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FUTEBOL
O outono dos patriarcas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje eu poderia falar do São
Caetano 100%, da surpreendente Portuguesa Santista ou do
empate conveniente entre São
Paulo e Santo André. Poderia falar do absurdo regulamento que
dará ao Corinthians, segundo colocado do Grupo 3, a vantagem
do mando de jogo e do empate no
jogo contra o líder do Grupo 1, o
Barbarense. Poderia falar da ironia de o Santos ficar logo atrás do
time que entrou de forma ilícita
no torneio. Poderia falar de tudo
isso, mas não vou.
Hoje achei que o melhor assunto seriam dois patriarcas da política brasileira: Antonio Carlos
Magalhães e Ricardo Teixeira
(sim, futebol também é política).
Eles têm mais em comum do que
sonha nossa vã sociologia. Tanto
ACM quanto Teixeira estão no
poder há muito tempo, valendo-se de manobras nem sempre muito transparentes. Tanto ACM
quanto Teixeira foram alvos de
denúncias e tiveram que se esforçar muito para escapar de investigações parlamentares.
Tanto ACM quanto Ricardo
Teixeira, percebendo a perspectiva de mudança na política, procuraram se aproximar de Lula,
declarando seu voto nele, fazendo
juras de amor e tratando de estabelecer canais de comunicação
para, numa eventualidade, poder
apelar para os métodos aos quais
se habituaram a recorrer.
Tanto ACM quanto Ricardo
Teixeira abriram o ano mostrando que os tempos mudaram, mas
eles não. ACM foi apanhado no
caso dos grampos telefônicos, um
escândalo pessoal e político que
mostra os métodos que o (ainda)
senador usa para ter todos seus
desafetos sob seu poder.
Ricardo Teixeira não ficou
atrás e, também pensando que
ainda podia fazer tudo, convidou
o Flamengo e o Cruzeiro para
participar da Copa Sul-Americana em lugar do Atlético-MG e do
Juventude, clubes mais bem classificados no último Brasileiro e
que, portanto, deveriam ter sido
premiados com essas vagas.
Os dois patriarcas, nesse começo de ano, continuaram se julgando onipotentes. A diferença é que
Teixeira ainda não se sente tão
pressionado quanto ACM e pensa
mais em reeleição do que em renúncia. Ele talvez confie na distração dos torcedores, no esquecimento da imprensa e na sonolência da Justiça. Talvez acredite que
os tempos não mudaram tanto.
Pode ser que ele tenha razão. O
novo governo não fez muito esforço para investigar ACM e, se não
fossem as denúncias de "Veja" e
"Isto É", talvez o caso morresse
com o tempo. No caso do futebol,
mesmo que a CBF seja uma instituição privada, cabe ao poder público uma tomada de posição. O
ministro Agnelo Queiroz vem de
um time, o PC do B, que pode ter
vários defeitos, mas possui uma
grande qualidade: não foge do jogo, não perde por WO.
Além disso, a torcida do Atlético-MG está indignada e mobilizada. As injustiças já não recebidas apenas com muxoxos ou frases como "o Brasil não tem jeito
mesmo...". Esses dois velhos patriarcas são um bom teste para
sabermos se os novos tempos são
realmente novos.
Quadrilhas
Os confrontos causados pela
Tricolor Independente provocaram três mortes no último
fim de semana. Um corintiano,
um são-paulino, um palmeirense. Um triste empate. Ou
uma tripla derrota. O assassinato de alguém que sai para se divertir, seja para sambar ou torcer pela sua equipe, é mais do
que um assassinato, é a proibição da felicidade. Simbolicamente, a violência chega às
duas instituições mais sagradas
do país, o futebol e o Carnaval,
dois símbolos de nossa improvável alegria. E houve ainda o
caso do ex-presidente da torcida uniformizada santista Sangue Jovem, que foi preso na semana passada por tráfico de
drogas e posse de armas. Torcidas ou blocos que utilizam armas não são torcidas ou blocos.
São quadrilhas.
E-mail torero@uol.com.br
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