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FIM DO BAILE
Acostumados com o "setor mais democrático de estádio", torcedores fazem juras de amor e lamentam despedida
Geraldinos vivem últimas emoções no seu pedaço
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
"Se chorei ou se sofri, o importante é que grandes emoções na geral eu vivi." Escrita
em uma faixa, a mensagem,
que parodia o principal refrão
da música "Emoções", de Roberto Carlos, mostrava o sentimento de tristeza do mecânico
de avião e geraldino Róbson de
Oliveira, 44, com o fechamento
do setor mais popular do estádio do Maracanã. O jogo de ontem, entre Fluminense e São
Paulo, foi o último da geral, que
dará lugar a cadeiras.
Oliveira representa o que de
mais tradicional existia na geral. Como muitos outros torcedores, fazia questão de ir para o
Maracanã fantasiado de roqueiro do Kiss (grupo de rock
pesado). "Faz 20 anos que eu
venho de geral. É muito triste o
que vão fazer. Ninguém sabe
agora como os geraldinos vão
fazer para vir ao Maracanã. Vai
acabar essa energia", disse.
O Maracanã ficará fechado
por cerca de oito meses. O estádio passará por obras em virtude do Pan de 2007, no Rio.
Depois do final da partida,
muitos torcedores beijaram o
chão da geral e levantaram as
mãos para os céus. Alguns choraram, como o marceneiro Euzébio Rodrigues, 49, último a
abandonar o setor. "É uma tristeza muito grande. Vinha à geral desde os meus 14 anos e vivi
grandes emoções aqui. Fazia
chuva ou sol estava na geral."
Com o rosto colorido com as
cores do Fluminense, o pintor
Sílvio Antunes Teixeira, 28,
saiu de Maricá (cidade a 60 km
do Rio) para dar o último
adeus à geral e levou uma faixa
com uma mensagem bem curiosa para protestar. "Maracanã sem geral é um casamento
sem sexo!!!".
Seu colega, o também pintor
Francisco Menezes Amaro, 35,
disse que o Maracanã vai acabar. "A geral é o coração do
Maracanã. Sem geral, o Maracanã não existe", exclamou.
Conselheiro do Fluminense,
Desirée Rogério de Oliveira, 55,
disse que tem direito a entrar
de graça na tribuna, mas sempre ia de geral. "Vai acabar o setor mais democrático do futebol independente de qualquer
raça ou categoria. Aqui na geral, todo mundo é um só", disse
Uma das mais emocionadas
era a torcedora Maria de Lourdes Pereira, 63, conhecida como a "vovó da geral". Chorando muito, ela fez um desabafo.
"Isso aqui é a minha vida. Não
pode acabar", afirmou.
Alguns torcedores inovaram
em seu protesto. Foi o caso do
estudante Rodrigo Gomes, 21,
que levou um caixão de papelão para simbolizar o fim do setor. "Descanse em paz. Saudades da geral 1950 [data de fundação] 2005 [fechamento]. Para ele, a geral tinha que ser
imortalizada.
Filho do técnico do Fluminense, Abel Braga, o estudante
Rafael Braga, 23, dispensou o
conforto para ir com os amigos
para a geral. "Tinha que vir me
despedir da geral. Gosto de ver
as emoções de perto", disse.
Além das homenagens, a torcida aproveitou ao máximo o
último jogo da geral. Correu de
um lado para outro, pulou, vibrou, xingou o árbitro e os jogadores e ainda fez a tradicional aparição para as câmeras de
televisão toda vez que um escanteio era cobrado.
O professor de educação física, Marcelo Medeiros, 26, estava revoltado com o fechamento. "A geral é um símbolo cultural do Rio de Janeiro. Se é para ver o jogo sentado, prefiro
me sentar em casa." Medeiros
levou uma faixa homenageando o setor mais popular do estádio e o novo papa, Bento 16.
"Geral, patrimônio da humanidade. Abençoada por Deus." E
que agora jaz.
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