São Paulo, sexta, 25 de dezembro de 1998

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JUCA KFOURI
Dinei, o corintiano

O Corinthians é mesmo diferente, único.
A começar pelo que observou, há muitos anos, o já falecido jornalista José Roberto de Aquino: "Todos os times têm uma torcida, menos o Corinthians, onde é a torcida que tem um time".
Talvez por isso, os heróis corintianos nem sempre sejam seus melhores jogadores, o artilheiro, o charmoso.
Nem sempre não. Raramente é assim.
Por exemplo, agora.
Ninguém discute que Gamarra, de gama e garra, é um dos melhores zagueiros do mundo.
Nem que Vampeta é sinônimo de jogador moderno.
Ou que Edílson foi, se não o melhor, um dos melhores jogadores do campeonato.
Muito menos que Marcelinho, mais uma vez, foi simplesmente decisivo com seus surpreendentes 19 gols, ele que joga fora da área.
(Aliás, o Corinthians de Marcelinho e Edílson repete o de Neto, em 1990, e ganha o título sem um grande jogador de presença na área.)
Mas pergunte por aí quem o corintiano tem na conta do grande herói desta segunda conquista do Campeonato Brasileiro.
Dinei será o escolhido.
E não só porque ele marcou um e deu os outros quatro dos cinco gols feitos pelo Corinthians nas três partidas finais diante do Cruzeiro.
Muito menos porque ele deu a volta por cima em sua vida pessoal.
Ele é o herói porque exala corintianismo em seu jeito simples, alegre e sincero de se comportar.
Sincero a ponto de reconhecer que não tem condições físicas para jogar 90 minutos.
Alegre porque sabe brincar com o torcedor na linguagem do torcedor.
E simples na medida em que saiu da "Gaviões da Fiel" para dentro do campo.
Quando veste, como fez anteontem, a camisa da torcida organizada, e proibida, não esconde que viu barbaridades e fez muita coisa que não devia quando foi um de seus membros -algo que recrimina hoje com palavras sempre generosas, mas definitivas.
Dinei é, enfim, o corintiano que deu certo, aquele que representa a massa no gramado, "maloqueiro e sofredor, graças a Deus", como gosta de cantar a fiel.
Quem olhar no fundo dos olhos de Dinei verá aquela mistura de carência com instinto de sobrevivência, algo que nós, os bem nascidos, nem sabemos direito o que é.
Por isso ele é um símbolo e o maior dos campeões.



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