|
Próximo Texto | Índice
Governo decreta hoje o fim do passe, 1º passo para libertação dos atletas
Futebol brasileiro acorda mais livre
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL FC
Entra em vigor hoje a lei que põe
fim a um poder de quase 60 anos
dos clubes de futebol sobre os jogadores profissionais.
A lei, elaborada pelo ex-jogador
Pelé, extingue o passe, instrumento pelo qual os clubes tinham direito de negociar os jogadores
mesmo depois do fim do contrato
de trabalho dos atletas.
O passe, desde o início da década de 40, quando foi oficialmente
instituído, impedia os jogadores
profissionais de trabalhar onde
bem entendessem, de exercer um
direito garantido pela própria
Constituição de 1988.
Essa espécie de escravidão serviu para enriquecer dirigentes e
empresários. Pouco fez por uma
melhor distribuição de renda entre a categoria de jogador profissional. Estabeleceu um modelo
anacrônico de administração nos
clubes, calcado apenas na compra
e venda do pé-de-obra.
A extinção do passe ocorre em
meio à pior crise financeira e institucional do futebol brasileiro.
Apesar de ter sido elaborada em
1998, a Lei Pelé (o nome foi dado
em homenagem ao seu criador)
-especialmente seu artigo 28,
que acaba com o passe- só pôde
assegurar a alforria aos jogadores
por força de uma medida provisória, sancionada na sexta-feira
pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e publicada hoje pelo "Diário Oficial da União".
Elaborada pelo ministro do Esporte, Carlos Melles, a MP deu garantias aos clubes sobre os jogadores formados em suas categorias de base.
Também ampliou de dois para
cinco anos o prazo de vigência do
primeiro contrato desses jovens
atletas com os clubes.
A MP determina ainda uma indenização aos clubes de até 200
vezes o salário anual do jogador
em caso de transferência deste para outra agremiação desportiva.
Somente após ter atendido as
exigências dos dirigentes e empresários, a MP garantiu o cumprimento da Lei Pelé em seu ponto mais importante.
Ainda assim, ela significa uma
revolução na estrutura do futebol,
já que elimina os resquícios de legislações esportivas criadas durante regimes autoritários.
Antes da Lei Pelé, vigorava a Lei
6354/76, do ex-presidente militar
Ernesto Geisel (1908-1996), que
reconheceu a profissão de jogador de futebol, mas instituiu de
vez o poder dos clubes sobre os
trabalhadores da bola.
Sob nova legislação, o Brasil
tenta a partir de agora encurtar a
distância que o separa da Europa
nos âmbitos financeiro e organizacional do futebol.
Desde 1995 o passe não existe na
Europa, o que impulsionou a profissionalização de clubes, empresários e dirigentes.
O caminho que o Brasil espera
trilhar é semelhante. Os jogadores, por sua vez, estão mais livres
para caminhar.
Próximo Texto: Eis a hora do "ex-escravo" Índice
|