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São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Papai Noel eletrônico

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Há vários anos escrevo para o Papai Noel e ele não me responde. Deve estar muito ocupado ou não gostou de coisas erradas que fiz. Talvez ele só comunique por e-mails. Carta já era.
Se quase todas as pessoas têm sites, Papai Noel também deve ter o seu. Será que no seu site há produtos à venda? Se alguns jornalistas trabalham de garotos-propaganda, exercendo ao mesmo tempo dupla função, pode ter acontecido o mesmo com o Papai Noel. Ele deve ter descoberto que é um ótimo vendedor.
No mundo moderno ou pós-moderno, da cultura da vulgaridade e do exibicionismo, vende-se de tudo, principalmente, a própria imagem. Quem não aparece não se vende, não tem prestígio nem fatura. O importante não é fazer bem, e sim vender bem. Às vezes, percebendo ou não, vende-se também a alma.
Papai Noel deve me achar estranho, um dinossauro, um homem desorientado no tempo e no espaço, um sonhador quixotesco que acredita até em Papai Noel.
Em algumas coisas ele tem razão. Sou um analfabeto tecnológico. Não consigo usar computador nem caixa eletrônico. Isso dificulta minha vida. Sinto-me pressionado. Exigem-me senhas em todos os lugares. Serei obrigado a declarar Imposto de Renda pela internet. Se quiser sobreviver, terei de mudar.
Antes de fazer o meu pedido deste ano ao Papai Noel, vou agradecê-lo por ajudar na mudança de algumas coisas no futebol brasileiro, como a implantação da fórmula de pontos corridos, o Estatuto do Torcedor (não está sendo cumprido), o fim das partidas às terças, às quintas e aos domingos de uma mesma equipe, o término das viradas de mesa e outros pequenos detalhes. Ainda é muito pouco.
Papai Noel poderia convencer os políticos a aprovarem o Estatuto do Desporto com alguns ajustes, sem violar a sua essência, que é a de dar uma cara mais limpa e transparente ao esporte.
Papai Noel deveria ainda ensinar dirigentes e técnicos a se organizarem melhor para o próximo Brasileirão. O nível técnico deste ano foi fraco. Sei que os clubes estão mal de finanças e não podem gastar mais do que arrecadam. Mas, com criatividade e planejamento, é possível formar melhores equipes do que as atuais.
Essa é a última carta que escrevo ao Papai Noel. No próximo ano, espero mandar um e-mail.

Tríplice coroa
Os recentes títulos mundiais obtidos pelas seleções principal, sub-17 e sub-20 (barba, cabelo e bigode) são evidências de que o futebol nacional vive individualmente um excepcional momento, em todas as categorias. Não é sempre que isso ocorre. A seleção pré-olímpica tem grandes chances de se classificar e ganhar o ouro em Atenas. Ainda mais, reforçada com três craques da principal.
Esses títulos reforçam também a impressão de que, apesar das evidentes deficiências de muitos treinadores, os profissionais de apoio aos atletas (técnicos, médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas e outros) são mais criativos e melhores do que os estrangeiros.
O Brasil só perde, de goleada, nas condições financeiras e na organização dos clubes e dos campeonatos. O futebol brasileiro é pobre, tem de exportar os seus craques, mas a CBF é rica. Não falta dinheiro às seleções.

A história se repete
Assim como a seleção principal, o time pré-olímpico tem excelentes meias ofensivos e atacantes que recuam para receber a bola e armar as jogadas (Diego, Robinho, Dagoberto, Daniel Carvalho). Não há lugar para todos.
A grande atração e esperança é a dupla Diego e Robinho. No último Pré-Olímpico e Olimpíada, havia também uma excepcional dupla, Ronaldinho Gaúcho e Alex. Os dois deram um show no Pré-Olímpico e jogaram mal na Olimpíada, como toda a equipe.
Quando vi Alex e Ronaldinho na seleção principal e no Pré-Olímpico, tive a quase certeza de que os dois seriam titulares na Copa-02, ao lado do Rivaldo e Ronaldo. Ronaldinho Gaúcho brilhou no Mundial, e Alex ficou de fora. Não será surpresa se os dois forem titulares na Copa-06. Eles se entendem muito bem.
Se Robinho e Diego brilharem no Pré-Olímpico e na Olimpíada aumentarão as suas chances de participarem da seleção principal e da Copa-06. O problema é escalar tantos craques. Ao contrário do que se pensa, não é fácil ser técnico da seleção.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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