São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Política ameaça tirar judô de Pequim

União continental quer desfiliar Brasil se o país promover "assembléia ilegal"

Presidente da confederação brasileira é acusado de orquestrar "golpe de Estado" em reunião marcada no Rio, mas desdenha de risco

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O judô brasileiro está ameaçado de não participar dos Jogos Olímpicos de Pequim. E o motivo não tem nada a ver com disputas no tatame, entre atletas de quimono. Mas sim por uma luta política, protagonizada por dirigentes engravatados num dos mais luxuosos hotéis da orla carioca.
A Folha obteve cópias de duas cartas remetidas pela UPJ (União Pan-Americana de Judô) na última quarta-feira. Em uma delas, o dominicano Jaime Casanova Martinez, presidente da entidade continental, adverte a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) e ameaça desfiliar a entidade.
Se isso acontecer, o Brasil ficará fora dos Jogos Olímpicos de Pequim. O estatuto da FIJ (Federação Internacional de Judô), a entidade que comanda o esporte no mundo, logo em seu artigo 1º, diz que só reconhece filiações de países membros de entidades continentais.
O motivo da ameaça da UPJ -que foi informada também ao Comitê Olímpico Brasileiro- é uma reunião organizada pela CBJ e pela federação uruguaia e agendada para quinta e sexta, no luxuoso hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Segundo denúncia de Casanova à FIJ e ao Comitê Olímpico Internacional, o encontro é uma tentativa de "golpe de Estado" contra sua entidade.
Ele afirma que, liderados pelo presidente da CBJ, Paulo Wanderley, e da federação uruguaia, Ignacio Aloise, os representantes das entidades nacionais transformarão o encontro numa "ilegal assembléia da UPJ", que destituiria a cúpula da entidade continental.
O dominicano acusa os líderes da estratégia de "oferecer dinheiro para passagens aéreas, acomodação e muitos outros benefícios" aos cartolas convidados para o encontro.
Além de expor o dirigente brasileiro no plano internacional, a ameaça repercute também dentro do país, pois, até agora, o judô nacional não conseguiu novos patrocinadores, a despeito de ter obtido, em 2007, os melhores resultados da história -13 medalhas nos Jogos Pan-Americanos e quatro no Mundial do Rio.
Reservadamente, técnicos de atletas que disputam vagas olímpicas, bem como seus pupilos, queixam-se do fato de a CBJ não ter ainda transformado em maior investimento o êxito nos tatames -uma das judocas que busca a vaga em Pequim, por exemplo, ganha R$ 500 mensais de seu clube.
Logo após o Mundial, a CBJ chegou a anunciar planos decorrentes de uma parceria que tenta com a Mizuno -que ainda não foi assinada-, incluindo até quiosques com produtos da empresa nos aeroportos e cuja venda renderia royalties aos judocas da seleção.
Wanderley desdenhou da ameaça de desfiliação: "É mais fácil a FIJ não reconhecer a UPJ do que desfiliar o Brasil."
Sobre o encontro no Rio, informou que "é uma reunião privada de alguns países pan-americanos e que não tem nada a ver com a UPJ, cujo presidente tem medo das nossas ações e reage com ameaças".
Ele não detalhou a pauta do encontro nem o número de federações convidadas, mas afirmou que o encontro "tem custo zero para a CBJ".
Desde o início do ano, o brasileiro e o dominicano trocam farpas. Segundo Wanderley, é porque Casanova teme sua candidatura à presidência da UPJ, em novembro.
Na última sexta-feira, ele explicara a ausência de novos patrocinadores.
Disse que, além da Mizuno -cujo acordo de fornecimento está certo, só faltando as assinaturas-, há conversas com outras empresas, inclusive uma montadora de carros.
Segundo ele, houve precipitação de parte do estafe da CBJ, ao anunciar como certeza algumas idéias de marketing, antes mesmo do acordo com a multinacional japonesa.


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