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Descamisado revela outro São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
O segredo está na coletânea de
almanaques e revistas. Com as
publicações em punho, Mario
Barreto Júnior responde de bate-pronto às questões que vizinhos e
amigos fazem sobre o São Paulo.
O principal artilheiro, os técnicos vitoriosos, o esquadrão que
colecionou mais títulos, as principais estatísticas. Tudo está registrado em páginas já carcomidas,
guardadas desde 1981.
"Naquele ano, conquistamos o
bi no Paulista. A partir daí, comecei a preservar tudo o que saía sobre o meu time", lembra Barreto.
O manancial de seus conhecimentos, porém, corre perigo. Ex-auxiliar de almoxarifado, desempregado há três anos e fazendo bicos para sobreviver, Barreto já recebeu propostas para vender sua
coleção. Até agora, resistiu.
"O São Paulo é importante demais para mim", conta ele.
A biografia de Barreto, 33, aniquila o estereótipo de "mauricinho" que o torcedor do time do
Morumbi sempre ostentou.
Ele divide com a mãe uma casinhola de quatro cômodos no jardim São Luiz, zona sul da cidade.
E não é uma exceção.
Pesquisa Datafolha mostrou
que os entusiastas do São Paulo
não estão apenas nos bairros nobres. Mais: em regiões periféricas,
a disputa pela preferência é acirrada. Nas cercanias da moradia de
Barreto existem 24% de corintianos e 22% de são-paulinos. Ou seja, empate técnico, já que a margem de erro é de dois pontos.
Falar de seu time, contudo,
sempre traz um certo saudosismo
à tona. Lembranças da época em
que podia pagar e ir ao estádio.
"Hoje o ingresso é caro demais."
Nem uma camisa do clube Barreto pode vestir. As poucas que
possuía não serviam mais no corpanzil de 1,81 m e 105 kg. Sua mãe,
então, decidiu vendê-las.
Sem dinheiro para grandes realizações, ele alimenta sua paixão
nos detalhes. A acanhada sala da
casa, por exemplo, respira futebol. Nas paredes, há um pôster do
escrete bicampeão mundial em
1993, uma faixa comemorativa ao
paulista de 1981 e um brasão protegido por uma redoma de vidro.
"Tinha coisa pregada em todos
os lados, mas eu mandei arrancar
tudo. Se deixar, o Júnior forra a
casa com o São Paulo", protesta
dona Alice, mãe do torcedor.
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