São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Novos companheiros

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na semana passada, recebi a visita de um estranho e engraçado companheiro (palavra da moda) em minha casa. Deve ter vindo pulando de galho em galho. Somente assim conseguiria escapar da vigilância de minha cadela, a Lambreca.
O visitante passeou por toda a casa, brincou em cima de minha cama e depois se sentou ao meu lado, numa cadeira próxima, na cozinha. Com as duas mãos, segurou e comeu um pedaço de pão. Quando tentava me aproximar, ele se afastava. Desconfiei que já estava havia algum tempo dentro da casa, escondido.
Depois de encher a barriga, fazer umas gracinhas, o ilustre visitante foi embora e não mais voltou. Nem sei o seu nome. Deve estar comemorando o Natal ao lado de seus colegas e parentes.
Não estou fazendo mistério nem falando por metáforas. Era um macaquinho, mico ou sagüi. Não sei a diferença entre os três. Devia estar perdido. Os que vejo próximos da casa estão sempre em grupo.
Estou aprendendo a gostar de animais. Vivi a maior parte da minha vida em apartamento. Assustava-me com os pequenos insetos. Hoje convivo, a uma certa distância, com macaquinhos, esquilos, passarinhos, gambás, jacus e outros animais que rondam a minha casa e, principalmente, com a Lambreca, que já faz parte da família.
Os esquilos passam diariamente pelo lado de fora da janela para comerem os coquinhos. Tenho vontade de deixar as portas abertas para eles entrarem, mas desisto. Eles podem fazer muitas coisas desagradáveis.
Recentemente, a Lambreca pegou um gambá, segurou o animal pelos dentes e, em vez de matá-lo, como esperava, correu e colocou o bicho dentro da casa de cachorro e ficou de fora, latindo e olhando, apesar do cheiro. Custei a convencê-la a deixar o gambá ir embora.
Cada dia que passa, eu, meus filhos e as pessoas que frequentam a casa gostam mais da Lambreca. Entendo-me com ela pelo olhar e pelos gestos, como Diego e Robinho nos gramados. A comunicação analógica é muito menos exata, mas é muito mais rica do que a digital, por palavras.
A Lambreca já conhece bem os meus pensamentos. Quando abro a porta, ela sabe se vou sair de carro, dar uma caminhada ou apenas pegar os jornais.
Desconfio que ela tem muito mais circuitos de neurônios do que os humanos. A única diferença é que ela não pensa, analisa e reflete sobre a vida. Vive. Isso tem suas vantagens. A Lambreca não tem raiva, ódio, angústia, outros sentimentos comuns nas pessoas e ainda não sabe que vai morrer.
Não entendo porque, quando uma pessoa quer ofender a outra, chama-a de cachorro. A Lambreca é muito digna. Nem que fulano leva vida de cachorro. Com exceção da ração que não tem gosto de nada, os cachorros levam uma boa vida quando tratados com carinho.
Agora compreendo por que as pessoas gostam tanto de seus cachorros. Esses são ótimos companheiros. Não enganam nem fingem. São extremamente humildes. Ninguém resiste ao seu olhar.

Reprises boas e ruins
Não se assustem. Não vou repetir os melhores e os piores momentos do futebol durante o ano. Eles já perderam a emoção. Serão lembrados e ficarão na nossa memória e na história do futebol brasileiro.
Não gosto de retrospectivas. Prefiro as perspectivas. É duro rever no final de ano os melhores momentos das partidas e dos principais programas esportivos da TV, os passeios do Ronaldinho pelo Rio, o futevôlei do Romário, as peladas dos jogadores, o Réveillon dos endinheirados e famosos, os votos de felicidades que umas pessoas trocam com outras de quem não gostam, as reportagens dos que fazem caridade nesta época e são maus cidadãos durante o cotidiano, as eleições nem sempre confiáveis dos melhores e piores do ano, as mesmas caras dos cantores que não saem da televisão e outras novidades.
Nesta época do ano, bom mesmo é comer aquele panetone, reunir a família em casa para o jantar de Natal, dar presentes e desejar felicidades para as pessoas que amamos (muitas não sabem), fazer planos para o próximo ano, como reiniciar a dieta, lembrar dos momentos especiais da vida (não existe ausência no pensamento), sonhar que aquela mulher vai telefonar ou aparecer de repente e muitas outras coisas.
Se pequena parte das minhas fantasias e sonhos se tornarem realidade, seria uma das pessoas mais felizes do mundo.

E-mail - tostao.folha@uol.com.br


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