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FUTEBOL
Novos companheiros
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana passada, recebi a
visita de um estranho e engraçado companheiro (palavra
da moda) em minha casa. Deve
ter vindo pulando de galho em
galho. Somente assim conseguiria
escapar da vigilância de minha
cadela, a Lambreca.
O visitante passeou por toda a
casa, brincou em cima de minha
cama e depois se sentou ao meu
lado, numa cadeira próxima, na
cozinha. Com as duas mãos, segurou e comeu um pedaço de pão.
Quando tentava me aproximar,
ele se afastava. Desconfiei que já
estava havia algum tempo dentro
da casa, escondido.
Depois de encher a barriga, fazer umas gracinhas, o ilustre visitante foi embora e não mais voltou. Nem sei o seu nome. Deve estar comemorando o Natal ao lado de seus colegas e parentes.
Não estou fazendo mistério
nem falando por metáforas. Era
um macaquinho, mico ou sagüi.
Não sei a diferença entre os três.
Devia estar perdido. Os que vejo
próximos da casa estão sempre
em grupo.
Estou aprendendo a gostar de
animais. Vivi a maior parte da
minha vida em apartamento. Assustava-me com os pequenos insetos. Hoje convivo, a uma certa
distância, com macaquinhos, esquilos, passarinhos, gambás, jacus e outros animais que rondam
a minha casa e, principalmente,
com a Lambreca, que já faz parte
da família.
Os esquilos passam diariamente pelo lado de fora da janela para
comerem os coquinhos. Tenho
vontade de deixar as portas abertas para eles entrarem, mas desisto. Eles podem fazer muitas coisas
desagradáveis.
Recentemente, a Lambreca pegou um gambá, segurou o animal
pelos dentes e, em vez de matá-lo,
como esperava, correu e colocou o
bicho dentro da casa de cachorro
e ficou de fora, latindo e olhando,
apesar do cheiro. Custei a convencê-la a deixar o gambá ir embora.
Cada dia que passa, eu, meus filhos e as pessoas que frequentam
a casa gostam mais da Lambreca.
Entendo-me com ela pelo olhar e
pelos gestos, como Diego e Robinho nos gramados. A comunicação analógica é muito menos exata, mas é muito mais rica do que a
digital, por palavras.
A Lambreca já conhece bem os
meus pensamentos. Quando abro
a porta, ela sabe se vou sair de
carro, dar uma caminhada ou
apenas pegar os jornais.
Desconfio que ela tem muito
mais circuitos de neurônios do
que os humanos. A única diferença é que ela não pensa, analisa e
reflete sobre a vida. Vive. Isso tem
suas vantagens. A Lambreca não
tem raiva, ódio, angústia, outros
sentimentos comuns nas pessoas e
ainda não sabe que vai morrer.
Não entendo porque, quando
uma pessoa quer ofender a outra,
chama-a de cachorro. A Lambreca é muito digna. Nem que fulano
leva vida de cachorro. Com exceção da ração que não tem gosto
de nada, os cachorros levam uma
boa vida quando tratados com
carinho.
Agora compreendo por que as
pessoas gostam tanto de seus cachorros. Esses são ótimos companheiros. Não enganam nem fingem. São extremamente humildes. Ninguém resiste ao seu olhar.
Reprises boas e ruins
Não se assustem. Não vou repetir os melhores e os piores momentos do futebol durante o ano.
Eles já perderam a emoção. Serão
lembrados e ficarão na nossa memória e na história do futebol
brasileiro.
Não gosto de retrospectivas.
Prefiro as perspectivas. É duro rever no final de ano os melhores
momentos das partidas e dos
principais programas esportivos
da TV, os passeios do Ronaldinho
pelo Rio, o futevôlei do Romário,
as peladas dos jogadores, o Réveillon dos endinheirados e famosos,
os votos de felicidades que umas
pessoas trocam com outras de
quem não gostam, as reportagens
dos que fazem caridade nesta
época e são maus cidadãos durante o cotidiano, as eleições nem
sempre confiáveis dos melhores e
piores do ano, as mesmas caras
dos cantores que não saem da televisão e outras novidades.
Nesta época do ano, bom mesmo é comer aquele panetone, reunir a família em casa para o jantar de Natal, dar presentes e desejar felicidades para as pessoas que
amamos (muitas não sabem), fazer planos para o próximo ano,
como reiniciar a dieta, lembrar
dos momentos especiais da vida
(não existe ausência no pensamento), sonhar que aquela mulher vai telefonar ou aparecer de
repente e muitas outras coisas.
Se pequena parte das minhas
fantasias e sonhos se tornarem
realidade, seria uma das pessoas
mais felizes do mundo.
E-mail - tostao.folha@uol.com.br
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