São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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TÊNIS

Como fazer tudo (muito) errado

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Mais humilhante do que perder? É perder e, com a derrota, cair para a segunda divisão. Assim aconteceu em setembro de 2003 com a equipe brasileira na Copa Davis. Mais do que a derrota em si, aliás, ficou a sensação ruim de ter sido atropelada por uma equipe fraca tecnicamente, sem tradição, como a canadense.
Perder, sim, faz parte do jogo. Críticas a uma atuação específica de um ou outro tenista são normais; dúvidas em relação à capacidade do comando técnico existem em qualquer modalidade.
O que aconteceu desde aquele setembro negro, porém, foi uma sucessão de erros jamais vista no tênis nacional.
Ainda no ano passado, depois do fiasco na repescagem da Copa Davis, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis já havia decidido trocar o comando da equipe. Optou, porém, por deixar o tempo passar. Gastou mais tempo pensando em como se safar das denúncias de irregularidade administrativa apontadas pela oposição do que planejando o futuro do tênis nacional.
Inexplicavelmente, o dirigente deixou de atender os telefonemas do capitão da equipe. Não atendia, não ligava de volta, nenhuma atenção dava aos recados a ele deixados. Deixou também para a véspera da abertura do maior torneio de tênis disputado no país o anúncio de troca de capitão. Instaurou uma grande bagunça e, enfim, foi passar o Carnaval em Bruxelas. O Carnaval acabou, mas ele continua lá.
O capitão também deixou o tempo passar, acreditando que a poeira sumisse. Apostou na fidelidade dos tenistas, apesar de, no fundo, não ter o apoio de dois deles. Competente e inteligente, errou ao não articular sua permanência. Deixou em um dos tenistas a imagem de que estava mais preocupado com sua situação do que com o grupo. Em outro, deixou a impressão de que era incapaz de peitar o presidente, de interceder em favor da equipe.
Os tenistas, enfim, também derraparam. Desde aquela fatídica derrota em setembro e o rebaixamento, não marcaram posição. Fora dos holofotes e longe dos microfones, alguns cogitaram até não jogar mais pelo país, pelo menos enquanto o comando da confederação não mudasse. Mas nenhum deles teve coragem para deixar isso claro. Ocuparam-se mais em cuidar da carreira própria a enfrentar essa situação que tanto incomodava.
O novo capitão assume com o ambiente mais conturbado possível. Tenta passar na TV a imagem de que está tudo muito bem. O ex-tenista hoje capitão realiza finalmente um sonho, mas terá de ganhar a confiança de pelo menos um dos tenistas, que tem dúvidas sobre suas reais intenções como comandante da turma. "A mudança ocorre num momento propício", chegou a dizer, contrariando qualquer lógica.
Em pleno Carnaval baiano, na paradisíaca Costa do Sauípe, durante a maior festa do país e na semana do mais importante torneio de tênis do país, a bomba estourou. Perder e cair para a segunda divisão, vê-se agora, não é nenhuma problema. Problema é não conseguir fazer nada certo.

Bem lá atrás
Doze brasileiros disputaram o qualifying na Costa do Sauípe; só três passaram à segunda rodada (dois venceram duelo de brasileiros na estréia). Nenhum chegou perto de ganhar uma vaga na chave principal. Por mérito próprio, só dois brasileiros entraram no torneio.

No mesmo lugar
Uma das vantagens de jogar a Davis em casa é poder jogar onde torcida ajude. O Brasil escolheu o Sauípe. Quem aposta em casa cheia diante dos paraguaios em abril, pela segunda divisão?

Só lá na frente
A CBT adiou para maio a abertura do Circuito Grand Slam infanto-juvenil deste ano. Problema? Excesso de competições no país.

E-mail reandaku@uol.com.br


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