São Paulo, quinta, 24 de dezembro de 1998

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Dinei, o filho pródigo, volta aos braços da Fiel

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Foi uma final inesquecível: dois grandes times, equilíbrio, jogo limpo e, sobretudo, futebol de primeira qualidade. Para coroar tudo, a vibração inigualável da torcida alvinegra.
Para um jogador, em particular, esse título tem um sabor especial. Falo de Dinei, claro.
Grande herói das finais -teve participação decisiva em todos os cinco gols corintianos das três partidas, fazendo um e dando os passes para os outros quatro-, Dinei encarna em sua romanesca trajetória o mito do filho pródigo.
Único do elenco corintiano que foi campeão nacional com o time em 90, viveu depois disso seu inferno astral, chegando a ser suspenso por envolvimento com drogas quando jogava no Paraná.
Deu a volta por cima, brilhou no Guarani, retornou ao Parque São Jorge e, aos poucos, pavimentou seu caminho de volta à equipe e à glória. Ninguém tem mais motivo do que ele para comemorar esse título.
Pelo menos numa coisa as transmissões das finais pela Rede Globo merecem elogios: além das câmeras colocadas em todos os pontos do campo, a emissora soube captar imagens dramáticas ou curiosas dos torcedores.
Não chega a ser uma novidade: há mais de 30 anos o Canal 100 implantou o procedimento no cinema. De todo modo, é algo que enriquece a cobertura e intensifica a vibração.
Outro craque corintiano que merece todos os elogios, apesar de não ter brilhado nas finais, é o volante Vampeta.
Para sair pelado na capa de uma revista gay é preciso ser muito macho, sobretudo num país em que o futebol (leia-se cartolas, técnicos, torcedores, jogadores e imprensa) ainda é, exceções ressalvadas, um mundo de preconceitos.
A conquista corintiana deveu-se em grande parte à anulação tática de Fábio Júnior (sozinho à frente, foi bem bloqueado por Batata e Gamarra) e à alquimia do trio Marcelinho-Dinei-Edilson.
O Cruzeiro -talvez o time com o futebol mais bonito do Brasil- merecia um apoio maior de sua torcida. Por que tão poucos cruzeirenses foram ao Morumbi?
Entre os poucos erros e muitos acertos dos dois treinadores nas partidas finais, talvez a grande mancada tenha sido mesmo a substituição de Muller no jogo do Mineirão. Ele é o tipo do jogador que só deve sair de campo se estiver com fratura exposta.
Se a estrela de Dinei brilhou do lado corintiano, dois jogadores cruzeirenses encheram os olhos da torcida com seu belo futebol: Dida e Djair.
O primeiro provou que é o melhor goleiro do país. Não por acaso, todos os gols corintianos foram feitos de dentro da pequena área ou perto dela, em finalizações indefensáveis.
Djair não goza da mesma admiração unânime que Dida. Tem, na verdade, vários opositores. A explicação é simples: para muitos, meio-campista tem de atropelar, trombar, vigiar e punir. Djair não faz nada disso. É "apenas" um craque -e quase fez o único gol de cabeça de fora da área do campeonato.


José Geraldo Couto escreve às quintas
E-mail: jgcouto@uol.com.br



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