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A arte da guerra
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A NUREMBERG
Parecia uma discussão banal,
dessas comuns em jogos de futebol, até o português Luis Figo
acertar uma cabeçada no atacante holandês Van Bommel.
Era a centelha que faltava para transformar um jogo tenso
numa batalha campal que conquistou seu lugar na história.
Porque foi a partida de Copa
com mais jogadores advertidos
e expulsos. Porque Portugal, dirigida por Luiz Felipe Scolari,
venceu por 1 a 0 e classificou-se
para as quartas-de-final, o que
não acontecia há 40 anos
-quando era comandada pelo
também gaúcho Oto Glória.
Ao todo, o juiz russo Valentin
Ivanov mostrou 16 amarelos e
quatro vermelhos em Nuremberg. A marca impulsionou outro recorde: mesmo restando
12 jogos para o fim, a edição de
2006 já registra 23 expulsões
em 52 duelos, uma a mais do
que nas 64 partidas da França-98.
Os números são impactantes, mas não traduzem o nervosismo do jogo. Também não revelam a emoção dos portugueses com o suado placar, construído no primeiro tempo e defendido por nove atletas durante parte da etapa derradeira.
"Foi uma vitória de heróis,
que merecem ser lembrados
para sempre", disse Scolari.
O treinador até tentou empurrar todos os méritos a seus
comandados. Depois, contudo,
reconheceu que a vitória tinha
todas as marcas do seu sucesso.
"O jogo teve a minha cara, a
cara da superação. Foi um jogo
de Libertadores. É meu papel
fazer os jogadores correrem um
pouco mais, lutarem um pouco
mais. É assim que se vence."
A luta foi literal ontem. Daquela desavença entre Figo e
Van Bommel, no início do segundo tempo, pontapés, empurrões, cotoveladas e entradas
fortes se tornaram comuns.
O momento de maior eletricidade ocorreu aos 26min,
quando a Holanda deixou de
devolver uma bola mandada
para fora para o atendimento
ao goleiro Ricardo. O zagueiro
holandês Heitinga, que acabara
de entrar, aproveitou o descuido dos portugueses, que esperavam o "fair play", e partiu em
disparada ao ataque.
Irritado, Deco acertou as
pernas do rival com um carrinho de artes marciais. Uma troca generalizada de agressões se
seguiu, interrompida depois
com três cartões amarelos.
Um deles, claro, para Deco,
depois expulso. Era o segundo
luso a deixar o campo -Costinha já havia levado vermelho.
"Naquela altura, eu não acreditava que agüentaríamos a
pressão. Mas nunca vi um grupo tão unido, com tanta vontade de ganhar", diz Scolari.
Não parecia que seria tão difícil. Mais organizado que o rival, seu time fez o gol aos 23min
do primeiro tempo. Deco cruzou da esquerda, e Pauleta ajeitou para Maniche, que se livrou
de um zagueiro e chutou.
O tempo começou a mudar
quando Scolari perdeu Cristiano Ronaldo, que deixou o campo chorando. Fora atingido no
início da partida e não suportava a dor na coxas provocada pelas travas de Boulahrouz.
Após o apito final, voltou a
chorar, agora pela emoção de
estar entre os oito melhores.
Fã de "A Arte da Guerra", livro do chinês Sun Tzu, o treinador, que usou a obra para conquistar o penta com o Brasil, se
poupou de comentar o próximo
rival, a Inglaterra. "Agora não
dá. Esse jogo foi demais."
Em tempo real, a definição de mais um confronto das quartas
www.folha.com.br/copa2006
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