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TÊNIS
Sete longos anos
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
É só festa. E, à primeira vista, não à toa.
Com a ajuda de seu maior ídolo, ex-número um do mundo, o
Brasil venceu um confronto de
Copa Davis, diante de sua torcida, com quatro vitórias em quatro partidas, e se manteve na elite
do tênis internacional pelo sétimo
ano consecutivo.
Há pouco mais de cinco anos,
aliás, Gustavo Kuerten despontava para a fama ao conquistar, de
forma heróica, o primeiro de seus
três títulos em Roland Garros.
Desde então, cinco longos anos,
nunca o tênis teve tanta exposição por aqui, tanta força, nunca
despertou tanto interesse, tanta
vontade de ser devorado.
As academias registraram uma
procura jamais vista.
Novas academias abriram, tamanha a sede por aulas, por praticar o "esporte do Guga".
Professores de tênis voltaram a
ser valorizados pelos clubes, tornaram a preencher suas agendas
com novos alunos.
As TVs, pelo menos aquelas dedicadas somente ao esporte, procuraram dinheiro e espaço para
encaixar na grade de programação os torneios, mesmo aqueles
em Lyon, a finada Copa Ericsson,
Campos do Jordão...
Sites dedicados ao tênis não se
cansam de registrar mais e mais
audiência. As empresas de material esportivo, espertas, claro, ganharam novo fôlego, vendendo
camisetas caríssimas ao público,
estampando suas marcas no peito
dos melhores tenistas do país.
Outras empresas, de refrigerante, bancos, seguradoras, de chinelo, de componentes eletrônicos,
igualmente espertas, também não
perderam essa boquinha: aproveitaram o bom momento do tênis no Brasil.
Com a ajuda dessas empresas,
ganhamos até um ATP Tour, um
WTA Tour, elogiado por sua organização, em um resort, trazendo para cá alguns dos melhores
atletas do planeta.
E os nossos tenistas, os profissionais, ganharam mais destaque,
mais espaço, mais dinheiro, mais
oportunidades, mais convites...
Parece lindo, mas, na verdade,
não é só festa.
Em muitos anos, com dinheiro,
espaço, força, talentos, conquistas
e boa vontade das empresas e das
TVs, os responsáveis pelo desenvolvimento do tênis no país não
conseguiram, ainda, apresentar
um projeto prático, viável, que, de
fato, mudasse a rotina de treinamento e preparação de nossos jovens tenistas.
Há muitos longos anos, a situação é a mesma: para se virar, o jovem tenista precisa, sozinho, recorrer aos pais, correr atrás do dinheiro, se virar na escola, convencer o professor, cuidar ele mesmo,
um leigo, de sua alimentação,
buscar um lugar para treinar, encontrar alguém em sua cidade
para treinar e, ufa, ganhar os jogos por aí.
Se o projeto que temos se resume a colocar alguns jovens para
disputar o qualifying do Torneio
da Costa do Sauípe e, depois, convidá-los para bater bola com Guga e Meligeni na semana da Copa
Davis, estamos perdendo a chance (e que chance!).
Com tantas conquistas, tantos
eventos, tantos jogos, tanta procura por tênis, o primeiro título
de Guga em Roland Garros e o
início da virada para o tênis brasileiro parecem que faz pouco
tempo, que foi ontem.
Isso foi, na verdade, há algum
tempo. Tempo suficiente para negar a toda uma geração uma
oportunidade de ouro.
Para ficar na memória
Gastón Gaudio teve match point contra Ievguêni Kafelnikov e não
fechou. Nas duplas, os argentinos tiveram match point. Não fecharam. Marat Safin jogou mais de 12 horas, e a Rússia decide a Davis.
Um susto
Por causa de uma cirurgia de apendicite no fim de semana, no Rio,
Flávio Saretta vai ficar pelo menos 15 dias de molho.
A novidade
A Copa Ericsson, que movimentava o tênis sul-americano no fim
do ano, morreu. Em seu lugar entra o Visa Tennis Open. Vai ser de
28 de outubro a 3 de novembro, em São Paulo.
Meninos em ação
Começa hoje a disputa das chaves principais da sexta etapa da Credicard Visa Junior's Cup, no Graciosa Country Club, em Curitiba.
E-mail reandaku@uol.com.br
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