|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Política ameaça tirar judô de Pequim
União continental quer desfiliar Brasil se o país promover "assembléia ilegal"
Presidente da confederação brasileira é acusado de orquestrar "golpe de Estado" em reunião marcada no Rio, mas desdenha de risco
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O judô brasileiro está ameaçado de não participar dos Jogos Olímpicos de Pequim. E o
motivo não tem nada a ver com
disputas no tatame, entre atletas de quimono. Mas sim por
uma luta política, protagonizada por dirigentes engravatados
num dos mais luxuosos hotéis
da orla carioca.
A Folha obteve cópias de
duas cartas remetidas pela UPJ
(União Pan-Americana de Judô) na última quarta-feira. Em
uma delas, o dominicano Jaime Casanova Martinez, presidente da entidade continental,
adverte a CBJ (Confederação
Brasileira de Judô) e ameaça
desfiliar a entidade.
Se isso acontecer, o Brasil ficará fora dos Jogos Olímpicos
de Pequim. O estatuto da FIJ
(Federação Internacional de
Judô), a entidade que comanda
o esporte no mundo, logo em
seu artigo 1º, diz que só reconhece filiações de países membros de entidades continentais.
O motivo da ameaça da UPJ
-que foi informada também ao
Comitê Olímpico Brasileiro- é
uma reunião organizada pela
CBJ e pela federação uruguaia
e agendada para quinta e sexta,
no luxuoso hotel Copacabana
Palace, no Rio de Janeiro.
Segundo denúncia de Casanova à FIJ e ao Comitê Olímpico Internacional, o encontro é
uma tentativa de "golpe de Estado" contra sua entidade.
Ele afirma que, liderados pelo presidente da CBJ, Paulo
Wanderley, e da federação uruguaia, Ignacio Aloise, os representantes das entidades nacionais transformarão o encontro
numa "ilegal assembléia da
UPJ", que destituiria a cúpula
da entidade continental.
O dominicano acusa os líderes da estratégia de "oferecer
dinheiro para passagens aéreas, acomodação e muitos outros benefícios" aos cartolas
convidados para o encontro.
Além de expor o dirigente
brasileiro no plano internacional, a ameaça repercute também dentro do país, pois, até
agora, o judô nacional não conseguiu novos patrocinadores, a
despeito de ter obtido, em
2007, os melhores resultados
da história -13 medalhas nos
Jogos Pan-Americanos e quatro no Mundial do Rio.
Reservadamente, técnicos de
atletas que disputam vagas
olímpicas, bem como seus pupilos, queixam-se do fato de a
CBJ não ter ainda transformado em maior investimento o
êxito nos tatames -uma das
judocas que busca a vaga em
Pequim, por exemplo, ganha
R$ 500 mensais de seu clube.
Logo após o Mundial, a CBJ
chegou a anunciar planos decorrentes de uma parceria que
tenta com a Mizuno -que ainda não foi assinada-, incluindo
até quiosques com produtos da
empresa nos aeroportos e cuja
venda renderia royalties aos judocas da seleção.
Wanderley desdenhou da
ameaça de desfiliação: "É mais
fácil a FIJ não reconhecer a
UPJ do que desfiliar o Brasil."
Sobre o encontro no Rio, informou que "é uma reunião
privada de alguns países pan-americanos e que não tem nada
a ver com a UPJ, cujo presidente tem medo das nossas ações e
reage com ameaças".
Ele não detalhou a pauta do
encontro nem o número de federações convidadas, mas afirmou que o encontro "tem custo
zero para a CBJ".
Desde o início do ano, o brasileiro e o dominicano trocam
farpas. Segundo Wanderley, é
porque Casanova teme sua
candidatura à presidência da
UPJ, em novembro.
Na última sexta-feira, ele explicara a ausência de novos patrocinadores.
Disse que, além da Mizuno
-cujo acordo de fornecimento
está certo, só faltando as assinaturas-, há conversas com
outras empresas, inclusive
uma montadora de carros.
Segundo ele, houve precipitação de parte do estafe da CBJ,
ao anunciar como certeza algumas idéias de marketing, antes
mesmo do acordo com a multinacional japonesa.
Texto Anterior: Tráfego: Times treinam com concorrência Próximo Texto: Time de 2004 pode repetir só um nome Índice
|