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Rotulada, Gana ataca seleção
Comentários de jogadores brasileiros sobre irresponsabilidade tática irritam jogadores e jornalistas
Capitão do time, Appiah
afirma que não viu nada de extraordinário na equipe de Parreira até agora e manda aguardar pela terça-feira
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A WÜRZBURG
A três dias do mata-mata entre os times pelas oitavas-de-final da Copa, a seleção de Gana
tomou os comentários de jogadores brasileiros sobre seu time como ofensa e respondeu
num tom ainda mais provocativo. Aliadas ao ufanismo desmedido que impera do lado ganense, as declarações abriram uma
guerra de nervos para o jogo.
Ao analisar os adversários de
terça-feira em Dortmund, alguns atletas da seleção, como
Kaká e Juninho, mencionaram
a "irresponsabilidade" tática de
Gana, dizendo que o rival, ao
contra-atacar, costuma deixar
brechas em sua defesa.
Questionados pela Folha sobre as citações (e se Gana seria
mais um time africano sem disciplina tática), os ganenses reagiram duramente, numa corrente formada entre o técnico
sérvio Ratomir Dujkovic, os jogadores e jornalistas do país.
Primeiro, Dujkovic, que pegou leve: "Todo mundo tem o
direito de falar o que quiser.
Mas na hora do jogo vamos ver
se é assim". O meia e capitão
Stephen Appiah, ainda contido,
completou: "Deixe que falem.
Vamos esperar pela terça".
Mas, em seguida, um repórter africano voltou à questão,
observando que a pergunta da
Folha embutia um estereótipo
negativo internacional sobre o
futebol do continente.
Foi quando Appiah se soltou.
"Não adianta falar, tem que
mostrar em campo. E não vi
dos brasileiros nada de extraordinário até agora." O auditório,
tomado por jornalistas africanos e membros da delegação de
Gana, explodiu em aplausos.
O atacante Gyan Asamoah foi
outro a se irritar. "Os brasileiros são poderosos, mas, no
campo, não vamos respeitá-los.
Futebol não é feito de nomes
nem de palavras. E não vejo nada de errado com o nosso jogo."
O ufanismo é um capítulo à
parte. A vaga nas oitavas criou,
entre os ganenses, um mundo
em que só a vitória é possível. O
técnico, que se refere ao time só
pelo apelido "Estrelas Negras"
e repete que eles farão o Brasil
sofrer, disse que Gana vencerá
se jogar 70% do que jogou nos 2
a 0 sobre a República Tcheca.
"O Brasil vai querer manter o
título, mas, antes disso, vai ter
que enfrentar o "Brasil da África", as Estrelas Negras."
A impressão de que o discurso de Dujkovic é cheio de palavras ao vento se confirma com
fatos. Segundo a Fifa, Gana é o
time que mais faltas cometeu
na Copa, 76. Indagado sobre o
recorde, o sérvio perguntou,
provocador: "E você sabe quantas faltas os EUA fizeram em
Gana?". Ainda pela Fifa, Gana
fez o dobro de faltas -32 a 16.
Até a torcida entrou no clima
de guerra. Apresentando-se como Mr. Boss, um ganês que vive
em Londres e foi ver a Copa
tentou resumir o que se passa.
"Sabe aquele slogan, "O impossível não é nada'? É nosso lema.
Depois desse jogo, o mundo vai
ter uma história para contar."
O perfil do rival do Brasil nas oitavas-de-final >> www.folha.com.br/061752
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