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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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BASQUETE

Ampulheta

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Nunca o basquete gozou de tanta saúde nos EUA.
A soma de praticantes e aficionados faz dele o esporte coletivo número 1, segundo levantamentos encomendados pela indústria de material esportivo ao instituto American Sports Data.
A bola laranja encabeça a preferência dos homens, do público adolescente (12 a 17 anos) e dos adultos (18 a 34). De 1987 a 2000, foi a que mais se popularizou entre as mulheres (+17%).
Atualmente são 40 milhões de praticantes, número que vem crescendo 3% anualmente e que só perde para o de atividades esportivas de caráter pessoal (musculação, caminhada, aeróbica etc). Vice, o beisebol/ softbol tem 9 milhões de adeptos a menos.
Nenhuma outra modalidade atrai mais interesse dos alunos. Quase 35 mil times de "high school" disputam campeonatos, um recorde histórico, confirma a Associação Nacional das Escolas.
Nunca, também, a NBA, no topo da pirâmide do esporte, agiu tão agressivamente para conquistar e cativar o seu público.
Um a um, os antigos ginásios ruíram, trocados por edifícios projetados para mimar o torcedor-consumidor. Os times profissionalizaram os departamentos de relações públicas. Do puro merchandising às ações de caridade, a ordem foi expor a marca da liga -e as de seus parceiros.
Nos mata-matas do ano passado, pela primeira vez, a média de público rompeu a barreira de 20 mil pagantes. No total, mais de 20 milhões de ingressos foram vendidos ao longo do torneio, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 88%, dois pontos percentuais acima da de 2001.
Nunca, também, o basquete esteve tão presente na vida do telespectador americano. Em média, os jogos são servidos por três emissoras a cada praça. Sem contar o "NBA.com TV", canal que oferece 24 horas de programação e acesso a todas as partidas do torneio -e que hoje dispõe de 12 milhões de assinantes, quase quatro vezes o mercado brasileiro da TV paga.
O último All-Star Game, por exemplo, alcançou 8,2 pontos de audiência, o equivalente a 10,8 milhões de domicílios, recorde na TV a cabo norte-americana.
Mas não é que a exuberância desses números, tão festejada pelos marqueteiros do esporte, acaba de ser confrontada? Na semana passada, a "Sports Illustrated" divulgou pesquisa de opinião sobre a bola ao cesto e referendou os temores que assombravam a cúpula mais esclarecida da NBA.
Dos mais de mil entrevistados, somente 37,7% disseram-se interessados pelas partidas. Dessa legião, 40,1% declararam que seu entusiasmo caiu desde 1998, quando Michael Jordan deixou o Chicago Bulls. Apenas 11,1% afirmaram estar mais atraídos.
As respostas apontam para a latente dissociação entre o jogo e o fã, entre o esporte de alto rendimento e o esportista, entre o público e o privado (e, extrapolando, entre a notícia e o leitor).
Mostra que o trabalho não pode parar nunca. E que, às vezes, nem ele garante resultados.
O tempo das pessoas é cada vez mais valioso. O basquete brasileiro precisa acertar o relógio.

Areia 1
No fim de janeiro, litígio entre NBA e TVs deixou o basquete fora das redes a cabo de Minnesota. Prevendo a revolta dos 180 mil assinantes afetados, a equipe resolveu distribuir 5.000 ingressos. Só apareceram 1.178 interessados. Detalhe: o time nunca esteve tão bem (36v, 21d).

Areia 2
O Atlanta prometeu indenizar os fãs em até US$ 200 caso não passasse à segunda fase. Ainda assim, o ginásio continuou vazio. Agora que a vaga parece impossível (21v, 35d), imagine o que acontecerá.

Areia 3
Tamanha a indiferença dos torcedores, o Memphis (16v, 38d) apelou para a venda de ingressos de porta em porta. "Pague um, leve dois."

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