São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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ATENAS 2004

Comitê teme que Jogos sejam cancelados e caça empresas para indenizá-lo; três já recusaram proposta

Medo de terrorismo faz COI correr atrás de seguro inédito

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O discurso é um, a prática, outra. Apesar de dizer que não há risco de os Jogos de Atenas serem cancelados ou interrompidos no meio, o Comitê Olímpico Internacional quer fazer um seguro inédito. Pela primeira vez na história, corre atrás de uma empresa que lhe reembolse parte da verba investida na Grécia caso a Olimpíada não seja realizada ou mesmo não chegue a seu final.
""[A tentativa de fazer o seguro] não significa falta de confiança em Atenas. Pelo contrário, acreditamos nas medidas tomadas, a segurança [US$ 820 milhões foram investidos no setor] será enorme, e as obras estarão prontas a tempo", afirma Giselle Davies, porta-voz do COI.
Mas não é bem assim. Depois do atentado terrorista de 11 de março em Madri, o COI teve duas reuniões de emergência com o Athoc, o comitê organizador, e saiu dos encontros decidido a contratar uma seguradora.
A avaliação é que, devido à conjuntura mundial, o risco de a Olimpíada não acontecer ou ser interrompida por causa de uma ação terrorista é muito maior do que o dos Jogos anteriores.
Em conjunto, COI e Athoc estão dispostos a pagar mais de US$ 100 milhões para segurar o evento. O valor é muito maior do que o desembolsado em Atlanta-1996 (US$ 25,5 milhões) e Sydney-2000 (US$ 5,7 milhões).
De acordo com Theodoros Roussopoulos, porta-voz do governo grego, as cifras envolvidas são maiores porque o contrato seria fechado em cima da hora -os Jogos terão início em 13 de agosto. ""E, por mais cuidado que tomemos, a situação internacional não é das mais favoráveis."
Mas há outra diferença: nos Jogos anteriores, o seguro cobria apenas acidentes, independentemente da causa, mas nada dizia sobre um possível cancelamento ou uma interrupção dos Jogos.
Até agora, três seguradoras londrinas foram procuradas, mas nenhuma se dispôs a fechar contrato com o COI e o Athoc.
Diante da dificuldade, a idéia das entidades é tentar acordo com um pool de empresas, como foi feito na Copa Coréia/Japão, a primeira depois do 11 de Setembro.
As seguradoras fariam o resseguro, ou seja, contratariam empresas que fazem o seguro da própria seguradora.
Para diminuir o risco de prejuízo -se os Jogos forem cancelados ou interrompidos, elas teriam que pagar até US$ 1 bilhão-, a operação envolveria a emissão de títulos de catástrofe.
Quem os comprasse ganharia juros acima do mercado, mas, se os Jogos forem cancelados ou interrompidos, para diminuir o prejuízo das seguradoras, elas não lhes pagariam os juros.
Thomas Bach, um dos vice-presidentes do COI, disse à Folha, por e-mail, que a apólice de seguro pode chegar a US$ 200 milhões, só que, nesse caso, envolveria não apenas a Olimpíada de Atenas, mas também as duas seguintes -a de 2008, em Pequim, e a de 2012, cuja sede ainda não foi definida. O Rio é uma das candidatas.
Segundo Bach, o COI iniciou contatos para segurar os Jogos em 2002, mas na ocasião não pensava em incluir cláusulas de indenização para casos de cancelamento ou interrupção do evento.
""Se tivéssemos feito o seguro alguns anos antes, o valor [da apólice] poderia ser mais baixo. É por isso que pensamos em colocar no pacote as duas Olimpíadas seguintes a Atenas. Seria uma forma de não termos de pagar tanto como teremos de fazer agora."


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