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MOTOR
O dono da bola (murcha)
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Bernie Ecclestone circula
todo pimpão pelo circuito de
Xangai. Na quarta-feira, ele já estava na pista. Calça jeans, camisa
desabotoada até o peito, andava
de um lado pro outro, em ritmo
frenético para seus 73 anos.
Só pela sala de imprensa, onde
nunca pisa, passou umas três,
quatro vezes. No paddock, agitado, um celular em cada mão, era
como o dono da bola de capotão
dos nossos tempos de moleque.
Vez ou outra parava para papear com algum jornalista ou para dar bronca em alguém. A turma da Bridgestone levou uma
descompostura por ter deixado
pilhas de pneus fora dos boxes.
A história se repetiu na quinta e
ontem -mas aí já usava calça
preta e camisa branca, espécie de
uniforme dele e de seus asseclas. O
fato é que Ecclestone não quer
uma nódua, uma sujeirinha, nada. Nada que estrague o cenário
exuberante e exagerado que os
chineses prepararam para a F-1.
É como se ele tivesse voltado aos
tempos em que vendia peças de
moto em Bexleyheath, na periferia de Londres. Ou ao GP de Mônaco de 1958, quando, irritado
com seus pilotos, sentou-se no
cockpit de seu Connaught (o
quê?) para tentar classificá-lo para a corrida -não conseguiu.
Em Xangai, Ecclestone está colocando a mão na graxa. E faz
questão de mostrar. Tem fortes
motivos para isso e para aquilo.
Está cuidando de tudo porque,
afinal, recebeu US$ 20 milhões
dos chineses para incluir o GP no
calendário. O contrato vai até
2008 e não é coincidência: Xangai
nutre forte rivalidade com a capital e pretende, um pouco que seja,
ofuscar os Jogos de Pequim.
E quer deixar claro quem manda porque, apesar de sua fortuna
de US$ 1,2 bilhão, está próximo de
enfrentar dias complicados. Ecclestone está sendo acionado pelos três bancos que hoje possuem
75% das ações da FOM e que, na
prática, não apitam nada.
Em março, o trio entrou com
uma ação na Justiça inglesa exigindo, na mesma fatia da divisão
acionária, participação nos lucros
e nas decisões. A Alta Corte deve
julgar o caso em poucas semanas.
Na F-1, muitos acreditam que
Ecclestone vá levar um tombo, algo raro em todos esses anos.
Não é nem sequer a primeira
vez que fica perto de perder a categoria e, das outras, tirou a carta
da manga no último instante.
Mas, agora, todos os argumentos
parecem favorecer os bancos.
É difícil acreditar que um executivo de banco possa entender
mais do riscado. Foi Ecclestone,
afinal, que transformou a F-1
simplória dos anos 60 e 70 no espetáculo global de hoje. Mas ele
também tornou-se bilionário por
causa dela. E talvez tenha chegado a hora da troca de comando.
É terrível imaginar uma categoria com sete equipes, como ele sugeriu nesta semana: "Não vejo
por que eu teria que ajudar os times pequenos. Se eles não podem
correr, isso é problema deles".
É. Mas é problema também de
quem gosta de ver carro na pista.
De quem em 1989, há só 15 anos,
via 40 carros de 20 times digladiando-se pela glória de estar
num grid. E que fica com a impressão de que Xangai merecia
coisa melhor do que essa F-1.
Buzinaço
Jackie Stewart um dia atribuiu à água o talento dos pilotos brasileiros. Depois, criou-se a tese de que tantos títulos eram resultado do
treinamento no trânsito caótico da cidade de São Paulo. E essa lenda
acabou sepultada. Não porque o Brasil amarga 13 anos de seca. Mas
porque o tráfego em Xangai, acreditem, é muito pior. E nunca houve
um piloto chinês na F-1.
Buzinado
Em mais um acidente forte da Stock Car, Neto de Nigris fraturou o
nariz e sofreu um afundamento no rosto, no domingo, no Rio de Janeiro. O impacto contra o volante chegou a entortar a barra de direção. O motivo? Ele acha mais confortável andar com o cinto de segurança um pouco folgado...
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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