|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Arroz, tortilla e futebol
Diante de comidas típicas de seu país, o ex-jogador Pérez relembra a vitória de Honduras sobre o Brasil, na Copa América de 2001
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Limber Pérez diz uma coisa, seu olhar grita outra. "Para mim, é normal assistir a
um jogo como este. Não sinto
mais aquela vontade de estar
lá", afirma, enquanto a seleção hondurenha entra em
campo para pegar a Suíça.
É. Mas ele poderia estar lá.
Aos 33, tem rosto de moleque e, garante, fôlego. Só não
tem joelho esquerdo. Após
três cirurgias, deixou o futebol. Está parado há três anos.
Daí, o olhar um quê melancólico quando vê os ex-
-companheiros alinhados
para o hino na África do Sul.
Três deles estavam ao seu
lado na maior vitória da história de Honduras. Em julho
2001, contra a seleção brasileira, nas quartas de final da
Copa América, na Colômbia.
O placar, 2 a 0. E o segundo
gol teve assistência dele.
A 15ª parada da série "Um
Mundo Que Torce" teve arroz, feijão, carne, queijo, linguiça, tortillas. Diante de
duas bandejas de "catrachito", prato típico hondurenho, a Folha e o ex-lateral direito falaram sobre futebol.
Aquele, de 2001. E o que se
jogava naquele exato momento em Bloemfontein. A
conversa ia, voltava, ia...
"Vou ser sincero. Antes
daquele jogo contra o Brasil,
estávamos com medo. Medo.
Medo e respeito. Era isso que
sentíamos", conta. "Nosso
único plano era não tomar
gol. E sabíamos que, se fizéssemos um, o Brasil viria para
cima e ficaria mais aberto."
Luiz Felipe Scolari apenas
começava seu trabalho à
frente de uma seleção que
cambaleava. E, segundo Pérez, as declarações dos brasileiros antes daquele jogo incomodaram e incentivaram.
"Alguns jogadores disseram que não sabiam nem onde ficava Honduras. Aquilo
nos irritou muito", lembra.
Na tela, Honduras ataca a
Suíça. "Estamos jogando
bem", afirma, em meio a um
restaurante todo vestido de
camisas azuis e brancas.
Nas duas primeiras partidas da Copa, contra Espanha
e Chile, o pessoal estava ainda mais animado. Agora,
caiu a ficha. "Eu não esperava nada deste time. É uma
equipe com média de idade
muito alta, quase 32 anos."
Mais uma vez, deixa escapar a vontade de estar lá.
2001. "Depois que fizemos
o gol, o Brasil veio para o ataque. Era justamente o que
queríamos. Ainda tivemos
um gol anulado. O 2 a 0 foi
pouco. A gente poderia ter
ganho de três ou quatro."
2010. "Este time ganhou
duas vezes do México nas eliminatórias e isso deu uma
impressão errada para os torcedores daqui. Eles só esqueceram que, na Copa, não se
joga contra o México nem se
joga em nosso estádio."
De novo, 2001. "Depois daquela vitória histórica, perdemos nas semifinais, mas
terminamos em terceiro e calamos a boca dos hondurenhos. Começaram a chover
propostas de empresários."
Ele mesmo esteve perto de
acertar com o Grêmio, conta.
Por fim, 2010. Honduras fica no empate em 0 a 0 com a
Suíça e, assim, despede-se de
seu segundo Mundial.
"O que falta aqui é trabalhar as categorias de base. Os
jogadores chegam à seleção
sem os fundamentos."
Correria para o aeroporto,
a série continua. Na despedida, Pérez, estudante de jornalismo e que já começa a
trabalhar como comentarista, despede-se com um sorriso esperançoso. "Quem sabe
não nos vemos em 2014?"
Seria, enfim, a sua primeira Copa do Mundo.
Texto Anterior: Clichê Próximo Texto: Brasileiros voltam a seu divisor de águas na F-1 Índice
|