São Paulo, sábado, 26 de junho de 2010

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Arroz, tortilla e futebol

Diante de comidas típicas de seu país, o ex-jogador Pérez relembra a vitória de Honduras sobre o Brasil, na Copa América de 2001

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Limber Pérez diz uma coisa, seu olhar grita outra. "Para mim, é normal assistir a um jogo como este. Não sinto mais aquela vontade de estar lá", afirma, enquanto a seleção hondurenha entra em campo para pegar a Suíça.
É. Mas ele poderia estar lá.
Aos 33, tem rosto de moleque e, garante, fôlego. Só não tem joelho esquerdo. Após três cirurgias, deixou o futebol. Está parado há três anos.
Daí, o olhar um quê melancólico quando vê os ex- -companheiros alinhados para o hino na África do Sul.
Três deles estavam ao seu lado na maior vitória da história de Honduras. Em julho 2001, contra a seleção brasileira, nas quartas de final da Copa América, na Colômbia. O placar, 2 a 0. E o segundo gol teve assistência dele.
A 15ª parada da série "Um Mundo Que Torce" teve arroz, feijão, carne, queijo, linguiça, tortillas. Diante de duas bandejas de "catrachito", prato típico hondurenho, a Folha e o ex-lateral direito falaram sobre futebol.
Aquele, de 2001. E o que se jogava naquele exato momento em Bloemfontein. A conversa ia, voltava, ia...
"Vou ser sincero. Antes daquele jogo contra o Brasil, estávamos com medo. Medo. Medo e respeito. Era isso que sentíamos", conta. "Nosso único plano era não tomar gol. E sabíamos que, se fizéssemos um, o Brasil viria para cima e ficaria mais aberto."
Luiz Felipe Scolari apenas começava seu trabalho à frente de uma seleção que cambaleava. E, segundo Pérez, as declarações dos brasileiros antes daquele jogo incomodaram e incentivaram.
"Alguns jogadores disseram que não sabiam nem onde ficava Honduras. Aquilo nos irritou muito", lembra.
Na tela, Honduras ataca a Suíça. "Estamos jogando bem", afirma, em meio a um restaurante todo vestido de camisas azuis e brancas.
Nas duas primeiras partidas da Copa, contra Espanha e Chile, o pessoal estava ainda mais animado. Agora, caiu a ficha. "Eu não esperava nada deste time. É uma equipe com média de idade muito alta, quase 32 anos."
Mais uma vez, deixa escapar a vontade de estar lá.
2001. "Depois que fizemos o gol, o Brasil veio para o ataque. Era justamente o que queríamos. Ainda tivemos um gol anulado. O 2 a 0 foi pouco. A gente poderia ter ganho de três ou quatro."
2010. "Este time ganhou duas vezes do México nas eliminatórias e isso deu uma impressão errada para os torcedores daqui. Eles só esqueceram que, na Copa, não se joga contra o México nem se joga em nosso estádio."
De novo, 2001. "Depois daquela vitória histórica, perdemos nas semifinais, mas terminamos em terceiro e calamos a boca dos hondurenhos. Começaram a chover propostas de empresários." Ele mesmo esteve perto de acertar com o Grêmio, conta.
Por fim, 2010. Honduras fica no empate em 0 a 0 com a Suíça e, assim, despede-se de seu segundo Mundial.
"O que falta aqui é trabalhar as categorias de base. Os jogadores chegam à seleção sem os fundamentos."
Correria para o aeroporto, a série continua. Na despedida, Pérez, estudante de jornalismo e que já começa a trabalhar como comentarista, despede-se com um sorriso esperançoso. "Quem sabe não nos vemos em 2014?"
Seria, enfim, a sua primeira Copa do Mundo.


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