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FUTEBOL
Quarenta anos de um gol contra
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Uma crítica recorrente ao formato do próximo Brasileiro
condena o exagerado número de
participantes: 24. Prolonga a
competição em pontos corridos e
opõe equipes de níveis por demasiado diferentes. Já foi pior: em
1979, no tempo do regime militar,
houve quatro vezes mais times,
beirando os cem. A Arena era o
partido do governo. O futebol,
instrumento de toma-lá-dá-cá.
Ironizava-se: onde a Arena vai
mal, mais um clube no Nacional.
Quando o golpe que apeou o governo constitucional de João
Goulart faz quatro décadas, o inventário da ditadura no futebol
não indica o que comemorar.
Nem no campo nem fora.
Das cinco Copas disputadas no
ciclo militar (1964-85), o Brasil
venceu uma. Das outras 12 (a de
38 sob o Estado Novo), papou
quatro. Militarizou-se a seleção.
A segurança das Forças Armadas
afastou jogadores de torcedores e
jornalistas. Em 70, o Exército escalou oficiais na comissão técnica. Em 78, o capitão Cláudio Coutinho dirigiu o time na Argentina.
Embora talentoso, foi ungido em
virtude da origem na caserna.
Nunca um título foi tão faturado por um presidente como o tri
de 70 pelo general Médici. Ouvia
jogos pelo rádio e ensaiava embaixadinhas para as câmeras. Último dos ditadores militares, João
Baptista Figueiredo foi entronado
presidente de honra do Flu.
Enquanto o regime desaparecia
com corpos e matava um oposicionista que compunha versos para Garrincha, jornais uruguaios
estampavam declarações de Pelé
a assegurar a inexistência de tortura no Brasil. O mesmo Pelé que,
com o Santos, tinha excursões ao
exterior espionadas por agentes
que deduravam suas saliências.
Futebol e repressão se uniram
numa só pessoa quando o antigo
perna-de-pau Didi Pedalada,
transformado em tira, participou
do seqüestro dos militantes uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Diaz em Porto Alegre.
A aliança com as ditaduras do
Cone Sul teve outra conseqüência. Em 78, o Brasil não peitou a
Fifa contra a armação que rendeu a goleada da Argentina sobre
o Peru e o adiamento do tetra. O
título, então, valia mais para generais argentinos que brasileiros.
O regime baniu o futebol feminino com resolução do Conselho
Nacional dos Desportos. Dono da
bola entre os homens, o Brasil
amarga o atraso entre as mulheres. O afastamento de João Havelange da CBD pelo general Ernesto Geisel acabou com o que o governo considerava contas marcadas por certa, digamos, liberalidade. Porém sacramentou a ordem fardada, com a nomeação
do almirante Heleno Nunes.
A ditadura foi trágica para o futebol ao estender ao esporte a asfixia que impôs ao país. Mas é falso que o general Médici tenha demitido o técnico (comunista) João
Saldanha por não chamar Dario.
A frase de Saldanha para Médici -"O senhor escala o seu ministério que eu escalo o meu time"-
nunca existiu. Figura fascinante,
Saldanha a inventou. Ele caiu por
outra invenção: teimou que Pelé,
"míope", não poderia jogar no
México.
Delírio de araponga
Informe da Agência Rio de Janeiro do Serviço Nacional de
Informações em 1975 fincou
uma acusação: os comentários
de Mário Vianna no rádio sobre arbitragens seriam incitados pelo colega João Saldanha.
"Objetivo" de Saldanha: irritar
a torcida, "provocando na massa (...) reações descontroladas."
Oscar, Guga e Maluf
Oscar condenou o boicote de
Guga à Copa Davis. Ataca a atitude porque seria mais "patriótico" defender o país. Uma curiosidade: o que o ex-cestinha,
correligionário de Paulo Maluf
em outras jornadas, pensa sobre a anunciada movimentação
financeira do padrinho político
em paraísos fiscais? O "patriota" Oscar talvez tenha algo a dizer sobre interesses nacionais.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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