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Jogadores desembarcam dizendo que erro foi terem atacado Honduras
Seleção já incorpora discurso de "timinho"
Atletas afirmam que vergonha é matar ou roubar, e não perder um jogo, e pedem
aos torcedores e à imprensa para assimilarem que Brasil virou mais um coadjuvante
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A derrota por 2 a 0 para Honduras na última segunda-feira não
foi mero acaso. Fiascos como a
eliminação da Copa América, afinal, podem virar a tônica do futebol brasileiro nos próximos anos.
Pelo menos é o que dizem os jogadores da seleção que participaram da fracassada campanha em
terras colombianas.
Ao desembarcarem em São
Paulo ontem de madrugada, os
atletas, com raras exceções, adotaram um discurso parecido. Primeiro tentavam manter a cabeça
erguida, afirmando que vergonha
é roubar e matar, não perder para
Honduras. Em seguida, diziam
encarar o resultado com naturalidade, apregoando que o futebol
brasileiro passa por uma fase de
mediocridade.
O goleiro Marcos foi um dos
mais ardorosos defensores desta
tese. Para o atleta do Palmeiras,
está claro que ""a seleção brasileira
hoje é apenas mais uma". ""Não
somos mais os favoritos, viramos
meros coadjuvantes", comentou,
acrescentando achar fundamental que a torcida e a imprensa comecem a aceitar a nova etapa.
""O Brasil tem uma história no
futebol, mas eu não faço parte dela", chegou a dizer o goleiro, que
demonstra muita preocupação
com a partida de 15 de agosto, em
Porto Alegre, contra o Paraguai.
Se não vencer o jogo, os brasileiros poderão ficar, pela primeira
vez nestas eliminatórias para a
Copa de 2002, fora da zona de
classificação. ""Eu já estou preocupado faz tempo [com a chance de
ficar fora do Mundial". Nem pode
passar por nossa cabeça perder",
completou, defendendo que o time, mesmo em casa, atue com
dez jogadores na defesa.
O atacante Jardel, outro que desembarcou em São Paulo, concorda com Marcos. ""Se a gente não
tivesse mudado o esquema [de 3-5-2 para 4-4-2, alteração feita para o segundo tempo contra Honduras", a defesa não teria ficado
tão aberta e daria para ter levado
o jogo para os pênaltis."
A tese era a mesma de Denílson.
O meia-atacante, esperado no aeroporto por familiares, acha que
o esporte mudou muito nos últimos anos. Hoje, fora França e Argentina, as demais seleções estariam num nível muito parecido.
""Não dá para falar que o Brasil é
superior a Honduras, Gana, Camarões... Se fosse assim, estaríamos vencendo sempre com facilidade, como acontecia no passado. Hoje qualquer país tem jogador na Europa e eu diria que, com
pouquíssimas exceções, não existe mais jogo fácil."
Por isso mesmo, o volante
Eduardo Costa, o primeiro a desembarcar, foi incisivo. Ao ser indagado se estava envergonhado
pelo fiasco na Colômbia, respondeu: ""Eu teria vergonha se tivesse
roubado ou matado alguém. Trabalhei com honestidade, vou sentir vergonha do quê?"
Foi o que também declarou Júnior, seu companheiro na equipe.
""Vergonha é roubar, é a fome e a
violência que existem no Brasil,
não a seleção. Uma derrota para
Honduras não é uma tragédia, só
seria se a gente não tivesse se esforçado. E esforço não faltou."
Se não faltou esforço, faltou o
quê? ""Não sei, talvez talento, o
que vocês quiserem, mas esforço
não foi", disse Júnior. ""O que eu
posso fazer se o futebol ficou nivelado e se como a seleção brasileira existem vários outros times?", perguntou.
Mesmo assim, no entanto, havia jogador que não conseguia esconder o constrangimento.
Foi o caso de Marcos e Guilherme. O goleiro e o atacante, mesmo defendendo que a seleção está
"nivelada por baixo", dizem ter
tido problemas com o fracasso.
O primeiro afirmou não ter
conseguido pegar no sono por
causa da derrota para Honduras.
O segundo, que ainda não havia
falado com os pais por telefone.
"Fiquei com vergonha de ligar",
admitiu Guilherme.
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