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FUTEBOL
Papai Noel eletrônico
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Há vários anos escrevo para
o Papai Noel e ele não me
responde. Deve estar muito ocupado ou não gostou de coisas erradas que fiz. Talvez ele só comunique por e-mails. Carta já era.
Se quase todas as pessoas têm
sites, Papai Noel também deve ter
o seu. Será que no seu site há produtos à venda? Se alguns jornalistas trabalham de garotos-propaganda, exercendo ao mesmo tempo dupla função, pode ter acontecido o mesmo com o Papai Noel.
Ele deve ter descoberto que é um
ótimo vendedor.
No mundo moderno ou pós-moderno, da cultura da vulgaridade e do exibicionismo, vende-se
de tudo, principalmente, a própria imagem. Quem não aparece
não se vende, não tem prestígio
nem fatura. O importante não é
fazer bem, e sim vender bem. Às
vezes, percebendo ou não, vende-se também a alma.
Papai Noel deve me achar estranho, um dinossauro, um homem
desorientado no tempo e no espaço, um sonhador quixotesco que
acredita até em Papai Noel.
Em algumas coisas ele tem razão. Sou um analfabeto tecnológico. Não consigo usar computador nem caixa eletrônico. Isso dificulta minha vida. Sinto-me
pressionado. Exigem-me senhas
em todos os lugares. Serei obrigado a declarar Imposto de Renda
pela internet. Se quiser sobreviver, terei de mudar.
Antes de fazer o meu pedido
deste ano ao Papai Noel, vou
agradecê-lo por ajudar na mudança de algumas coisas no futebol brasileiro, como a implantação da fórmula de pontos corridos, o Estatuto do Torcedor (não
está sendo cumprido), o fim das
partidas às terças, às quintas e
aos domingos de uma mesma
equipe, o término das viradas de
mesa e outros pequenos detalhes.
Ainda é muito pouco.
Papai Noel poderia convencer
os políticos a aprovarem o Estatuto do Desporto com alguns ajustes, sem violar a sua essência, que
é a de dar uma cara mais limpa e
transparente ao esporte.
Papai Noel deveria ainda ensinar dirigentes e técnicos a se organizarem melhor para o próximo
Brasileirão. O nível técnico deste
ano foi fraco. Sei que os clubes estão mal de finanças e não podem
gastar mais do que arrecadam.
Mas, com criatividade e planejamento, é possível formar melhores
equipes do que as atuais.
Essa é a última carta que escrevo ao Papai Noel. No próximo
ano, espero mandar um e-mail.
Tríplice coroa
Os recentes títulos mundiais obtidos pelas seleções principal, sub-17 e sub-20 (barba, cabelo e bigode) são evidências de que o futebol nacional vive individualmente um excepcional momento, em
todas as categorias. Não é sempre
que isso ocorre. A seleção pré-olímpica tem grandes chances de
se classificar e ganhar o ouro em
Atenas. Ainda mais, reforçada
com três craques da principal.
Esses títulos reforçam também
a impressão de que, apesar das
evidentes deficiências de muitos
treinadores, os profissionais de
apoio aos atletas (técnicos, médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas e outros) são mais criativos
e melhores do que os estrangeiros.
O Brasil só perde, de goleada,
nas condições financeiras e na organização dos clubes e dos campeonatos. O futebol brasileiro é
pobre, tem de exportar os seus
craques, mas a CBF é rica. Não
falta dinheiro às seleções.
A história se repete
Assim como a seleção principal,
o time pré-olímpico tem excelentes meias ofensivos e atacantes
que recuam para receber a bola e
armar as jogadas (Diego, Robinho, Dagoberto, Daniel Carvalho). Não há lugar para todos.
A grande atração e esperança é
a dupla Diego e Robinho. No último Pré-Olímpico e Olimpíada,
havia também uma excepcional
dupla, Ronaldinho Gaúcho e
Alex. Os dois deram um show no
Pré-Olímpico e jogaram mal na
Olimpíada, como toda a equipe.
Quando vi Alex e Ronaldinho
na seleção principal e no Pré-Olímpico, tive a quase certeza de
que os dois seriam titulares na
Copa-02, ao lado do Rivaldo e
Ronaldo. Ronaldinho Gaúcho
brilhou no Mundial, e Alex ficou
de fora. Não será surpresa se os
dois forem titulares na Copa-06.
Eles se entendem muito bem.
Se Robinho e Diego brilharem
no Pré-Olímpico e na Olimpíada
aumentarão as suas chances de
participarem da seleção principal
e da Copa-06. O problema é escalar tantos craques. Ao contrário
do que se pensa, não é fácil ser técnico da seleção.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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