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Rio ergue, com contrato ilegal, estádio para o Pan
Documento entre governo e Comitê Olímpico Brasileiro excede o prazo máximo de cessão previsto em lei
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O contrato de cessão do terreno
em que está sendo construído o
estádio João Havelange desrespeita a lei complementar estadual
número 8, de 25 de outubro de
1977, que dispõe sobre o regime
jurídico dos bens imóveis do Estado do Rio de Janeiro.
A obra, feita pelo governo do
Rio para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), será usada durante
os Jogos Pan-Americanos de
2007, que serão na cidade.
No dia 30 de abril do ano passado, o COB recebeu por 25 anos,
prorrogáveis por outros 25, o terreno de 170 mil metros quadrados
localizado no Engenho de Dentro,
zona norte da cidade, onde está
sendo erguido o estádio.
Apesar de a cessão ter sido assinada pela governadora do Rio,
Rosinha Matheus, o artigo 40 da
lei complementar de 1977 não
permite o acordo.
O texto do artigo afirma que "o
Poder Executivo poderá ceder,
mediante remuneração ou encargo, o uso de imóveis do Estado,
pelo prazo máximo de dez anos, a
pessoa jurídica de direito privado
de relevante valor social", como é
o caso do COB.
Sendo assim, o contrato terá
que ser refeito para poder se adequar à lei estadual, que prevê apenas dez anos de cessão, segundo
cinco advogados especializados
em direito administrativo consultados pela Folha.
Uma outra alternativa para regularizar a situação seria fazer
com que a Assembléia Legislativa
do Rio realizasse uma votação para mudar a legislação, caso o governo decida mesmo manter o
acordo por 25 anos.
Na tentativa de viabilizar o contrato, o governo do Rio se baseou
na lei estadual ordinária criada
em 2002, que mesmo assim não
tem poder para anular a lei complementar de 1977, de acordo com
a análise dos advogados.
Na redação da lei ordinária número 3.984, de 11 de outubro de
2002, a então governadora do Rio
Benedita da Silva autorizou a Flumitrens, empresa que operava
trens suburbanos do Rio, a ceder
o terreno para o COB por 25 anos.
A empresa repassou o uso do
imóvel ao comitê para abrigar as
instalações do Centro Olímpico
de Desenvolvimento de Talentos,
um projeto que por enquanto ainda não saiu do papel.
Com a vitória do Rio, no ano
passado, para sediar o Pan-Americano de 2007, o governo estadual refez o acordo em 2003 para
incluir a construção do estádio
João Havelange.
Na cessão feita ao COB, o governo do Rio cede ainda ao comitê o
direito de uso de 10% da área do
terreno para atividades de natureza comercial compatíveis com a
finalidade do projeto.
Em outras palavras, o acordo
permite que o comitê olímpico
construa um centro comercial
próximo ao futuro estádio, que ficará localizado em uma das regiões mais valorizadas da zona
norte da capital fluminense.
O terreno destinado ao COB,
com 17 mil metros quadrados, é
quase três vezes maior que o centro de lazer já projetado para ser
construído pela prefeitura junto
ao estádio.
O estádio olímpico será a principal arena esportiva construída
para o Pan-2007.
No estádio serão disputadas algumas das partidas de futebol,
além das provas de atletismo.
As cerimônias de abertura e encerramento do Pan-Americano,
no entanto, devem mesmo ser
realizadas no Maracanã.
Apesar da cessão do terreno ter
sido feita para o COB, a construção do estádio será paga com dinheiro da Prefeitura do Rio.
O orçamento inicial da obra foi
estipulado em R$ 166 milhões.
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