São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

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Velocista confessa doping em Sydney

Ex-recordista dos 100 m, Tim Montgomery diz que se dopou antes de correr 4 x 100 m pela equipe norte-americana

Brasil, medalha de prata naquela disputa, poderia conquistar seu 1º ouro na Olimpíada de 2000, caso EUA acabem sendo punidos


Michel Euler - 14.set.02/Associated Press
Tim Montgomery corre para cravar o recorde dos 100 m em 2002, em Paris

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escândalo de doping que manchou a reputação do atletismo dos EUA parece não ter fim. O último capítulo da longa novela é a entrevista de Tim Montgomery à TV confessando uso de doping para correr o 4 x 100 m nos Jogos de Sydney-00.
"Tenho uma medalha de ouro que não foi obtida com meu talento", admitiu o ex-velocista, em entrevista que irá ao ar hoje à noite nos EUA pela HBO.
"Não estou aqui para desmerecer as glórias alheias, só as minhas. E devo pedir desculpas aos meus colegas do time de revezamento pelo que ocorreu."
A confissão pública pode detonar a sétima cassação de medalha da equipe dos EUA no atletismo daquela Olimpíada. Nunca antes ou depois, na história dos Jogos, um país perdeu tantas comendas por causa de doping em uma só modalidade.
Caso os norte-americanos sofram punição retroativa, o Brasil, vice-campeão do 4 x 100 m em Sydney-00, herdaria o ouro, que seria o primeiro do país naquela Olimpíada.
Na entrevista, Montgomery afirmou que usou testosterona e hormônio do crescimento antes dos Jogos de Sydney-00. Ambas as drogas têm efeito anabolizante no organismo, promovendo o aumento da força e da potência musculares.
O hormônio de crescimento, conhecido pela sigla hGH, ainda não era detectado pelos exames em 2000. Atualmente, segundo a Wada (Agência Mundial Antidoping), já há tecnologia para detectá-lo. As amostras colhidas em Sydney-00, de acordo com as regras do COI (Comitê Olímpico Internacional), ainda estão armazenadas.
As declarações de Montgomery, embora ainda não veiculadas pela TV, já causaram repercussão em entidades esportivas. O primeiro a se pronunciar foi o Usoc (Comitê Olímpico dos EUA), pedindo punição.
"Se Tim Montgomery fraudou a prova, então ele deveria, voluntariamente, devolver sua medalha, como outras equipes [de revezamento dos EUA] de 2000 já fizeram", disse Darryl Seibel, porta-voz do Usoc.
Como atenuante, o velocista não participou da final da prova no time cujo astro era Maurice Greene, então recordista mundial dos 100 m. Montgomery correu apenas as eliminatórias, o que poderia desqualificar seu resultado, mas não a equipe.
Não é o que pensa o comitê dos EUA, que dá idéia de que poderá abrir mão dessa medalha. "Qualquer resultado obtido com o uso de substância proibida está manchado", diz Seibel.
"Ele tem responsabilidade com seu esporte, com os atletas contra os quais competiu em Sydney e também com a nova geração de velocistas que tem feito o melhor para competir limpa e deixar no passado problemas como esse", acrescenta.
Questionada, a Wada se esquivou de comentar o caso. "Essa questão deve ser feita diretamente ao COI", respondeu à Folha Frédéric Donzé, gerente de comunicações da agência.
Instado a se pronunciar sobre o tema, o COI manteve a cautela. "Apoiamos a posição do Usoc de pedir que o atleta voluntariamente devolva a medalha", afirmou Emmanuelle Moreau, porta-voz do comitê.
Segundo ela, o COI incluirá mais esse tópico na investigação que já promove sobre o caso Balco, laboratório que fornecia substâncias dopantes à elite do atletismo dos EUA, em caso desbaratado em 2003.
A Iaaf, entidade que comanda o atletismo, que poderia pedir punição ao atleta, mostra reticência em iniciar o procedimento disciplinar. Segundo Nick Davies, porta-voz da Iaaf, para isso acontecer, é necessário que Montgomery redija confissão e a envie à federação.

Com agências internacionais



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