São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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Lição de casa

Hamilton diz que aprendeu com erros e tenta se redimir nas pistas das confusões que gerou fora delas

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A CINGAPURA

Em apenas três temporadas, Lewis Hamilton passou de revelação a campeão do mundo e depois a vilão.
Após mentir a comissários no GP da Austrália de 2009, foi excluído da prova, pensou em deixar a F-1 e fez um pedido de desculpas público e constrangedor. Com um carro que não ajudava, teve uma temporada apagada, que terminou com o rompimento com o pai, Anthony.
Quando tudo parecia voltar aos eixos, um episódio que envolveu até a polícia, outra vez na Austrália, trouxe à tona antigos problemas.
"Aprendi minha lição. O ano passado foi muito difícil de uma maneira geral, mas acho que cresci bastante", disse o piloto da McLaren à Folha, na madrugada de ontem, em Cingapura.
Anel no polegar, brincos de cristal preto nas duas orelhas, Hamilton, 25, falou sobre o pai, sobre seu desafeto Fernando Alonso e disse que quer ser lembrado da mesma maneira que Ayrton Senna.

Folha - O que você aprendeu no ano passado? Lewis Hamilton - Vejo como um grande ano, apesar de ter sido um desastre do ponto de vista de eu querer ganhar o título de qualquer maneira. Foi difícil lidar com minha mente e o fato de que simplesmente não éramos competitivos como equipe.
Foi desafiador. Aprendi muito de como sou e como ser um jogador de equipe.
Do ponto de vista da pilotagem, você também aprende mais com um carro ruim do que com um bom. Aprimorei minha técnica.

Estas experiências de alguma forma te influenciaram na decisão de romper com seu pai [era seu empresário]?
Não sei, meu pai sempre foi fantástico comigo. Acho que é apenas a evolução natural. Quando se chega a uma certa idade você quer caminhar com suas próprias pernas. É difícil saber quando é a hora certa porque isso envolve muita gente, sua família. Mas em algum ponto você tem que confiar em você e tomar a decisão. Não me arrependo e hoje vejo meu pai fazendo muito mais coisas. Ele tem mais tempo para ajudar outros pilotos a chegarem onde cheguei. O mais importante que ele podia ter feito para mim ele já fez, que era me colocar na F-1 e me fazer um campeão.

No começo do ano, todos achavam que você e Jenson Button seriam os primeiros parceiros a brigar. Não foi isso que se viu até agora...
[risos] É muito fácil as coisas darem errado. Algumas pessoas simplesmente não se bicam. Em alguns times esse é um problema, e acidentes acabam acontecendo. Você tem de ser muito maduro para chegar e se desculpar depois. Mas eu e Jenson não temos esse tipo de problema. Nos respeitamos e confiamos que vamos ser honestos um com o outro. Sei que ele quer ter o mesmo carro que eu para me derrotar, e eu idem, pois isso mostra que sou melhor que ele [risos].

Dos outros três candidatos ao título, gostaria de ter alguma qualidade deles?
[Pensativo] Não acho que há nada no [Mark] Webber e no [Sebastian] Vettel que eu gostaria ou que eu admire mais neles do que em outros. Já o Fernando [Alonso], sempre fui muito sincero sobre ele, acho que ele é um dos melhores pilotos. Ele é ridiculamente talentoso e incrivelmente veloz. O que mais admiro nele é sua velocidade. Não acho que outros tenham essa velocidade. Talvez o Kimi [Raikkonen]. Claro que é preciso um pacote completo para ser o melhor piloto, como se comporta, como é com a equipe....

Como gostaria de ser lembrado quando deixar a F-1?
Nunca pensei muito sobre isso. Mas quando estava na reunião dos pilotos, há pouco, vi o Jackie Stewart, o David Coulthard, que ainda estão envolvidos com a F-1, o Michael [Schumacher] e tentei imaginar o que vou fazer no futuro. Não sei, mas acho que nada parecido com o que eles fazem. Mas desde pequeno sempre sonhei ser lembrado como o Ayrton [Senna].
Não tenho pretensão de substituir ele ou nada parecido. Mas a maneira como ele tocou seus fãs, como se portava, como guiava... Sempre desejei ser conhecido como um piloto apaixonado, alguém que guia com o coração. Isso me faria muito feliz.


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