|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ninguém comparou Edílson com Garrincha
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
""Fizemos um amistoso do Botafogo, em Costa Rica, contra o
Saprisa, time campeão de lá.
Uma partida dura e tínhamos
um adversário maior, que era o
juiz. Ele estava atrapalhando
tudo. Fazíamos gol e ele anulava. O time deles fez 1 a 0. Paulo
Valentim empatou para o Botafogo. Nesse momento, o goleiro, cinicamente, pegou a bola
no fundo da rede e bateu o tiro
de meta. Agiu como se não fora
gol. Deu a saída e a bola veio
parar em mim. Então, peguei-a
com a mão e protestei com o
juiz. Houve muita confusão.
No final ele validou o gol. O time do Botafogo ficou todo revoltado com a arbitragem e o
Garrincha resolveu nos vingar.
Pegou a bola, passou por dois
ou três na defesa deles e ficou
cara a cara com o goleiro. Driblava-o com o corpo, ameaçando que chutava e não chutava.
Até que, já cansado, o goleiro
distraiu-se, o Mané meteu a
bola entre as pernas dele e fez o
gol. No vestiário, o treinador,
que era o Paulo Amaral, perguntou, indignado, ao Garrincha por que ele havia demorado tanto para fazer o gol, num
jogo tão difícil daquele. Mané
respondeu: "Paulo, ele não queria abrir as pernas"."
Eis aí um trecho do livro de
Nilton Santos, ""Minha Bola,
Minha Vida", da Editora
Gryphus, 248 páginas.
Reproduzido em homenagem
a todos aqueles que confundiram a alusão a Mané Garrincha com comparação entre ele
e Edílson, algo que nem o
maior dos hereges seria capaz.
E, em homenagem àqueles
que, ainda sim, dirão que Mané queria fazer o gol, que a seu
modo buscava a eficiência, reproduzo outro trecho das mesmas memórias do maior lateral-esquerdo da história do futebol brasileiro, ""A Enciclopédia do Futebol", como era chamado o compadre do Mané.
""Nessa mesma excursão, jogávamos contra o Reims e ganhávamos de 5 a 1. Faltavam
apenas alguns minutos para o
encerramento do jogo e o Zezé
mandou prender a bola. Quando a determinação chegou na
ponta-direita, Mané tomou-a
ao pé da letra. Começou a driblar os beques, jogava entre as
pernas deles, voltava e driblava
de novo. Só se via gringo trombando um no outro. Driblou
até gente do nosso time que se
meteu na frente dele. Um carnaval. Quando o jogo acabou,
Zezé (Zezé Moreira, o técnico,
grifo meu) perguntou a ele, no
vestiário, o porquê daquilo tudo. Ele, ingenuamente, respondeu: "Ué, seu Zezé, o senhor não
mandou prender a bola?"."
E, aos que se manifestaram
para dizer que nos dias que
correm nem Mané nem Luisinho nem Canhoteiro teriam lugar em time algum, com todo
respeito, só resta dedicar uma
boa gargalhada.
O Data-JK informa: dos 382 e-mails que chegaram entre a
noite de domingo e a manhã de
quinta-feira sobre o episódio
""Brincadeira x Violência", 331
endossavam as posições de José
Geraldo Couto, Jô Soares, Clóvis Rossi, Ivan Angelo, Mário
Prata, Matinas Suzuki Jr. e desta coluna. É verdade que, entre
os 51 que discordavam, havia
alguns muito bem fundamentados e outros pra lá de mal-educados. É do jogo.
De qualquer jeito, e mesmo
dando-se o desconto de que é
mais comum receber mensagens de apoio do que de crítica,
86% é um índice bem ponderável. Viva a brincadeira!
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às
sextas-feiras
Texto Anterior: Seleção vai às semifinais de torneio suíço Próximo Texto: Sparring - Eduardo Ohata: Declínio Índice
|