São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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Jogadores desembarcam dizendo que erro foi terem atacado Honduras

Seleção já incorpora discurso de "timinho"

Atletas afirmam que vergonha é matar ou roubar, e não perder um jogo, e pedem aos torcedores e à imprensa para assimilarem que Brasil virou mais um coadjuvante

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A derrota por 2 a 0 para Honduras na última segunda-feira não foi mero acaso. Fiascos como a eliminação da Copa América, afinal, podem virar a tônica do futebol brasileiro nos próximos anos.
Pelo menos é o que dizem os jogadores da seleção que participaram da fracassada campanha em terras colombianas.
Ao desembarcarem em São Paulo ontem de madrugada, os atletas, com raras exceções, adotaram um discurso parecido. Primeiro tentavam manter a cabeça erguida, afirmando que vergonha é roubar e matar, não perder para Honduras. Em seguida, diziam encarar o resultado com naturalidade, apregoando que o futebol brasileiro passa por uma fase de mediocridade.
O goleiro Marcos foi um dos mais ardorosos defensores desta tese. Para o atleta do Palmeiras, está claro que ""a seleção brasileira hoje é apenas mais uma". ""Não somos mais os favoritos, viramos meros coadjuvantes", comentou, acrescentando achar fundamental que a torcida e a imprensa comecem a aceitar a nova etapa.
""O Brasil tem uma história no futebol, mas eu não faço parte dela", chegou a dizer o goleiro, que demonstra muita preocupação com a partida de 15 de agosto, em Porto Alegre, contra o Paraguai. Se não vencer o jogo, os brasileiros poderão ficar, pela primeira vez nestas eliminatórias para a Copa de 2002, fora da zona de classificação. ""Eu já estou preocupado faz tempo [com a chance de ficar fora do Mundial". Nem pode passar por nossa cabeça perder", completou, defendendo que o time, mesmo em casa, atue com dez jogadores na defesa.
O atacante Jardel, outro que desembarcou em São Paulo, concorda com Marcos. ""Se a gente não tivesse mudado o esquema [de 3-5-2 para 4-4-2, alteração feita para o segundo tempo contra Honduras", a defesa não teria ficado tão aberta e daria para ter levado o jogo para os pênaltis."
A tese era a mesma de Denílson. O meia-atacante, esperado no aeroporto por familiares, acha que o esporte mudou muito nos últimos anos. Hoje, fora França e Argentina, as demais seleções estariam num nível muito parecido.
""Não dá para falar que o Brasil é superior a Honduras, Gana, Camarões... Se fosse assim, estaríamos vencendo sempre com facilidade, como acontecia no passado. Hoje qualquer país tem jogador na Europa e eu diria que, com pouquíssimas exceções, não existe mais jogo fácil."
Por isso mesmo, o volante Eduardo Costa, o primeiro a desembarcar, foi incisivo. Ao ser indagado se estava envergonhado pelo fiasco na Colômbia, respondeu: ""Eu teria vergonha se tivesse roubado ou matado alguém. Trabalhei com honestidade, vou sentir vergonha do quê?"
Foi o que também declarou Júnior, seu companheiro na equipe. ""Vergonha é roubar, é a fome e a violência que existem no Brasil, não a seleção. Uma derrota para Honduras não é uma tragédia, só seria se a gente não tivesse se esforçado. E esforço não faltou."
Se não faltou esforço, faltou o quê? ""Não sei, talvez talento, o que vocês quiserem, mas esforço não foi", disse Júnior. ""O que eu posso fazer se o futebol ficou nivelado e se como a seleção brasileira existem vários outros times?", perguntou.
Mesmo assim, no entanto, havia jogador que não conseguia esconder o constrangimento.
Foi o caso de Marcos e Guilherme. O goleiro e o atacante, mesmo defendendo que a seleção está "nivelada por baixo", dizem ter tido problemas com o fracasso.
O primeiro afirmou não ter conseguido pegar no sono por causa da derrota para Honduras. O segundo, que ainda não havia falado com os pais por telefone. "Fiquei com vergonha de ligar", admitiu Guilherme.


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