São Paulo, terça, 25 de fevereiro de 1997.

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CBF dá `mesada' às federações em dificuldade e recebe apoio

FÁBIO VICTOR
da Reportagem Local

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) repassa todo mês uma verba para as federações estaduais mais pobres do país.
Segundo apurou a Folha, pelo menos nove federações dependem da ``mesada'' da CBF para se manter. Todas pertencem às regiões Norte e Nordeste do país. O valor das contribuições varia entre R$ 2.000 a e R$ 4.000 por mês.
O dinheiro corresponde a cerca de 50% da receita total que as federações apresentaram no ano passado. A arrecadação própria dessas entidades vem do percentual das rendas dos jogos realizados em seus Estados, entre 5 e 10%, das taxas de arbitragem e de transferência de jogadores.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está fora do país. O secretário-geral da entidade, Marco Antônio Teixeira, não respondeu aos telefonemas e faxes da reportagem da Folha.
Todos as federações agraciadas com a verba são comandadas por aliados políticos do presidente da CBF, a quem tratam com reverência e admiração.
``Eu sou do lado do Ricardo. Ele moralizou a CBF e influenciou na organização das federações'', diz o presidente da Federação de Futebol de Roraima, José Gama Xaud.
``Ricardo é um dos maiores administradores da história do futebol brasileiro'', declara Rosilene de Araújo Gomes, presidente da Federação Paraibana, que recebe R$ 4.000 por mês.
O dinheiro é usado para cobrir a folha de pagamento dos 11 funcionários e pagar as contas da entidade. A receita da Federação é complementada pelos 10% das rendas de jogos locais (no último estadual, a média de renda foi de R$ 758,15), e taxas de arbitragem.
Taxas de transferência de jogadores só são cobradas às federações Paulista (R$ 1.000,00 por atleta) e Pernambucana (R$ 250,00). ``São as únicas que cobram de nós'', diz Rosilene. Com as demais, há um acordo de isenção mútua.
Sensibilidade oficial
``Ricardo tem sido muito sensível com as federações mais humildes'', endossa o presidente federação do Rio Grande do Norte, Nilson Gomes da Costa, que diz receber R$ 2.000 por mês.
Costa diz que em cerca de 70% dos jogos do último Estadual, a federação não recebeu nada, de tão pequenas que foram as arrecadações. A média de renda do torneio foi de R$ 3.417,00.
O presidente da Federação do Acre, Antônio Aquino Lopes, critica a atitude dos colegas. ``Isso é acomodação. Quando não tiver, cada um terá que se virar'', diz.
Apesar disso, admite receber eventualmente socorro da confederação. ``Não tem nada fixo, é só quando o sapato aperta.''
O presidente da Federação Maranhense, Carlos Alberto Ferreira, alega que a transmissão excessiva de jogos pela TV está ``matando'' o futebol local.
Ele alega que isso prejudica as finanças da federação, o que leva a eventuais socorros à CBF. ``Quando a coisa está muito feia, tenho recorrido e sempre sou atendido'', diz, sem revelar o valor da ajuda.
Até localizar Ferreira, em sua casa, a Folha ligou para a Federação por duas semanas. O telefone chamava e ninguém atendia. Estava cortado, por falta de pagamento.

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