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Elitização vai enterrar o futebol, diz economista
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cartolas querem levar o futebol de volta às origens, um produto para ""poucos e bons". Elitizado, porém, ele já está.
Pesquisa Datafolha mostra que,
nas áreas mais pobres da cidade, o
número de pessoas sem time de
preferência é maior do que em
bairros nobres, como Jardins, Alto de Pinheiros e Morumbi.
Pessoas que não torcem para time nenhum têm, teoricamente,
menos interesse por futebol.
E em regiões como Brasilândia,
Cachoeirinha e Freguesia do Ó
chega a haver mais indivíduos
sem preferência clubística -25%
dos entrevistados- do que torcedores do São Paulo -18%- e do
Palmeiras -13%.
É o mesmo caso de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, Itaquera, José Bonifácio, Lajeado
-bairro com um dos piores índices de desenvolvimento humano
da cidade- e Parque São Rafael.
Nessas regiões o número de entrevistados que disseram não torcer para time nenhum é de 24%. É
um grupo maior que o de são-paulinos (17%) e o de palmeirenses (12%), só perdendo para os
37% que se disseram corintianos.
Já na área considerada a mais
nobre de São Paulo, onde estão
Jardim Paulista, Itaim Bibi e Moema, apenas 14% das pessoas disseram não ter time de preferência.
É o menor número de sem-time
em toda a cidade.
Segundo o economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores, uma das explicações para a
periferia se afastar do futebol é a
própria dificuldade financeira para ir ao estádio. Ele acha o preço
do ingresso -R$ 20 a arquibancada no Paulista- muito elevado. ""Fica quase impossível para
alguém que mora na periferia freqüentar o estádio."
Para ele, a idéia de alguns especialistas em marketing esportivo e
dirigentes de futebol de aumentar
ainda mais o preço das entradas e
de tentar elitizar o esporte ""é uma
estupidez". ""É o que vai matar o
futebol. Os dirigentes querem ganhar na unidade quando deveriam pensar em ganhar na escala.
Se afastarem de vez o povão dos
jogos, o futebol vai perder a graça,
deixar de ser o esporte popular
que se tornou", declarou.
Mas Antonio Afif, consultor de
marketing esportivo, não pensa
assim. ""Muita gente vai querer me
bater, mas, se o futebol quiser sobreviver, a saída é a elitização, adquirir uma postura de primeiro
mundo, com estádios decentes,
ingressos mais caros, para quem
puder pagar", afirmou.
No início do século passado,
quando passou a ser praticado em
São Paulo, o futebol era esporte
das pessoas da elite, jogado em
colégios e clubes tradicionais.
Nos estádios, os homens iam de
terno e gravata, e as mulheres, de
vestidos longos.
A partir dos anos 20, passou a
ser mais praticado pelas classes
populares. Com o advento do
profissionalismo, na década seguinte, tornou-se um ganha-pão
para jogadores mais talentosos
que vinham de famílias com poucos recursos financeiros.
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