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MÁRIO MAGALHÃES
Mulher comanda na falida Paraíba
Antonio Gaudério/ Folha Imagem
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Rosilene de Araújo Gomes, presidente da Federação Paraibana de Futebol, distribui bolas a dirigentes de clubes amadores do Estado, que a apóiam nas eleições da entidade
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enviado especial a João Pessoa
Quem entra na sede da Federação Paraibana de Futebol, em João
Pessoa, vê logo na primeira sala
uma folhinha, ainda de 1996, com
uma foto de mulher, tirada há pelo
menos dez anos. O calendário não
mostra nenhuma modelo nua, como os que enfeitam borracharias,
mas um rosto.
Na sala seguinte, onde a folhinha
também está na parede, despacha
a responsável pela encomenda de
milhares delas para distribuição
gratuita em todo o Estado, com o
seu próprio retrato: Rosilene de
Araújo Gomes, única mulher a
presidir uma federação estadual
no Brasil.
Aos 49 anos, ela comanda a entidade há oito, com pulso de ferro. Já
foi reeleita duas vezes e fica, pelo
menos, até 1999.
Na sua primeira eleição, em
1989, obteve 51 dos 54 votos e se
envolveu numa briga que a deixou
vários dias no hospital com hematomas no corpo. ``Eu só fazia levar'', lembra.
Um adversário também foi internado. Entre seus agressores, o ferido apontou filhos de Rosilene.
Ela se casou aos 14 anos e teve
cinco filhos. Batizou um como
Douglas (por causa do ator Kirk
Douglas), outro como Tyrone
(homenagem ao astro hollywoodiano Tyrone Power). Já é avó de
dez crianças.
Satisfazendo o ego
Milionária, possui com o marido, o procurador do Estado Juracy
Pedro Gomes, fazendas, fábricas
(uma de material esportivo) e lojas
(pelo menos uma de esportes).
Questionada sobre o que a atrai
numa federação pobre, num Estado de futebol paupérrimo e no
conflito permanente com clubes,
Rosilene responde: ``Sou formada
em psicologia e filosofia. Sei que
estou aqui para satisfazer o ego.''
Sua carreira esportiva começou
cedo, muito cedo. Em 1962, quando se casou, o marido presidia o
Auto Esporte e ela o acompanhava
em jogos pelo interior.
Dois anos depois, quando Juracy
Gomes deixou a equipe da capital
paraibana, foi convidado para dirigir o ABC, um clube amador.
Como não quis, ela aceitou a presidência, aos 16 anos. Em 1965,
trocou o ABC pelo Filipéia e, em
1968, foi presidir o Atlético.
``Tenho amor ao esporte, não à
cor da camisa. Não torço por clube
algum. Já viu uma administradora
dessas?''
Em 1970, ganhou o título de madrinha do esporte amador, se afastou do futebol e, durante dez anos,
dedicou-se exclusivamente aos negócios da família.
Em 1980, o marido sucedeu o dirigente que dominava a federação
havia 25 anos e inaugurou uma
nova dinastia esportiva na Paraíba.
Ficou até 1986, quando deu lugar
a um presidente indicado por um
político local e, três anos mais tarde, patrocinou a candidatura de
sua mulher.
Rosilene afirma que não queria
dirigir a entidade. ``Mas ouvi meu
rival dizendo que se eu concorresse não seria páreo duro e que lugar
de mulher é em casa, lavando prato. Então, resolvi vencer.''
Sem baixaria
Na primeira reunião com clubes,
ela estabeleceu uma nova norma:
proibiu palavrões.
``Um presidente de clube quis
falar mais alto. Bati na mesma, exigi respeito e os palavrões acabaram. Era impossível uma mulher
participar da federação. Hoje,
quem tiver que dizê-los, que o faça
em casa ou na esquina.''
Ao conversar por telefone com o
presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira,
ouviu sugestão para entregar uma
procuração ao marido, que a representaria num encontro.
``E ele é o presidente?'', perguntou, irritada, a Teixeira.
Uma vantagem do modo feminino de administrar, na opinião de
Rosilene, é o constrangimento para lhe fazerem propostas escusas.
``Aqui não podem me chamar
num cantinho para tramar coisas
desonestas. Pegaria mal.''
Vaidosa (vai duas vezes por semana ao cabeleireiro) e cuidadosa
com o corpo (caminha, faz ginástica e recebe massagem todos os
dias), ela odeia novelas.
O telão de 65 polegadas no seu
quarto tem outro objetivo. ``É para ver melhor o futebol, claro.''
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