São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Descamisado revela outro São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

O segredo está na coletânea de almanaques e revistas. Com as publicações em punho, Mario Barreto Júnior responde de bate-pronto às questões que vizinhos e amigos fazem sobre o São Paulo.
O principal artilheiro, os técnicos vitoriosos, o esquadrão que colecionou mais títulos, as principais estatísticas. Tudo está registrado em páginas já carcomidas, guardadas desde 1981.
"Naquele ano, conquistamos o bi no Paulista. A partir daí, comecei a preservar tudo o que saía sobre o meu time", lembra Barreto.
O manancial de seus conhecimentos, porém, corre perigo. Ex-auxiliar de almoxarifado, desempregado há três anos e fazendo bicos para sobreviver, Barreto já recebeu propostas para vender sua coleção. Até agora, resistiu.
"O São Paulo é importante demais para mim", conta ele.
A biografia de Barreto, 33, aniquila o estereótipo de "mauricinho" que o torcedor do time do Morumbi sempre ostentou.
Ele divide com a mãe uma casinhola de quatro cômodos no jardim São Luiz, zona sul da cidade. E não é uma exceção.
Pesquisa Datafolha mostrou que os entusiastas do São Paulo não estão apenas nos bairros nobres. Mais: em regiões periféricas, a disputa pela preferência é acirrada. Nas cercanias da moradia de Barreto existem 24% de corintianos e 22% de são-paulinos. Ou seja, empate técnico, já que a margem de erro é de dois pontos.
Falar de seu time, contudo, sempre traz um certo saudosismo à tona. Lembranças da época em que podia pagar e ir ao estádio. "Hoje o ingresso é caro demais."
Nem uma camisa do clube Barreto pode vestir. As poucas que possuía não serviam mais no corpanzil de 1,81 m e 105 kg. Sua mãe, então, decidiu vendê-las.
Sem dinheiro para grandes realizações, ele alimenta sua paixão nos detalhes. A acanhada sala da casa, por exemplo, respira futebol. Nas paredes, há um pôster do escrete bicampeão mundial em 1993, uma faixa comemorativa ao paulista de 1981 e um brasão protegido por uma redoma de vidro.
"Tinha coisa pregada em todos os lados, mas eu mandei arrancar tudo. Se deixar, o Júnior forra a casa com o São Paulo", protesta dona Alice, mãe do torcedor.



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