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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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BOXE

Duas perguntas

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do retorno da dinastia Jofre-Zumbano ao pódio com a vitória do superpesado Raphael Zumbano no torneio de estreantes Forja de Campeões, duas perguntas são pertinentes.
1) Raphael tem condições de representar o Brasil na Olimpíada de Atenas-2004? (Raphael explicou que esse é seu objetivo.)
2) Com 22 anos, ele não é velho para o boxe? (Essa boa questão foi apresentada por um colega.)
Para responder à primeira questão, vou contar uma história.
Em 1985 e 1987, um pugilista foi convidado pelo treinador da equipe do Exército dos EUA Hank Johnson para tentar ir a Seul-88.
Ele recusou em ambas as vezes, pois sabia que não se dedicaria -preferia as festas aos treinos.
Mas, em 88, disse a si mesmo que estava pronto. Aquele era o ano olímpico e havia ouvido que, quando você se concentra o bastante em um objetivo, o atinge.
Foi o que fez. Nos próximos meses, venceu o favorito Michael Bentt (que, depois, foi campeão da OMB) para assegurar uma vaga na equipe olímpica e nocauteou seus quatro rivais em Seul, incluindo o pugilista da casa, Baik Hyun Man, na finalíssima para se tornar campeão olímpico.
Quem era o tal pugilista?
"Merciless" Ray Mercer, que, depois, seria campeão da OMB e, quando motivado, daria vários shows (contra Lennox Lewis e Evander "Real Deal" Holyfield).
Então essa história mostra que é possível Raphael, ou qualquer outro novato, ir a Atenas-2004.
Sua categoria, no Brasil, não tem estrelas. O melhor deles, Ubiratan Santos, tem "queixo" suspeito. Mas, claro, Raphael terá de passar por ele. Se isso vai acontecer ou não, é outra história.
A pergunta mais importante dentro desse cenário é, se o objetivo de Zumbano é disputar a Olimpíada, no próximo ano, por que não participará do próximo torneio [Luvas de Ouro]? Afinal, de acordo com sua agenda, precisa ganhar experiência. E rápido.
O próprio responde: "As inscrições para o Luvas se encerraram no dia 15 e, como a Forja não havia acabado, não pude me inscrever. Mas falei com o Newton [Campos, presidente da Federação Paulista de Boxe] e ele disse que vai me arrumar lutas extras. A primeira deve ser em maio".
Quanto à segunda questão, a teoria é verdadeira para outras categorias de peso, porém não se aplica aos pesos-pesados.
Talvez porque a primeira coisa que o pugilista perde com a idade é a velocidade, característica secundária entre os grandalhões.
Novamente, tomo Mercer como exemplo. Ele se profissionalizou aos 28 anos e, aos 42, ainda tem apresentações exibidas pela HBO. E quem não lembra que George Foreman foi o mais velho campeão aos 45 anos? Os veteranos, na divisão dos pesados, não são a exceção, mas (quase) a regra.
Então, sim, é possível que Raphael ainda tenha sucesso na carreira como boxeador profissional.
Em ambos os casos, no entanto, é bastante prematuro para afirmar com segurança se Raphael alcançará ou não sucesso. Mas são duas possibilidades. Como é o caso com todos os lutadores, daqui para a frente só depende dele.

Na telinha
Ser colocado em um corredor onde em uma ponta há uma porta e em outra um cão feroz. O técnico solta o cachorro e o pugilista tem de correr o mais velozmente possível para alcançar a porta. Em outra situação, o técnico leva o boxeador de canoa ao meio de um lago e o lança na água, forçando-o a retornar nadando para a margem. Essas foram algumas técnicas de treinamento inusitadas a que o campeão dos cruzadores da FIB, Vassiliy Jirov, foi submetido no amadorismo. Amanhã, Jirov, do Cazaquistão, encara o desafio do veterano James "Lights Out" Toney em luta (teoricamente) equilibrada. A técnica do primeiro contra a pegada (principalmente nos golpes no corpo) do segundo. É incrível, mas desde que perdeu o título dos supermédios para Roy Jones Jr. em 94, o americano Toney nunca mais teve chance de lutar por um título. A HBO 2 exibe ao vivo a partir das 22h30.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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