São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Elitização vai enterrar o futebol, diz economista

DA REPORTAGEM LOCAL

Os cartolas querem levar o futebol de volta às origens, um produto para ""poucos e bons". Elitizado, porém, ele já está.
Pesquisa Datafolha mostra que, nas áreas mais pobres da cidade, o número de pessoas sem time de preferência é maior do que em bairros nobres, como Jardins, Alto de Pinheiros e Morumbi.
Pessoas que não torcem para time nenhum têm, teoricamente, menos interesse por futebol.
E em regiões como Brasilândia, Cachoeirinha e Freguesia do Ó chega a haver mais indivíduos sem preferência clubística -25% dos entrevistados- do que torcedores do São Paulo -18%- e do Palmeiras -13%.
É o mesmo caso de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, Itaquera, José Bonifácio, Lajeado -bairro com um dos piores índices de desenvolvimento humano da cidade- e Parque São Rafael. Nessas regiões o número de entrevistados que disseram não torcer para time nenhum é de 24%. É um grupo maior que o de são-paulinos (17%) e o de palmeirenses (12%), só perdendo para os 37% que se disseram corintianos.
Já na área considerada a mais nobre de São Paulo, onde estão Jardim Paulista, Itaim Bibi e Moema, apenas 14% das pessoas disseram não ter time de preferência. É o menor número de sem-time em toda a cidade.
Segundo o economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores, uma das explicações para a periferia se afastar do futebol é a própria dificuldade financeira para ir ao estádio. Ele acha o preço do ingresso -R$ 20 a arquibancada no Paulista- muito elevado. ""Fica quase impossível para alguém que mora na periferia freqüentar o estádio."
Para ele, a idéia de alguns especialistas em marketing esportivo e dirigentes de futebol de aumentar ainda mais o preço das entradas e de tentar elitizar o esporte ""é uma estupidez". ""É o que vai matar o futebol. Os dirigentes querem ganhar na unidade quando deveriam pensar em ganhar na escala. Se afastarem de vez o povão dos jogos, o futebol vai perder a graça, deixar de ser o esporte popular que se tornou", declarou.
Mas Antonio Afif, consultor de marketing esportivo, não pensa assim. ""Muita gente vai querer me bater, mas, se o futebol quiser sobreviver, a saída é a elitização, adquirir uma postura de primeiro mundo, com estádios decentes, ingressos mais caros, para quem puder pagar", afirmou.
No início do século passado, quando passou a ser praticado em São Paulo, o futebol era esporte das pessoas da elite, jogado em colégios e clubes tradicionais.
Nos estádios, os homens iam de terno e gravata, e as mulheres, de vestidos longos.
A partir dos anos 20, passou a ser mais praticado pelas classes populares. Com o advento do profissionalismo, na década seguinte, tornou-se um ganha-pão para jogadores mais talentosos que vinham de famílias com poucos recursos financeiros.



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