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ANÁLISE
Submissão ao atraso
SÍLVIO LANCELLOTTI
da Equipe de Articulistas
No chamado mundo civilizado do futebol, a Europa, os
clubes grandes têm muito
mais privilégios do que os pequenos. Ostensiva razão: são
eles, claro, que produzem dinheiro nos campeonatos.
E não existem rebeldias que
revertam isso. Tomemos um
exemplo recente, na Itália.
Dois grupos de times menores
decidiram se revoltar contra
os maiores (Internazionale, a
Juventus, o Milan e Roma) e
apresentaram candidaturas
próprias à presidência da Liga
das agremiações.
Havia 38
votantes,
os 18 clubes da Série A e os
20 da B.
Num primeiro escrutínio, o
favorito
dos grandes, Franco Carraro, se limitou a quatro votos. Os diletos dos menores, Antonio Matarrese e Giuseppe Gazzoni Frascara, chegaram a 17 e a 16.
Bastaria uma aliança mínima dos pequenos para que
Matarrese, ou Gazzoni, conseguisse a entronização, correto? Não. Erradíssimo.
Os grandes, embora em dramática inferioridade, resolveram montar um comitê paralelo, velada ameaça de cisão.
Fiorentina, Lazio, Napoli e
Parma logo perceberam o risco que correriam sem os
maiores. No fim das contas,
obviamente, Carraro levou a
Liga com 36 dos sufrágios.
Por quê tanta disputa?
Acontece que, na Europa, ao
contrário do Brasil, as ligas
dos clubes são, muitas vezes,
mais importantes do que as
federações. Cabe às federações
a administração das seleções,
a representação de seus países
junto à Uefa e à Fifa. Cabe às
ligas, porém, cuidar do dinheiro proveniente das loterias esportivas, da comercialização dos torneios, da venda
dos direitos de transmissão
por rádio e por TV.
Na próxima temporada,
Carraro deverá administrar
cerca de US$ 700 milhões. E
nesse montante não se incluem as arrecadações dos jogos das séries A e B.
Na Europa, enfim, cabe às
ligas cuidar do negócio efetivo
do futebol. As federações se
limitam à política e à diplomacia da modalidade.
Os tribunais
de justiça e as
comissões disciplinares são
organismos
das ligas, e não
das federações.
Mesmo nos
níveis superiores, os clubes
detêm a última
palavra. Foram as agremiações que
impuseram à
Uefa as recentes modificações
nas copas interclubes do Velho Continente, com a criação
da Liga dos Campeões.
Que benefícios recebem o
Real Madrid ou o Manchester
United ao enfrentarem os
campeões da Albânia ou do
Luxemburgo? Nenhum. Aliás,
se arriscam em viagens deficitárias e em confrontos perigosos em campos carecas.
Um cotejo entre o Bayern e o
Barcelona pode render em
torno de US$ 3 milhões, só
com os ingressos vendidos.
Quanto se levantaria com um
prélio entre o Omônia de Chipre e o Inkaras da Lituânia?
Os clubes perdem ao não se
utilizarem da Lei Zico e ao
ignorarem a possibilidade de
transformar o Clube dos Treze
numa liga. A sua submissão à
CBF apenas atrasa o futebol.
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