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JUCA KFOURI
Dinei, o corintiano
O Corinthians é mesmo diferente, único.
A começar pelo que observou, há muitos anos, o já falecido jornalista José Roberto de
Aquino: "Todos os times têm
uma torcida, menos o Corinthians, onde é a torcida que
tem um time".
Talvez por isso, os heróis corintianos nem sempre sejam
seus melhores jogadores, o artilheiro, o charmoso.
Nem sempre não. Raramente
é assim.
Por exemplo, agora.
Ninguém discute que Gamarra, de gama e garra, é um dos
melhores zagueiros do mundo.
Nem que Vampeta é sinônimo de jogador moderno.
Ou que Edílson foi, se não o
melhor, um dos melhores jogadores do campeonato.
Muito menos que Marcelinho, mais uma vez, foi simplesmente decisivo com seus surpreendentes 19 gols, ele que joga fora da área.
(Aliás, o Corinthians de Marcelinho e Edílson repete o de
Neto, em 1990, e ganha o título
sem um grande jogador de presença na área.)
Mas pergunte por aí quem o
corintiano tem na conta do
grande herói desta segunda
conquista do Campeonato Brasileiro.
Dinei será o escolhido.
E não só porque ele marcou
um e deu os outros quatro dos
cinco gols feitos pelo Corinthians nas três partidas finais
diante do Cruzeiro.
Muito menos porque ele deu
a volta por cima em sua vida
pessoal.
Ele é o herói porque exala corintianismo em seu jeito simples, alegre e sincero de se comportar.
Sincero a ponto de reconhecer que não tem condições físicas para jogar 90 minutos.
Alegre porque sabe brincar
com o torcedor na linguagem
do torcedor.
E simples na medida em que
saiu da "Gaviões da Fiel" para
dentro do campo.
Quando veste, como fez anteontem, a camisa da torcida
organizada, e proibida, não esconde que viu barbaridades e
fez muita coisa que não devia
quando foi um de seus membros -algo que recrimina hoje
com palavras sempre generosas, mas definitivas.
Dinei é, enfim, o corintiano
que deu certo, aquele que representa a massa no gramado,
"maloqueiro e sofredor, graças
a Deus", como gosta de cantar
a fiel.
Quem olhar no fundo dos
olhos de Dinei verá aquela mistura de carência com instinto
de sobrevivência, algo que nós,
os bem nascidos, nem sabemos
direito o que é.
Por isso ele é um símbolo e o
maior dos campeões.
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