São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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FUTEBOL

Esquema da moda

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A moda é falar das duas linhas de quatro, como símbolo de uma ótima marcação. Com freqüência, Parreira diz que o ataque da seleção não fez gols porque o outro time tinha oito jogadores atrás da linha da bola (duas linhas de quatro).
O Boca, jogando dessa forma, ganhou duas vezes do Santos pela Libertadores do ano passado e neste ano anulou o ataque do São Caetano, no empate em 0 a 0. Ontem, os dois times fariam a segunda partida, na Argentina.
Este tipo de marcação não é novidade e nem sempre é eficiente. Para funcionar bem, defensivamente, as duas linhas de quatro precisam ficar recuadas e sem espaço entre elas. Os meias de ligação não recebem a bola entre os zagueiros e volantes, os dois laterais são marcados pelos armadores que atuam pelos lados e não há espaços para os lançamentos longos atrás dos zagueiros. Uma das maneiras de vencer esta marcação é pressionar e tomar a bola no campo do adversário, quando a defesa estiver desorganizada. Outra, são os chutes de fora da área. Mas a melhor forma de furar esta retranca são os dribles.
Por outro lado, o time que tem oito jogadores recuados deixa os dois atacantes isolados para o contra-ataque. Esses precisam ser rápidos e habilidosos. No empate no ABC ente Boca e São Caetano nada aconteceu, já que o Boca ficava muito atrás e o São Caetano tinha sempre um zagueiro na cobertura. Foi um jogo horrível.
Nem sempre as duas linhas de quatro são eficientes. Se elas avançam juntas, sobram espaços nas costas dos zagueiros, que ficam em linha. Os espanhóis atuavam assim. Romário e Ronaldo, principalmente quando esse jogava no Barcelona, fizeram muitos gols recebendo lançamentos longos atrás dos defensores.
Se os quatro armadores marcam mais na frente e os quatro defensores ficam muito atrás, fica um grande espaço entre as duas linhas para os meias de ligação receberem a bola, como aconteceu com a França contra o Brasil.
No Brasil, só os times pequenos jogam com duas linhas de quatro, contra os grandes. Quase todos os times e a seleção atuam com três no meio e um meia na ligação com os dois atacantes. Esse é um bom esquema, mas os times precisam se libertar da presença desses meias. Há poucos talentosos e existem outras maneiras de se organizar uma equipe.

Estilo guerreiro
Será uma grande zebra se o São Paulo não se classificar para a semifinal da Libertadores. O time tem três gols de vantagem e é bem melhor do que o Deportivo Táchira, da Venezuela. Além disso, um dos pontos fortes do São Paulo tem sido a marcação. Os dois zagueiros estão bem e só o Luis Fabiano não volta para marcar.
O São Paulo possui também um bom contra-ataque, com os velozes e eficientes laterais (Gustavo Nery e Cicinho) e o artilheiro Luis Fabiano. O time é muito aguerrido, mas não encanta. Falta talento no meio-campo.
A grande dúvida sobre a qualidade do São Paulo é o fato de a equipe não ter feito uma única grande exibição e nem vencido um forte adversário, neste ano.
No Paulista, após vencer fracos times e ficar nove jogos invicta, a equipe foi eliminada pelo São Caetano. No Brasileirão e na Libertadores, o São Paulo ainda não ganhou de nenhum dos principais candidatos ao título.
Os torcedores do São Paulo confiam muito mais no estilo guerreiro da equipe atual do que no futebol vistoso e de habilidade dos times anteriores, que perderam vários jogos decisivos. O ideal é ter as duas qualidades.

Fácil treino
No primeiro tempo do treino contra a Catalunha, um rival desentrosado e muito fraco, o Brasil fez dois gols com Ronaldo entrando livre, em velocidade. Assim ele faz a maioria de seus gols.
Edmílson deu dois ótimos passes longos, como no segundo gol do Ronaldo. Tomara que ele continue assim por um longo tempo, contra boas equipes e seja o volante que falta ao Brasil. Serei o primeiro a reconhecer, mas ainda é muito cedo. Sou livre para elogiar, criticar e mudar de opinião.
No segundo tempo, o Brasil mudou quase todo o time e o treino continuou fácil. Júlio Baptista fez dois gols (um golaço). Mas não dá para analisar jogadores somente por esse amistoso e nem dizer que o Ronaldo já está em forma.
Estou otimista para o jogo contra a Argentina, não por causa desta goleada por 5 a 2, e sim pelo empate em 0 a 0 contra a França.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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