São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001 |
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Ex-jogadores viram empresários de sucesso e ganham poder na nova ordem do futebol Eis a hora do "ex-escravo"
FÁBIO SOARES DA REDAÇÃO O fim do passe no futebol, hoje, fortalece uma classe de jogadores aposentados que investiu, principalmente nos últimos três anos, na carreira de empresário como a mais rentável alternativa à tradicional tendência de seguir como técnico, comentarista de TV ou dono de escolinha para garotos. Eles apostaram e, ao que tudo indica, devem se dar muito bem. Sem o passe, esses jogadores, que foram vítimas da "escravidão" e que hoje atuam como empresários, estão entre os grandes beneficiados pela nova ordem do futebol brasileiro, já que a figura do dirigente esportivo sai de cena nas negociações. Atualmente alguns ex-ídolos dos gramados disputam espaço com figuras como Juan Figer, Marcel Figer e Léo Rebello, antes soberanos no mercado de negociações de jogadores. Dos 20 agentes de futebol credenciados pela Fifa no Brasil, três são ex-jogadores de sucesso: Gilmar Rinaldi (ex-São Paulo e Flamengo), Edino Nazareth Filho, o Edinho (ex-seleção brasileira, Fluminense e Udinese-ITA), e Claudio Guadagno (ex-Palmeiras, Santos e São Paulo). Edinho chegou a ser técnico da Lusa e Gilmar foi "manager" no Flamengo. Ambos tiveram de desembolsar uma quantia equivalente a US$ 150 mil para serem reconhecidos pela entidade. De acordo com advogados e administradores ouvidos pela Folha, sem o passe, que dava poder quase absoluto aos dirigentes nas negociações, os empresários ganharão mais poder no futebol (veja textos nesta página). "O fortalecimento dos empresário é uma tendência natural, como em qualquer outra área de atividade comercial", diz o advogado Leonardo Serafim, especialista em direito desportivo. "Vamos ganhar um pouco de poder com o fim do passe", reconhece Gilmar, administrador da carreira de 11 atletas distribuídos pelo Flamengo, Goiás, Juventude e São Paulo. O advogado Marcílio Krieger, também especialista em direito desportivo, afirma que a MP que garantiu o fim do passe deu poderes demais ao empresário, o que pode ser nocivo para o atleta. "Foi feita sob encomenda para eles." Estão também no mundo dos negócios futebolísticos no Brasil o ex-volante Bernardo (ex-São Paulo e Corinthians), Paulinho McLaren (ex-Santos e Botafogo) e Alemão (ex-seleção e Napoli). Outros como Zico e a dupla Careca e Edmar constituíram empresas e se tornaram donos do CFZ e do Campinas Futebol Clube, respectivamente. Ainda em atividade, Rivaldo e César Sampaio, por meio da CSR Futebol e Marketing, comandam o futebol do Guaratinguetá Esporte Clube. O contrato firmado há dois anos prevê dez anos de parceria entre eles. Para Edmar o fim do passe pode prejudicar os que trabalham com jogadores nas categorias de base, apesar de a medida provisória publicada hoje garantir uma indenização ao clube formador em caso de venda de atletas. "A gente desenvolve o garoto, amanhã ele te deixa, e você não tem recompensa com isso." Os agentes da Fifa costumam trabalhar com jogadores mais conhecidos, geralmente já integrados a algum clube. Além de divulgar ao máximo seus atletas ou discutir contratos, esses agentes, até pela experiência adquirida, chegam a cuidar da vida pessoal de seus clientes mais renomados, assessorando até na compra de imóveis ou carros. "Às vezes, o preço fica diferente quando o vendedor reconhece o jogador", explicou Isac Costa, um dos assessores da Attos Sports, empresa de Alemão. A Attos é responsável por 13 jogadores, entre eles Euller (Vasco), Mancini (Lusa) e Cláudio Caçapa (Lyon, da França). Negócios envolvendo Careca, Gilmar e Edinho estão sendo investigados por duas CPIs do Congresso que devassam o futebol desde outubro do ano passado. Colaborou José Alberto Bombig, do Painel FC Texto Anterior: Futebol brasileiro acorda mais livre Próximo Texto: Prós e Contras Índice |
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