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TÊNIS
Carinho, orgulho, consideração
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Era uma vez um garoto chamado Alcides. Pequeno, saudável, alegre, Alcides vivia com
sua família em São Paulo. Seu
pai, um imigrante italiano em
busca de uma vida melhor, como
tantos outros pelo mundo, era dono de um bar.
O bar do pai de Alcides não ficava na rua. O bar do pai de Alcides
ficava em um clube da cidade, o
hoje tradicional Harmonia. Naquela época, há quase 80 anos, o
Harmonia era só uma parte do
Clube Paulistano, este, sim, frequentado por gente rica.
Alcides não era rico, mas, simpático, acabava sempre convidado por elegantes e ricas senhoras
do clube para brincar de tênis
com elas. Assim, com 14 anos, o
que hoje seria considerado muito
tarde para iniciar uma carreira,
Alcides começava a aprender e a
jogar tênis.
Ao mesmo tempo em que ajudava o pai no bar, Alcides continuava treinando no clube, às vezes às escondidas. O garoto tinha
talento, jeito com a raquete, melhorava a cada dia.
Rapidamente Alcides começou
a ganhar de bons tenistas, que jogavam havia mais tempo que ele.
Logo depois, começou a ganhar
de excelentes tenistas, alguns dos
melhores que havia em São Paulo
e no Brasil inteiro.
Foi então que Alcides, de tanto
ouvir falar, decidiu conhecer
Wimbledon. Só que, naquela época, não era fácil. Em vez de pegar
um avião e desembarcar em Londres, como fazem os tenistas hoje
em dia, Alcides teve de encarar
uma longa e cansativa viagem de
navio para a Inglaterra.
Mesmo sem jamais ter visto
uma quadra de grama na vida,
Alcides atuou em Wimbledon e
ganhou dois jogos antes de ser batido. Nunca um brasileiro havia
jogado nas famosas quadras do
All England Lawn & Tennis Club.
Até na Europa Alcides começava a ficar conhecido. Mas a Segunda Guerra Mundial estava
prestes a começar. Assustado com
o que estava por ocorrer na Europa, Alcides decidiu voltar ao país.
E, em vez de lamentar, Alcides
continuou jogando tênis e ganhou todos os torneios que disputava por aqui. Na Davis, em 1951,
realizou outro sonho: jogou na
quadra central de Roland Garros.
Alcides parou de jogar só no fim
dos anos 50, mas, de tão apaixonado pelo tênis, jamais abandonou o esporte. Montou uma fábrica para produzir raquetes e deu a
elas o seu sobrenome: raquetes
Procópio. Quando ainda nem
existia a ATP, Alcides inventou
de promover torneios profissionais pelo país. Banana Bowl, Maria Esther Bueno, cada uma dessas conquistas do tênis brasileiro
teve um dedo de ajuda de Alcides
Procópio.
Às 5h do domingo, porém, o garoto Alcides Procópio parou de
colecionar histórias e feitos. Aos
86 anos, foi vítima de falência
múltipla dos órgãos, no hospital
São Luis, na mesma cidade onde
seu pai tinha um bar e em que
aprendeu a jogar tênis.
O dia hoje é para lembrar e
brindar aqueles que merecem respeito, carinho e consideração.
Além de Alcides, o tênis nacional perdeu neste fim de ano Ronald Barnes, único brasileiro a
chegar às semifinais masculinas
do Aberto dos EUA. Aos 61 anos,
foi vitimado por um câncer em
Nova York, onde morava.
A Alcides Procópio e Ronald
Barnes, orgulhos do tênis brasileiro, o "muito obrigado".
Programação intensiva
Animadora a programação de Guga para 2003. Desta vez, não foge
de Wimbledon. Para quem é um festeiro, viajar logo no dia primeiro do ano à Nova Zelândia dá a idéia da disposição de Guga.
Números absolutos
O pai de Jelena Dokic apareceu de novo. Após invadir uma quadra,
bêbado, e atirar um celular contra um jornalista, Damir disse a um
jornal inglês que 40% das tenistas que competem no circuito profissional são lésbicas. E a filha? "Ela não é; se fosse, eu me mataria."
Decisão empolgante
É oficial: Pete Sampras não deixou o tênis. O americano confirmou
que estará em quadra em 2003, provavelmente começando a temporada em fevereiro. Sampras está relaxado: não tem meta fixa.
"Quero jogar e ver como as coisas rolam." Além da mulher, Bridgette Wilson, ele recebeu incentivo do irmão, Gus, e do pai, Sam.
E-mail - reandaku@uol.com.br
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