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Garra scolariana supera frieza laranja
Frenético, treinador brasileiro vibra ao extremo e xinga à beira do campo, de onde Van Basten viu a derrota impassível
Scolari também aponta catimba dos holandeses, enquanto colega reclama da falta de bola rolando no 2º tempo e critica adversários
DO ENVIADO A NUREMBERG
Ambos têm retrospectos invejáveis no comando de suas
seleções. Ambos são muitas vezes apontados como principais
responsáveis pela classificação
de seus comandados para a Copa. Só que, em campo, Luiz Felipe Scolari e Marco van Basten
seguem caminhos opostos.
Ontem, no Frankenstadion,
estiveram em harmonia apenas
nos 43 segundos iniciais da partida, quando permaneceram
sentados no banco de reservas.
O brasileiro, então, levantou-se e deu início a um verdadeiro
show particular.
Não só pelas já famosas comemorações efusivas de gol,
nas quais soca o ar e invade o
campo para cumprimentar
seus jogadores, mas principalmente pela participação na catimba que sua equipe utilizou
para segurar o jogo durante toda a etapa derradeira.
Suas ordens para que os atletas ficassem o máximo possível
de tempo caídos após uma falta
ou uma dividida chegaram a
produzir cenas engraçadas.
Ao final do segundo tempo,
por exemplo, fez sinal para três
jogadores portugueses se atirarem ao mesmo tempo no gramado. O juiz não sabia qual deles procurar para resolver a situação. O embuste segurou a
partida por quase três minutos.
"Fiz o que sempre faço em jogos complicados, é normal. A
gente tem ouvido que Portugal
tem uma capacidade de sofrer.
Não ganha jogo de 3 a 0. Todo
mundo sofre", disse Scolari, 57.
A análise de Van Basten, que
ontem não pôs em campo o artilheiro Van Nistelrooy, é menos pautada pela emoção, bem
como seu comportamento em
campo. Mãos no bolso da calça,
olhar fixo nos atletas, poucas
palavras. Nem a tensão da etapa final foi capaz de alterá-lo.
"Não fomos capazes de jogar
da forma como esperávamos.
Só lamento porque praticamente não tivemos futebol no
segundo tempo. O juiz perdeu o
controle. Dos 45 minutos de jogo, a bola deve ter rolado somente em uns 20", afirmou.
Foi pouco, segundo ele, para
que seu jovem time conseguisse virar o marcador. Desde que
assumiu a Holanda, que ontem
não vestiu o tradicional laranja,
Van Basten havia sofrido apenas um revés, diante da Itália.
Afirmou, contudo, não deixar
o Mundial decepcionado. "A
principal meta que temos traçada é a Eurocopa de 2008."
O ex-artilheiro de 41 anos,
com carreira premiada no Milan e na seleção, evitou criticar
as determinações que Scolari
dava a seus atletas para atrasar
o duelo. Mas, após o jogo, não
procurou o colega vencedor para o tradicional aperto de mão.
O brasileiro, contudo, não
deixou a Holanda passar em
branco. Ficou irritado no lance
em que seus rivais não devolveram a bola para os portugueses
após contusão do goleiro Ricardo. Ainda no gramado, o técnico partiu para cima do árbitro
reserva e gritou para Van Basten. "Não ouvi nada do que ele
disse", esquivou-se o holandês.
Depois do jogo, Scolari atirou
mais. "A Fifa fala em "fair play",
mas isso não existiu hoje. Foi
um jogo violento, mas aquilo de
não devolver a posse de bola
não pode acontecer", reclamou.
Para comemorar sua 31ª vitória em 47 jogos comandando
Portugal, Scolari fez de tudo.
Primeiro, abraçou colegas da
comissão técnica. Depois, cumprimentou individualmente
cada um de seus jogadores.
Como "gran finale", já ensopado de suor, participou de um
"trenzinho" com outros portugueses, que buscavam saudar a
torcida nas arquibancadas.
Já Van Basten nem se preocupou em conversar com seus
atletas, estatelados no gramado. Caminhou devagar para o
vestiário. As duas mãos no bolso da calça.
(GUILHERME ROSEGUINI)
Outras fotos da épica classificação portuguesa www.folha.com.br/061522
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