|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BASQUETE
Olé, touro!
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Menosprezado por outros
"managers", ridicularizado
pela imprensa e caçoado pelos
atletas -que o chamavam de
Crumbs (Migalhas, em alusão à
fome devastadora)-, Jerry Krause era um baita estrategista.
Foi o gerente quem enxergou os
talentos, até então amordaçados,
e, para espanto geral, contratou o
desconhecido Scottie Pippen para
ser o parceiro de Michael Jordan.
Foi ele quem percebeu a capacidade de liderança e a visão tática
aguçada e, a despeito da fama de
beatnik irresponsável que corria
pela liga, ofereceu o primeiro emprego ao técnico Phil Jackson.
Foi Krause quem ousou pela
primeira vez levar os milhões de
dólares da NBA para a Europa,
no cortejo ao croata Toni Kukoc,
arma importantíssima na segunda metade do hexacampeonato.
Foi dele a idéia de redimir o
deslocado Dennis Rodman, que,
em Chicago, pintou a cabeleira e
se transformou no maior reboteiro da história do basquete.
Krause, no entanto, é hoje lembrado pela incapacidade de estancar as lágrimas que todos derramamos quando Jordan anunciou a (primeira) aposentadoria.
Desde o inesquecível título de
1998, os Bulls não alcançam os
playoffs -um tombo sem precedentes na liga americana. Culpa
das besteiras do gerente gorducho!, repetiu a galera até arrancar
a demissão dele, em 2003.
Mas uma análise menos emocional desses anos de calvário
mostra que o "manager" em nenhum momento perdeu o faro.
Sabe-se agora que Krause queria o adolescente Tracy McGrady,
que mofava no banco do Toronto,
ciente de que craques estabelecidos evitariam a sombra de MJ.
Que a contragosto, cumprindo ordens do patrão, perseguiu em vão
Grant Hill e Tim Duncan.
Que teve de se resignar com o
caminho mais lento para a reconstrução da equipe: o "draft". E
que, ainda assim, tomou as melhores decisões -quando foi conservador (Elton Brand, Jay Williams e Eddie Curry) e quando
foi atrevido (Ron Artest, Jamal
Crawford e Tyson Chandler).
Quem podia imaginar que o esperto Williams se arrebentaria de
motocicleta no poste? Que os acessos súbitos de fúria de Artest deixariam os colegas em pânico?
Que o grandão Curry era tão preguiçoso? Que Chandler pertenceu
à única fornada de colegiais que
não faz maravilhas na NBA? Que
Brand, negociado com o LA Clippers, não murcharia como tantos
outros alas-pivôs baixinhos?
Ok, Krause quis ser criativo demais e errou ao pinçar Tim Floyd
para suceder Jackson. Mas é pouco para merecer tantas pedras.
A verdade é que o gerente sucumbiu por falta de sorte, porque
o esporte tem disso. Um dia o toureiro faz tudo certo, o touro faz
tudo errado, e mesmo assim os
chifres acertam as carnes.
Faltou-lhe a sorte que parece ter
retornado ao United Center. Sim,
sorte, pois não há mérito na ascensão do Chicago, finalmente de
volta à zona de classificação.
Scott Skiles é um técnico temeroso
e bitolado. O elenco segue desbalanceado. E o candidato a craque,
o armador Kirk Hinrich, perde
tempo valioso de aprendizado,
improvisado como chutador.
Açougue 1
Perguntaram a Jerry Reinsdorf por que confiava o time ao impopular
xará. O dono do Chicago Bulls respondeu: "Krause é baixinho, gordo, feio e talvez precise de um transplante de carisma. Mas um dia
indagaram a Abraham Lincoln se ele realmente acreditava que Ulysses S. Grant era o nome mais adequado para chefiar o Exército da
União, já que se tratava de um notório alcoólatra. Lincoln respondeu
que, se ajudasse a criar generais como Grant, ele embebedaria todo o
comando militar."
Açougue 2
Na semana passada, errei a data do debate dos presidenciáveis da
CBB, na UniverCidade (Rio), que será em 22 de fevereiro. Ontem, sonhei que era jogador de vôlei. Que fase.
E-mail: melk@uol.com.br
Texto Anterior: Vida dupla: Título é detalhe para chefe do Nacional Próximo Texto: Futebol: O verão de Kia Joorabchian Índice
|