São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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MOTOR

O dono da bola (murcha)

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Bernie Ecclestone circula todo pimpão pelo circuito de Xangai. Na quarta-feira, ele já estava na pista. Calça jeans, camisa desabotoada até o peito, andava de um lado pro outro, em ritmo frenético para seus 73 anos.
Só pela sala de imprensa, onde nunca pisa, passou umas três, quatro vezes. No paddock, agitado, um celular em cada mão, era como o dono da bola de capotão dos nossos tempos de moleque.
Vez ou outra parava para papear com algum jornalista ou para dar bronca em alguém. A turma da Bridgestone levou uma descompostura por ter deixado pilhas de pneus fora dos boxes.
A história se repetiu na quinta e ontem -mas aí já usava calça preta e camisa branca, espécie de uniforme dele e de seus asseclas. O fato é que Ecclestone não quer uma nódua, uma sujeirinha, nada. Nada que estrague o cenário exuberante e exagerado que os chineses prepararam para a F-1.
É como se ele tivesse voltado aos tempos em que vendia peças de moto em Bexleyheath, na periferia de Londres. Ou ao GP de Mônaco de 1958, quando, irritado com seus pilotos, sentou-se no cockpit de seu Connaught (o quê?) para tentar classificá-lo para a corrida -não conseguiu.
Em Xangai, Ecclestone está colocando a mão na graxa. E faz questão de mostrar. Tem fortes motivos para isso e para aquilo.
Está cuidando de tudo porque, afinal, recebeu US$ 20 milhões dos chineses para incluir o GP no calendário. O contrato vai até 2008 e não é coincidência: Xangai nutre forte rivalidade com a capital e pretende, um pouco que seja, ofuscar os Jogos de Pequim.
E quer deixar claro quem manda porque, apesar de sua fortuna de US$ 1,2 bilhão, está próximo de enfrentar dias complicados. Ecclestone está sendo acionado pelos três bancos que hoje possuem 75% das ações da FOM e que, na prática, não apitam nada.
Em março, o trio entrou com uma ação na Justiça inglesa exigindo, na mesma fatia da divisão acionária, participação nos lucros e nas decisões. A Alta Corte deve julgar o caso em poucas semanas.
Na F-1, muitos acreditam que Ecclestone vá levar um tombo, algo raro em todos esses anos.
Não é nem sequer a primeira vez que fica perto de perder a categoria e, das outras, tirou a carta da manga no último instante. Mas, agora, todos os argumentos parecem favorecer os bancos.
É difícil acreditar que um executivo de banco possa entender mais do riscado. Foi Ecclestone, afinal, que transformou a F-1 simplória dos anos 60 e 70 no espetáculo global de hoje. Mas ele também tornou-se bilionário por causa dela. E talvez tenha chegado a hora da troca de comando.
É terrível imaginar uma categoria com sete equipes, como ele sugeriu nesta semana: "Não vejo por que eu teria que ajudar os times pequenos. Se eles não podem correr, isso é problema deles".
É. Mas é problema também de quem gosta de ver carro na pista.
De quem em 1989, há só 15 anos, via 40 carros de 20 times digladiando-se pela glória de estar num grid. E que fica com a impressão de que Xangai merecia coisa melhor do que essa F-1.

Buzinaço
Jackie Stewart um dia atribuiu à água o talento dos pilotos brasileiros. Depois, criou-se a tese de que tantos títulos eram resultado do treinamento no trânsito caótico da cidade de São Paulo. E essa lenda acabou sepultada. Não porque o Brasil amarga 13 anos de seca. Mas porque o tráfego em Xangai, acreditem, é muito pior. E nunca houve um piloto chinês na F-1.

Buzinado
Em mais um acidente forte da Stock Car, Neto de Nigris fraturou o nariz e sofreu um afundamento no rosto, no domingo, no Rio de Janeiro. O impacto contra o volante chegou a entortar a barra de direção. O motivo? Ele acha mais confortável andar com o cinto de segurança um pouco folgado...

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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