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BASQUETE
Ampulheta
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Nunca o basquete gozou de
tanta saúde nos EUA.
A soma de praticantes e aficionados faz dele o esporte coletivo
número 1, segundo levantamentos encomendados pela indústria
de material esportivo ao instituto
American Sports Data.
A bola laranja encabeça a preferência dos homens, do público
adolescente (12 a 17 anos) e dos
adultos (18 a 34). De 1987 a 2000,
foi a que mais se popularizou entre as mulheres (+17%).
Atualmente são 40 milhões de
praticantes, número que vem
crescendo 3% anualmente e que
só perde para o de atividades esportivas de caráter pessoal (musculação, caminhada, aeróbica
etc). Vice, o beisebol/ softbol tem 9
milhões de adeptos a menos.
Nenhuma outra modalidade
atrai mais interesse dos alunos.
Quase 35 mil times de "high
school" disputam campeonatos,
um recorde histórico, confirma a
Associação Nacional das Escolas.
Nunca, também, a NBA, no topo da pirâmide do esporte, agiu
tão agressivamente para conquistar e cativar o seu público.
Um a um, os antigos ginásios
ruíram, trocados por edifícios
projetados para mimar o torcedor-consumidor. Os times profissionalizaram os departamentos
de relações públicas. Do puro
merchandising às ações de caridade, a ordem foi expor a marca
da liga -e as de seus parceiros.
Nos mata-matas do ano passado, pela primeira vez, a média de
público rompeu a barreira de 20
mil pagantes. No total, mais de 20
milhões de ingressos foram vendidos ao longo do torneio, o que
corresponde a uma taxa de ocupação de 88%, dois pontos percentuais acima da de 2001.
Nunca, também, o basquete esteve tão presente na vida do telespectador americano. Em média,
os jogos são servidos por três emissoras a cada praça. Sem contar o
"NBA.com TV", canal que oferece
24 horas de programação e acesso
a todas as partidas do torneio -e
que hoje dispõe de 12 milhões de
assinantes, quase quatro vezes o
mercado brasileiro da TV paga.
O último All-Star Game, por
exemplo, alcançou 8,2 pontos de
audiência, o equivalente a 10,8
milhões de domicílios, recorde na
TV a cabo norte-americana.
Mas não é que a exuberância
desses números, tão festejada pelos marqueteiros do esporte, acaba de ser confrontada? Na semana passada, a "Sports Illustrated"
divulgou pesquisa de opinião sobre a bola ao cesto e referendou os
temores que assombravam a cúpula mais esclarecida da NBA.
Dos mais de mil entrevistados,
somente 37,7% disseram-se interessados pelas partidas. Dessa legião, 40,1% declararam que seu
entusiasmo caiu desde 1998,
quando Michael Jordan deixou o
Chicago Bulls. Apenas 11,1% afirmaram estar mais atraídos.
As respostas apontam para a latente dissociação entre o jogo e o
fã, entre o esporte de alto rendimento e o esportista, entre o público e o privado (e, extrapolando,
entre a notícia e o leitor).
Mostra que o trabalho não pode
parar nunca. E que, às vezes, nem
ele garante resultados.
O tempo das pessoas é cada vez
mais valioso. O basquete brasileiro precisa acertar o relógio.
Areia 1
No fim de janeiro, litígio entre NBA e TVs deixou o basquete fora das
redes a cabo de Minnesota. Prevendo a revolta dos 180 mil assinantes
afetados, a equipe resolveu distribuir 5.000 ingressos. Só apareceram
1.178 interessados. Detalhe: o time nunca esteve tão bem (36v, 21d).
Areia 2
O Atlanta prometeu indenizar os fãs em até US$ 200 caso não passasse à segunda fase. Ainda assim, o ginásio continuou vazio. Agora que
a vaga parece impossível (21v, 35d), imagine o que acontecerá.
Areia 3
Tamanha a indiferença dos torcedores, o Memphis (16v, 38d) apelou
para a venda de ingressos de porta em porta. "Pague um, leve dois."
E-mail melk@uol.com.br
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