São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2001

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FUTEBOL

Reflexões da meia-idade

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Se os times que disputam o Campeonato Brasileiro fossem pessoas, estariam chegando agora ao meio de suas vidas.
Esse momento costuma ser um momento de análise e reflexão, um instante em que, olhando para os nossos erros do passado, somos desafiados a tomar decisões importantes, decisões que influenciarão diretamente o resto de tempo que temos entre os vivos (eu, por exemplo, comecei a comer brócolis).
Para uns, é a hora da grande virada, a hora de fazer mudanças, de concentrar esforços naquilo que é verdadeiramente importante e chegar ao auge da criatividade, ao cume das realizações. Para outros, é apenas o instante da pálida constatação de que nada pode ser feito, a não ser caminhar meio cabisbaixo no sentido da irrefreável decadência.
Assim como nós, os times.
No meio de suas existências, eles olham o futuro de maneiras bem diferentes.
O Palmeiras exibe uma ruga de apreensão. No meio do caminho tinha uma pedra. Sem volantes criativos, o time depende de Lopes, e Lopes, sem Pedrinho, é apenas um jogador a meio pau.
Misso continua omisso, e Donizete talvez fique bom para o Rio-São Paulo. Digamos que é um time que, quando pensa que é bom, é regular, e, quando se dá conta de que é apenas regular, até que fica bom.
O São Caetano, por sua vez, enche-se de esperanças. Manteve o técnico, manteve a base e a tática meio insana, mas inteiramente empolgante, de jogar para a frente. Tudo indica que chegará entre os oito. Simão, Anaílson, Magrão e os outros que vieram foram encaixados sem problemas, e o Azulão mostra que quer um lugar no meio dos grandes.
O São Paulo continua precisando de uma sequência de bons resultados para acreditar em si mesmo. Se Athirson e Dill vierem, dificilmente ficará fora das finais, pois hoje o tricolor tem um dos melhores elencos do país.
A Macaca, agora dirigida por Vadão, vive o mesmo problema do São Paulo: o da irregularidade. A Ponte Preta definitivamente não é um time para cardíacos. A defesa, sem meios-termos, é uma das piores do torneio e vem sendo o ponto fraco do time.
Já o Santos, o ex-rei dos empates, cresce e espera a velhice com um meio riso confiante no canto da boca. O time marca bem e ainda tem laterais rápidos e ofensivos que aparecem como boa opção de ataque. Essa, aliás, parece ser uma autêntica linha de frente dos tempos modernos: Russo, Marcelinho, Viola, Robert e Leo. Pena que o time tenha perdido pontos tão bobos no início do campeonato.
Corinthians e Lusa parecem times pela metade e não mostram ter meios de acesso para uma vaga na decisão.
A Lusa parece que se contenta em não ser notada, mas o Corinthians tinha grandes pretensões e sonhou para si grandes destinos. Está difícil, mas o time pode reagir. Ainda mais se vieram os prometidos André Luiz e Vágner.
Por fim, os times dos zé mários: Guarani e Botafogo. O primeiro recuperou-se e já ambiciona a medianidade. Quanto ao Botafogo, tem poucas esperanças. O elenco desfez-se da noite para o dia e agora, de bengala à mão, caminha para a hora do adeus.
Enfim, para nós que estamos na meia-idade, é melhor definir os objetivos e pôr mãos (ou pés) à obra. Mesmo porque já não temos muito tempo.

Substituições
Algumas substituições são redundâncias: Kim por Guilherme, Roni por Magno Alves, Galeano por Flávio, Rogério por Otacílio, Fábio Costa por Pitarelli, ACM por Jáder Barbalho, Jáder por Rames Tebet. Sai o ex-Sudam, entra o ex-Sudeco.

Pós-Pelé
Viola alcançou os 59 gols no Santos. Seus próximos alvos são Macedo, 64; Giovanni, 69; e Guga, 74. Se quiser ser o maior artilheiro santista da era pós-Pelé, terá que superar Serginho e João Paulo, autores de 104 gols com a camisa alvinegra. Não é impossível.

Lei não escrita
Já notou que, quando um time está em má fase, os juízes tendem a apitar mal, como se houvesse uma lei não escrita dizendo que o tal time tem que afundar? Que o digam os corintianos, doidos com Wilson de Souza Mendonça.
E-mail: torero@uol.com.br

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