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FUTEBOL
Ousar é preciso
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Campeonato Brasileiro
deste ano está sendo o pior
da história em todos os quesitos
principais: quantidade de público, média de gols, qualidade do
futebol apresentado. É o que se
pode chamar de um fracasso de
público e crítica.
Por que isso acontece?
Os simplistas de plantão dizem
que o problema é a fórmula dos
pontos corridos. Sua opinião poderia ser resumida numa frase:
"Mata-mata ou morte".
Já expus muitas vezes minha visão sobre o assunto.
A meu ver, o declínio do campeonato não tem nada a ver com
os pontos corridos, embora este
formato só tenda a mostrar todo
o seu acerto quando o número de
clubes for reduzido para uns 20.
Mas há outras razões, mais
substantivas, que costumam ser
levantadas para explicar o baixo
nível do atual Brasileirão.
A principal delas é a situação
virtualmente falimentar dos clubes, que os leva a vender seus melhores jogadores para o exterior.
Essa sangria de talentos é, evidentemente, o principal fator de
declínio técnico do futebol praticado no Brasil. Como já observou
Rodrigo Bueno, o melhor futebol
brasileiro, hoje, é o que se joga na
Europa.
Pois bem. O que eu pretendo é
acrescentar outra explicação para o desastre do Campeonato
Brasileiro: a falta de coragem da
maioria dos técnicos e, por conseguinte, dos seus comandados.
A impressão que se tem é que
muitos cartolas e técnicos ainda
não compreenderam muito bem
o sentido do atual sistema de pontuação. Continuam pensando como na época em que cada vitória
valia dois pontos e que o decisivo
para a classificação eram os
"pontos perdidos".
Em decorrência disso, seus times continuam entrando em
campo, antes de tudo, para não
perder. A filosofia (se é que se pode usar esse termo tão nobre) que
predomina é a de "fechar os espaços", de "matar o jogo" no meio-de-campo. Assim, um Marcinho
vale mais que um Pedrinho, um
Fabinho vale mais que um Rosinei -e assim por diante. Não é à
toa que o jogo fica horrível.
Como comentou o leitor Bento
Bravo, a sensação que se tem ao
assistir a uma coisa dessas é de
claustrofobia. Imploramos para
que surja uma jogada inesperada, um lance de talento e ousadia
que rompa essa pasmaceira. E raramente esse lance vem.
Basta olhar com atenção a tabela de classificação para ver que,
também em termos práticos, a estratégia medrosa não se justifica.
Para chegar ao topo, não basta
perder pouco. Três times perderam menos que o líder Santos: o
Atlético-PR, que está em segundo;
o Palmeiras, que está em oitavo; e
o Coritiba, que está em 11º. O importante é vencer muito.
Do mesmo modo, não basta tomar poucos gols. Nada menos que
15 clubes tomaram menos gols
que o Santos, entre eles o lanterna
Guarani. O que decide mesmo
são os gols feitos, não os sofridos.
Faço um apelo aos dirigentes,
técnicos e jogadores para que
pensem um pouco sobre isso. O
torcedor agradecerá.
Freio de mão
A convocação da seleção brasileira por Parreira também não
primou pela ousadia. Concordo com Mário Magalhães
quando diz que Robinho merecia o lugar de Luis Fabiano, e
Roger, o de Edu. Seria um modo de premiar e incentivar alguns dos poucos representantes de um futebol mais criativo
que continuam no Brasil.
Mulheres traídas
Falta ousadia também aos dirigentes e patrocinadores que,
mais uma vez, estão dando as
costas ao futebol feminino. Depois da brilhante campanha
olímpica das nossas jogadoras,
criou-se um ambiente favorável a um investimento no setor.
Mas os cartolas dos clubes e das
empresas preferem continuar
investindo (mal) em cabeças-de-bagre do sexo masculino.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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