São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS

Sete longos anos

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

É só festa. E, à primeira vista, não à toa.
Com a ajuda de seu maior ídolo, ex-número um do mundo, o Brasil venceu um confronto de Copa Davis, diante de sua torcida, com quatro vitórias em quatro partidas, e se manteve na elite do tênis internacional pelo sétimo ano consecutivo.
Há pouco mais de cinco anos, aliás, Gustavo Kuerten despontava para a fama ao conquistar, de forma heróica, o primeiro de seus três títulos em Roland Garros.
Desde então, cinco longos anos, nunca o tênis teve tanta exposição por aqui, tanta força, nunca despertou tanto interesse, tanta vontade de ser devorado.
As academias registraram uma procura jamais vista.
Novas academias abriram, tamanha a sede por aulas, por praticar o "esporte do Guga".
Professores de tênis voltaram a ser valorizados pelos clubes, tornaram a preencher suas agendas com novos alunos.
As TVs, pelo menos aquelas dedicadas somente ao esporte, procuraram dinheiro e espaço para encaixar na grade de programação os torneios, mesmo aqueles em Lyon, a finada Copa Ericsson, Campos do Jordão...
Sites dedicados ao tênis não se cansam de registrar mais e mais audiência. As empresas de material esportivo, espertas, claro, ganharam novo fôlego, vendendo camisetas caríssimas ao público, estampando suas marcas no peito dos melhores tenistas do país.
Outras empresas, de refrigerante, bancos, seguradoras, de chinelo, de componentes eletrônicos, igualmente espertas, também não perderam essa boquinha: aproveitaram o bom momento do tênis no Brasil.
Com a ajuda dessas empresas, ganhamos até um ATP Tour, um WTA Tour, elogiado por sua organização, em um resort, trazendo para cá alguns dos melhores atletas do planeta.
E os nossos tenistas, os profissionais, ganharam mais destaque, mais espaço, mais dinheiro, mais oportunidades, mais convites...
Parece lindo, mas, na verdade, não é só festa.
Em muitos anos, com dinheiro, espaço, força, talentos, conquistas e boa vontade das empresas e das TVs, os responsáveis pelo desenvolvimento do tênis no país não conseguiram, ainda, apresentar um projeto prático, viável, que, de fato, mudasse a rotina de treinamento e preparação de nossos jovens tenistas.
Há muitos longos anos, a situação é a mesma: para se virar, o jovem tenista precisa, sozinho, recorrer aos pais, correr atrás do dinheiro, se virar na escola, convencer o professor, cuidar ele mesmo, um leigo, de sua alimentação, buscar um lugar para treinar, encontrar alguém em sua cidade para treinar e, ufa, ganhar os jogos por aí.
Se o projeto que temos se resume a colocar alguns jovens para disputar o qualifying do Torneio da Costa do Sauípe e, depois, convidá-los para bater bola com Guga e Meligeni na semana da Copa Davis, estamos perdendo a chance (e que chance!).
Com tantas conquistas, tantos eventos, tantos jogos, tanta procura por tênis, o primeiro título de Guga em Roland Garros e o início da virada para o tênis brasileiro parecem que faz pouco tempo, que foi ontem.
Isso foi, na verdade, há algum tempo. Tempo suficiente para negar a toda uma geração uma oportunidade de ouro.

Para ficar na memória
Gastón Gaudio teve match point contra Ievguêni Kafelnikov e não fechou. Nas duplas, os argentinos tiveram match point. Não fecharam. Marat Safin jogou mais de 12 horas, e a Rússia decide a Davis.

Um susto
Por causa de uma cirurgia de apendicite no fim de semana, no Rio, Flávio Saretta vai ficar pelo menos 15 dias de molho.

A novidade
A Copa Ericsson, que movimentava o tênis sul-americano no fim do ano, morreu. Em seu lugar entra o Visa Tennis Open. Vai ser de 28 de outubro a 3 de novembro, em São Paulo.

Meninos em ação
Começa hoje a disputa das chaves principais da sexta etapa da Credicard Visa Junior's Cup, no Graciosa Country Club, em Curitiba.

E-mail reandaku@uol.com.br



Texto Anterior: Mineiros jogam pressionados
Próximo Texto: Futebol - Tostão: Novo técnico da seleção
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.