|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
A prancheta dos técnicos
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Antes do amistoso contra a
Irlanda, Parreira assistiu a
várias partidas na Europa, disse
que a maioria das equipes joga no
tradicional 4-4-2 e que o futebol
está globalizado. O mundo também está globalizado, mais louco,
violento e injusto.
Mas o Parreira não precisava
viajar para constatar isso, já que
a maioria das partidas passa nas
televisões do Brasil. Poucos grandes times, como a Roma e a Inter
na Itália e também a seleção argentina, ainda jogam com três zagueiros e dois alas. Alguns técnicos brasileiros adoram esse esquema. Parece que são modernos.
Desconhecem a realidade.
O esquema tático tradicional,
com quatro defensores, quatro no
meio-campo (dois volantes e um
meia de cada lado) e dois atacantes, começou em 1966, com a seleção inglesa campeã do mundo.
Após 38 anos, pouco mudou.
Há algumas variações. Na Inglaterra, os quatro do meio-campo formam uma linha, que avança e recua em bloco. Dependendo
do posicionamento desses jogadores, o time será mais ofensivo ou
defensivo. A melhor maneira para jogar na defesa e no contra-ataque é formar duas linhas de
quatro bem recuadas, sem espaço
entre elas.
No Brasil, as equipes que jogam
com quatro no meio-campo têm
um volante mais recuado, que se
posiciona quase como um terceiro
zagueiro, para deixar os laterais
apoiarem. Na Europa, os laterais
são essencialmente marcadores.
Por isso, os dois volantes marcam
mais na frente.
Algumas equipes da Europa,
em vez de ter um armador mais
ofensivo de cada lado, utilizam
jogadores velozes que defendem e
atacam como pontas. A Espanha
e as equipes da Holanda jogam
dessa forma. No Brasil, são os laterais que avançam pelas pontas.
A mais comum variação no
Brasil do tradicional 4-4-2 é, em
vez de quatro, formar uma linha
de três no meio-campo e colocar
um quarto armador mais adiantado, próximo dos dois atacantes.
A seleção brasileira, Cruzeiro,
Santos, Flamengo, Milan e muitas outras equipes atuam assim.
Essa maneira de jogar tornou-se
freqüente na Europa.
No esquema tradicional com
dois volantes e um meia de cada
lado, falta esse armador de ligação pelo meio. Algumas equipes,
como o Real Madrid, recuam um
dos atacantes para fazer essa função. O Real joga com dois volantes, Figo de um lado, Zidane do
outro e o Raúl pelo meio, próximo
ao Ronaldo. Quando o time recupera a bola, Figo, Zidane e Raúl se
transformam em atacantes.
Na seleção brasileira, Milan e
Cruzeiro, há três no meio-campo,
dois meias ofensivos e um único
atacante fixo. Na prática, são três
atacantes, já que os dois meias recuam somente para receber a bola e não participam da marcação
no meio-campo.
Outros times jogam com três no
meio-campo e três autênticos atacantes (dois pelos lados e um centroavante). O Corinthians jogava
dessa forma quando era dirigido
pela Parreira. Os dois "pontas"
também recuam para marcar os
laterais.
Todos os esquemas táticos têm
vantagens e desvantagens. O melhor vai depender do momento da
partida, do adversário e das características dos jogadores. Alguns técnicos, apaixonados pela
prancheta, se sentem mais importantes do que os atletas. É o craque que faz a diferença.
Passado e futuro
Na final do primeiro turno do
Estadual do Rio, o time organizado do Flamengo foi muito melhor
do que o desorganizado do Fluminense. Enquanto o Flamengo
tinha três no meio-campo, que
marcavam e avançavam, no Fluminense só havia dois, que ainda
corriam atrás do Felipe nas laterais. Ficou um buraco no meio.
Roger e Ramon somente recuavam para receber a bola. Os dois
não são atletas de meio-campo.
Se Felipe continuar dando
show, Zinho mantiver o ritmo e os
jovens promissores evoluírem, o
Flamengo poderá se tornar um
dos grandes no Campeonato Brasileiro. Ainda não é.
No imaginário de muitas pessoas, o Fluminense era favorito
porque tinha quatro craques, um
quarteto fantástico. Edmundo e
Romário não são mais os jogadores que foram. Ramon e Roger são
excelentes, mas nunca foram craques. Isso não significa que eles e
o time não possam melhorar e ganhar o título carioca, já que os
principais adversários estão mais
ou menos no mesmo nível.
A conquista da Taça Guanabara foi uma vitória do novo sobre o
antigo, do futuro sobre o passado.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Como fazer tudo (muito) errado Índice
|