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Lição de casaHamilton diz que aprendeu com erros e tenta se redimir nas pistas das confusões que gerou fora delas
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA
Em apenas três temporadas, Lewis Hamilton passou
de revelação a campeão do mundo e depois a vilão.
Após mentir a comissários
no GP da Austrália de 2009,
foi excluído da prova, pensou em deixar a F-1 e fez um
pedido de desculpas público
e constrangedor. Com um
carro que não ajudava, teve
uma temporada apagada,
que terminou com o rompimento com o pai, Anthony.
Quando tudo parecia voltar aos eixos, um episódio
que envolveu até a polícia,
outra vez na Austrália, trouxe à tona antigos problemas.
"Aprendi minha lição. O
ano passado foi muito difícil
de uma maneira geral, mas
acho que cresci bastante",
disse o piloto da McLaren à
Folha, na madrugada de ontem, em Cingapura.
Anel no polegar, brincos
de cristal preto nas duas orelhas, Hamilton, 25, falou sobre o pai, sobre seu desafeto
Fernando Alonso e disse que
quer ser lembrado da mesma
maneira que Ayrton Senna.
Folha - O que você aprendeu
no ano passado?
Lewis Hamilton - Vejo como um grande ano, apesar
de ter sido um desastre do
ponto de vista de eu querer
ganhar o título de qualquer
maneira. Foi difícil lidar com
minha mente e o fato de que
simplesmente não éramos
competitivos como equipe.
Foi desafiador. Aprendi
muito de como sou e como
ser um jogador de equipe.
Do ponto de vista da pilotagem, você também aprende mais com um carro ruim
do que com um bom. Aprimorei minha técnica.
Estas experiências de alguma
forma te influenciaram na decisão de romper com seu pai
[era seu empresário]?
Não sei, meu pai sempre
foi fantástico comigo. Acho
que é apenas a evolução natural. Quando se chega a
uma certa idade você quer
caminhar com suas próprias
pernas. É difícil saber quando é a hora certa porque isso
envolve muita gente, sua família. Mas em algum ponto
você tem que confiar em você
e tomar a decisão. Não me arrependo e hoje vejo meu pai
fazendo muito mais coisas.
Ele tem mais tempo para ajudar outros pilotos a chegarem onde cheguei. O mais
importante que ele podia ter
feito para mim ele já fez, que
era me colocar na F-1 e me fazer um campeão.
No começo do ano, todos
achavam que você e Jenson
Button seriam os primeiros
parceiros a brigar. Não foi isso que se viu até agora...
[risos] É muito fácil as coisas darem errado. Algumas
pessoas simplesmente não
se bicam. Em alguns times
esse é um problema, e acidentes acabam acontecendo.
Você tem de ser muito maduro para chegar e se desculpar
depois. Mas eu e Jenson não
temos esse tipo de problema.
Nos respeitamos e confiamos
que vamos ser honestos um
com o outro. Sei que ele
quer ter o mesmo carro que
eu para me derrotar, e eu
idem, pois isso mostra que
sou melhor que ele [risos].
Dos outros três candidatos ao
título, gostaria de ter alguma
qualidade deles?
[Pensativo] Não acho que
há nada no [Mark] Webber e
no [Sebastian] Vettel que eu
gostaria ou que eu admire
mais neles do que em outros.
Já o Fernando [Alonso], sempre fui muito sincero sobre
ele, acho que ele é um dos
melhores pilotos. Ele é ridiculamente talentoso e incrivelmente veloz. O que mais
admiro nele é sua velocidade. Não acho que outros tenham essa velocidade. Talvez o Kimi [Raikkonen]. Claro
que é preciso um pacote completo para ser o melhor piloto, como se comporta, como
é com a equipe....
Como gostaria de ser lembrado quando deixar a F-1?
Nunca pensei muito sobre
isso. Mas quando estava na
reunião dos pilotos, há pouco, vi o Jackie Stewart, o David Coulthard, que ainda estão envolvidos com a F-1, o
Michael [Schumacher] e tentei imaginar o que vou fazer
no futuro. Não sei, mas acho
que nada parecido com o que
eles fazem. Mas desde pequeno sempre sonhei ser lembrado como o Ayrton [Senna].
Não tenho pretensão de
substituir ele ou nada parecido. Mas a maneira como ele
tocou seus fãs, como se portava, como guiava... Sempre
desejei ser conhecido como
um piloto apaixonado, alguém que guia com o coração. Isso me faria muito feliz.
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