninguém
chegou perto de superá-las.
Outra ação contra o hGH ocorreu há um mês, quando a Wada e
o COI reuniram cientistas de seis
projetos diferentes sobre o hormônio. "Era importante que eles
se reunissem para que o esforço
fosse coordenado", diz David
Howman, diretor-geral da Wada.
Texto Anterior: Sem investidor, São Paulo anuncia que desiste de contratar Rivaldo Próximo Texto: Laboratório nos EUA desponta contra a droga Índice
|