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Cuba perde negócios e mão-de-obra no Brasil
Exportação de técnicos desaba, escritório fecha, e nem Pan do Rio atenua crise
Profissionais que continuam fora da ilha cortam vínculos com o governo, que chegou a ter 89 cubanos no Brasil e hoje mantém "dois ou três"
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Otilio Toledo, treinador cubano que está no Brasil desde 2000 |
GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bernardo Peñaler sempre
serviu Cuba com devoção.
Como treinador de beisebol,
virou produto de exportação e
ensinou os macetes da modalidade nas Antilhas Holandesas,
no México e na Venezuela.
Ficava apenas com 25% do
salário que recebia. O restante
era enviado ao país natal.
O esporte ainda assegura seu
sustento longe de casa. Só que
no Brasil, sua nova morada, os
rendimentos não são repartidos com o governo cubano.
Peñaler deixou de atuar como funcionário da Cubadeportes S.A., empresa criada para
exportar técnicos da ilha caribenha. Preferiu negociar contrato próprio, sem intermediários, para dar aulas de beisebol.
"Às vezes criamos raízes nos
lugares e decidimos seguir nossas aspirações. Sempre servi
minha pátria. Agora, tenho
meus projetos pessoais", afirma o treinador de 45 anos.
Caminhos semelhantes seguidos por seus pares construíram um cenário curioso às vésperas do Pan-Americano do
Rio. O Brasil, um mercado outrora vigoroso para a exploração, não dá mais lucro aos cubanos. E nem o principal evento
esportivo das Américas conseguiu mudar tal situação.
A Cubadeportes fechou o escritório que mantinha no Brasil. De acordo com Angel Iglesias, vice-presidente do Instituto Cubano de Deportes, Educación Fisica y Recreación, órgão equivalente ao Ministério
do Esporte, a parceria esfriou.
"Temos poucos treinadores,
talvez dois ou três, trabalhando
pelo nosso governo. É pouco.
Vamos incrementar isso em
2007", afirmou à Folha.
Atingir os números do passado, contudo, é uma tarefa espinhosa. Com Fidel Castro no
poder -está atualmente afastado por motivo de saúde-, a
ilha chegou a manter 89 treinadores em atividade no Brasil.
Perder espaço significa menos dinheiro para fazer a engrenagem estatal funcionar, já
que os valores obtidos com o
envio de know-how esportivo
ao exterior sustentam a estrutura de potência olímpica esquadrinhada em Cuba.
Com 11,3 milhões de habitantes, o país ganhou 158 medalhas olímpicas desde que Fidel chegou ao poder, em 1959.
Mesmo com duas edições a
mais (Los Angeles-1984 e Seul-1988), que a ilha boicotou por
razões políticas, o Brasil não
chega nem perto -soma apenas 68 pódios no período.
"Está acontecendo uma saída de técnicos e atletas. É uma
questão econômica. Por mais
que haja atenção ao esporte em
Cuba, outros países oferecerem coisas que demoraríamos
um ano ou mais para ganhar",
alega Francisco Ferrer Matos.
O treinador comandou a seleção cubana de saltos ornamentais por 32 anos. Em 1996,
recebeu uma proposta para um
trabalho temporário em Brasília via Cubadeportes. Dois anos
depois, apaixonado por uma
brasileira, decidiu ficar. Não
renovou o contrato e hoje é técnico da seleção que veste uniforme verde-amarelo.
A dificuldade para exportar
treinadores ao Brasil, porém,
pode ser apenas a face mais visível de um problema que tem
raízes mais profundas.
"A Cubadeportes já fechou o
escritório no Brasil outras vezes e abriu em outros lugares
com mais demanda. Isso é normal. O problema é que a base
cubana está danificada. O país
perde postos que ocupava no
atletismo, no boxe, no vôlei. Isso é resultado da crise", opina
Otilio Toledo, diretor da equipe brasileira olímpica de boxe.
Ele chegou a São Paulo em
1997 para ministrar aulas em
uma academia. Ao fim de seu
contrato, voltou para Cuba, casou-se com uma brasileira e retornou ao Brasil em 2000.
Como seus pares, não enxerga muitas soluções para a terra
natal retomar os dias de glória
em campos, quadras e pistas.
Mas joga um balde de água
fria nos que acreditam que,
sem Fidel, a força esportiva vai
acabar. "Os cubanos sabem que
o esporte é uma forma de educar pessoas. É uma prioridade."
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